Criatividade à deriva
A criatividade não se força… é qualquer coisa que se aguarda… como abrir uma janela e esperar que ela apareça quando forçada consegue ser destrutiva
Imaginemos um universo infinito composto por galáxias, sistemas planetários e objectos até à micro escala em levitação agrupados pela gravidade num movimento sem fim
A viagem nasce da decisão de avançar e vencer a gravidade inicial rumo ao desconhecido para depois deixar-se levar pela infinitude de gravidades numa exploração contínua
A inquietude e o gosto pela descoberta são a primeira ignição – benditas as almas inquietas
cada lugar de chegada sempre novo ponto de partida
o comodismo e o gosto pelo quentinho matam
O desconhecido mete sempre algum pouco ou nenhum medo
o medo da derrota é o principal inimigo….
O (bom) medo tem a virtude de provocar alguma adrenalina
Adoro as pessoas que têm algum medo no passo para o mergulho….
a coragem não tem a ver com a ausência do medo
A capacidade de enfrentar o desconhecido da travessia e a desinformação sobre o local de chegada a sobrevivência no caos e a seguir outro caos é uma boa escola
Imaginemos agora uma alma mais ou menos cândida mas curiosa interessada atenta com sentido crítico e apenas adormecida… quando dorme
Esta alma alimenta-se a toda a hora daquilo que toca vê saboreia cheira e ouve só uma alma experimentadora é que consegue ganhar experiência já não sei quem é que dizia que cultura é aquilo que fica depois de se esquecer aquilo que se aprendeu
Acrescento que experiência é aquilo que fica depois de se esquecer o que se experimentou
Saber apreciar abre novas janelas
A criatividade não se força… é qualquer coisa que se aguarda… como abrir uma janela e esperar que ela apareça quando forçada consegue ser destrutiva
Mas a experiência essa sim deve ser forçada todos os dias a toda a hora com tudo e com toda a gente a experiência é ‘madre’ da criatividade
A experiência torna-se inócua… desculpem: tóxica! Se não existir sentido crítico, curiosidade, gosto de querer saber e gosto de querer fazer e muito importante: se não forem estimulados os 5 sentidos
O contágio com a matéria – mediado pelos sentidos e experiências anteriores – fundamenta a vocação e a formação do arquitecto na medida em que todo o seu trabalho intelectual futuro terá por missão a elaboração de formulações que visam reconstruir matéria de acordo com uma função um contexto e um objectivo muito concretos. O urbanista apenas trabalha a uma escala maior e quando assim não é – quando o poder de abstração descola do cheiro da matéria – não vai conseguir humanizar a cidade
Estava a escola Bauhaus certíssima ao basear a formação dos arquitectos na estreita ligação entre as várias artes e ofícios promovendo o contacto e a experiência em primeiro lugar, levando esta estratégia ao extremo do adiar o estudo da História para fases posteriores para não influenciar/condicionar no início a capacidade e a disponibilidade para entender a crueza da matéria
Esta ‘fome´ de ligação à matéria através das mais diversas formas como sejam o desenho, a escultura e todas as artes e ofícios é um tópico tipicamente mais associado ao estímulo da criatividade no território da arquitectura e das artes mas apenas porque – aqui – existe justificadamente uma expectativa com carácter de exigência sobre a criatividade, mas o poder da criatividade em termos genéricos não deve ser nem é exclusivo das artes…. aplica-se a todas as acções humanas na medida em que no limite é um alargador de horizontes de círculos e de poliedros em que está desenhado o nosso cérebro
A importância da co-criatividade. Na realidade se a criatividade nasce de uma provocação em que o criador convoca uma infinitude de estímulos externos – a experiência – porque não convocar também para o acto criativo outros além de nós? Não é esta uma fórmula inteligente de aumentar o espectro de estímulos que estão na génese de um acto criativo?
Um líder que desaproveita esta dádiva tem outros assuntos noutros departamentos por resolver
NOTA: O autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico