Afinal de que nos serve a arquitectura?
Acredito convictamente que temos de reforçar a ideia que o Homem tem a obrigação de se observar num espectro abrangente, amplo – saber ver ao longe – pois o exercício da profissão em arquitectura, não é, nem pode ser limitado às idiossincrasias de um indivíduo ou de um grupo ou mesmo de instituições governamentais
![Marco Paz](https://backoffice.construir.pt/app/uploads/2024/12/Marco-Paz-peq-120x120.jpg)
“Os estóicos faziam consistir quase toda a filosofia em conhecer-se a si mesmos. A vida, diziam eles, não era suficientemente longa para um tal estudo. Essa norma foi transmitida às escolas e figurou no frontispício dos templos; mas não era nada difícil perceber que aqueles que aconselhavam os seus discípulos a conhecerem-se a si mesmos, não se conheciam.
Os meios que empregavam para o conseguir, tornavam a norma inútil: pretendiam que se examinassem constantemente, como se se pudessem conhecer dessa forma.
Os homens observam-se demasiado de perto para que se vejam tal como são. Como se apercebem apenas das suas virtudes e vícios através do seu amor próprio que tudo embeleza, são sempre testemunhos infiéis e juízes corruptos de si mesmos”.
Este pequeno excerto do Livro Essai sur le goût; Éloge de la sincerité, de Montesquieu, permite-me criar uma analogia com o tempo e com a condição presente.
Acredito convictamente que temos de reforçar a ideia que o Homem tem a obrigação de se observar num espectro abrangente, amplo – saber ver ao longe – pois o exercício da profissão em arquitectura, não é, nem pode ser limitado às idiossincrasias de um indivíduo ou de um grupo ou mesmo de instituições governamentais.
Somos parte de um todo e temos a obrigação, individual e em grupo, de promover a evolução do território.
Fazer arquitectura e urbanismo, não é só resolver ou dar cumprimento à infinita regulamentação, ainda dispersa, onde projectistas e instituições públicas mergulham numa atmosfera obscura, por vezes, sem noção do essencial e do nosso dever, é também e sobretudo elevar a responsabilidade em promover a qualidade do desenho do espaço físico – do território – e da capacidade em estabelecer pontes e diálogos entre o público e o privado, com fim à resposta sincera e profícua à qual nos propomos.
O exercício da profissão não é acessório nos orçamentos de estado ou nas directrizes institucionais ou governamentais, é sim um instrumento e conhecimento absolutamente fundamental na evolução do território – lugar onde desenvolvemos a nossa vida pessoal, profissional e social, e com estas competências fomentar a construção de uma sociedade transversalmente sólida, culta e enraizada.
Entendo esta profissão, árdua e desgastante, com uma enorme responsabilidade e seriedade, mas também com a consciência do risco em operar, em conjunto com a minha equipa, de forma directa na construção de um lugar onde ambicionamos que outros usufruam da dignidade que os espaços qualificados possam proporcionar na vida diária e comum de qualquer indivíduo.
Afinal de que nos serve a arquitectura?
Numa visão antropológica, naturalmente, a arquitectura serve-nos de abrigo, protecção e conforto, serve de base ou matriz onde a nossa vida se desenvolve. Pois a morfologia dos lugares e dos seus elementos estruturais e compositivos interferem decididamente nos comportamentos humanos e na qualidade de vida e ainda nos estímulos à evolução.