A certificação no mundo – ISO Survey
“A nossa experiência mostra-nos que nos mercados europeus mais exigentes a evidência da certificação dos produtos de construção é uma prática normal, sobretudo em relações B2B, contrariamente ao que ainda se passa no nosso país. (…) No entanto, quando se trata de exportação, aí sim verifica-se uma grande procura seja da certificação voluntária do produto seja da marcação CE, bem visível no crescimento do trabalho que temos sentido a este nível”
A ISO – Organização Internacional de Normalização acaba de divulgar o seu ISO Survey 2023 que analisa a situação e evolução de um conjunto de 15 normas internacionais, com especial relevo para as normas ISO 9001:2015 (sistemas de gestão da qualidade), ISO 14001 (sistemas de gestão ambiental) e ISO 45001:2015 ( sistemas de gestão da saúde e segurança no trabalho), diagnóstico que aproveitamos para trazer aqui o panorama destas certificações, bem como o seu resultado ao nível do código IAF da construção.
Além do interesse em saber os números de cada país o survey dá-nos a possibilidade de perceber a relação com os países onde as empresas têm os seus principais parceiros e concorrentes, bem como a comparação com países de dimensão semelhante. Este ano, contudo, não vamos avançar por este caminho uma vez que, como alerta a ISO, a China, o país com maior número de certificados, não conseguiu fornecer os seus dados, da mesma forma que em países como a Alemanha, UK, India e EUA houve falha nas respostas de vários organismos de certificação, enquanto que da Itália, Roménia, Polónia e Coreia chegou a participação de um maior número de organismos. Estes factos levam-nos a optar por não fazer a habitual comparação mundial porque não seria fiável.
Não podemos deixar de lamentar que muitos organismos não respondam atempadamente a este importante survey que a ISO lança há vários anos, mas, também, não podemos deixar de criticar pelo facto de só em setembro serem divulgados dados relativos ao ano anterior.
No entanto, a ISO apresenta, paralelamente, um exercício que pode mostrar alguma tendência, uma vez que compara apenas os dados fornecidos pelos organismos que responderam em 2022 e 2023. As variações positivas para as normas ISO 14001 e ISO 45001 seguem a tendência dos últimos anos, enquanto que na ISO 9001 se verifica uma redução no número de certificados.
Curiosamente em Portugal, e comparando também apenas os organismos que responderam nos dois anos verificou-se um crescimento em todas as normas. Na ISO 9001 foram contabilizados 6.209 certificados, na ISO 14001 houve 1533 e na ISO 45001 foram registados 836 certificados. Na comparação com o ano anterior estamos certos que as subidas verificadas se deveram a uma maior participação dos organismos de certificação, contrariamente ao verificado em 2022.
Analisando agora o código 28 do IAF, relativo ao setor da construção, e tendo em conta que os números globais não integram os países com maior número de certificados, os valores apurados a nível mundial foram de 49707 na ISO 9001, de 27366 na ISO 14001 e 21467 na ISO 45001. De realçar a grande aproximação dos valores da saúde e segurança no trabalho e do ambiente, o que demonstra a preocupação que os sistemas de segurança no trabalho têm para o setor. No que refere a Portugal no código 28 IAF foram contabilizados 634 certificados na ISO 9001, e na ISO 14001 e ISO 45001 os valores muitos próximos de 175 e 154, respetivamente, seguindo a tendência verificada a nível mundial.
Relativamente à certificação de produtos não existem surveys, o que seria difícil a nível mundial face à diversidade de conteúdos de normas, mas nem mesmo se encontram ao nível europeu onde existem muitas normas europeias seguidas pelos diferentes países. É pena, porque os materiais de construção, a par dos elétricos, representam a grande parte das certificações. Acresce que, no que se refere aos produtos de construção, muitos têm relevância estrutural o que coloca ainda maior pressão na necessidade da sua conformidade, o que não será irrelevante para a importância da sua avaliação da conformidade.
A nossa experiência mostra-nos que nos mercados europeus mais exigentes a evidência da certificação dos produtos de construção é uma prática normal, sobretudo em relações B2B, contrariamente ao que ainda se passa no nosso país. Não podemos esquecer que existe uma vasta gama de produtos que têm a obrigatoriedade da marcação CE no cumprimento do regulamento dos Produtos de Construção e que existe uma enorme oferta no mercado de produtos que não cumprem este requisito. No entanto, quando se trata de exportação, aí sim verifica-se uma grande procura seja da certificação voluntária do produto seja da marcação CE, bem visível no crescimento do trabalho que temos sentido a este nível.
NOTA: O Autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico