“Vamos continuar na Alta de Lisboa com um novo investimento de 300M€”
Quase 10 anos depois de iniciarem a sua actividade, a Solyd Properties adaptou a sua estratégia às necessidades do mercado. Posiciona-se como um promotor de ‘mini-cidades’ para a classe média, com o foco no bem-estar e na qualidade. É também um dos primeiros promotores a ter políticas muito concretas de ESG e a criar uma estratégia de actuação em torno desses objectivos, onde acredita que a construção off-site vem dar respostas a muitos destes desafios
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Ao CONSTRUIR, Gonçalo Cadete, co-fundador da Estoril Capital Partners e chief executive officer da Solyd Property Developers revelou os investimentos previstos em novos projectos na Alta de Lisboa e em Loures, assim como a intenção de recuperar uma ideia já antiga – o Built to Rent
Na promoção imobiliária desde 2015, ou seja, quase 10 anos depois de terem iniciado a vossa actividade, que balanço fazem?
Na verdade, para ser mesmo correcto, começámos em 2014. E começámos como Estoril Capital Partners no dia 3 de Julho, sendo que, no entanto, o primeiro investimento só foi formalizado em Maio de 2015. Entretanto, em Portugal, estávamos a sair da crise depois de anos muito complicados como foram 2012, 2013 e 2014 e começou a haver alguma actividade de reabilitação. Já existiam pelo menos dois promotores mais especializados que tinham começado a comprar e a desenvolver projectos. E, nesse sentido, achamos que era uma área onde valia a pena investir.
Começámos, então, em 2015, na reabilitação a fazer o percurso normal: comprar edifícios degradados ou em mau estado e depois reabilitá-los. Os primeiros projectos foram em Lisboa e no Monte Estoril.
Houve, portanto, uma primeira fase da nossa existência, digamos assim, onde apostámos nesse tipo de projectos, até 2019. Entretanto, começámos a ter uma perspectiva de escala diferente e que não seria possível com projectos de reabilitação no centro das cidades, onde no, máximo, conseguíamos ter 40 apartamentos. Até porque o nosso parceiro, a Oaktree, enquanto investidor institucional, precisava de um volume de investimento, que se tornava mais difícil atingir apenas com projectos de reabilitação.
Então, a partir de 2018, pensámos que o mercado estava a ficar um bocado saturado. Era um mercado que estava muito dependente dos compradores estrangeiros e dos Golden Visa. Foi quando pensámos: “Vamos diversificar”. Começámos, então, a olhar para construção nova, para o segmento médio, médio-alto. Havia muita disponibilidade de terrenos, custos de entrada bastante baixos e um desequilíbrio brutal entre procura e oferta.
No fundo, isso acabou por ser um percurso natural do vosso crescimento também, não é?
Sim. No fundo, perante uma análise dos diferentes segmentos de residencial, obviamente que nós começámos a desenvolver esta expertise. Na nossa equipa, todos tínhamos experiência, fosse na óptica do investidor, ou na óptica mesmo do promotor e do desenvolvimento ou da gestão imobiliária, mas, como empresa digamos, de promoção, não tínhamos.
Começámos na reabilitação e depois, então, foi muito natural evoluir para a construção nova porque, lá está, em busca de escala, em busca de um segmento de mercado onde, estruturalmente, houvesse um maior desequilíbrio entre procura e oferta e onde pudéssemos investir com escala e com margem. E também, de alguma forma, responder a uma necessidade do mercado, que se irá continuar a verificar.
Sim, até porque este tipo de projectos têm de ser pensados, também, a longo prazo…
Sim. Isso é uma questão que nós temos tido no nosso País, enfim, e que agora temos esperança, que com o novo Governo e o Simplex estes processos possam ser melhorados. A verdade é que temos tido sempre uma instabilidade legislativa relativamente grande, à qual se junta a questão de processos de licenciamento muito longos.
É curioso que quando começámos e, porque ainda havia poucos projectos a vir para o mercado ou em processo de licenciamento, as câmaras eram muito rápidas. Mas depois, rapidamente, entupiram e os processos começaram a demorar muito tempo e, obviamente, isso é muito frustrante na óptica do ciclo de desenvolvimento do projecto e que leva, muitas vezes, à necessidade de rever os planos de investimentos.
Como se posicionam neste momento no mercado?
A nossa estratégia tem sido ir ao encontro das necessidades do mercado. Iniciamos no segmento alto, com a reabilitação. Depois o empreendimento Mirear, em Miraflores é para um segmento, claramente, de classe média alta. O Altear é classe também média / média alta, eu diria, abaixo desta. E Loures, Santo António dos Cavaleiros, claramente, segmento mais médio.
Mas o nosso desígnio é ir ao encontro, digamos, da maior massa de portugueses, que são famílias de classe média. E, portanto, estamos muito atentos aos programas todos das câmaras, do Governo, e o nosso desígnio é ir nesse sentido.
Quando entraram no mercado da habitação nova começaram a ter projectos apenas em Lisboa ou na Grande Lisboa. O que procuram quando desenvolvem um projecto?
Não temos muitas localizações, mas nas localizações onde estamos, temos uma dimensão significativa e, de alguma forma, dominamos ou somos o promotor preponderante nessa localização. E, sim, tem sido de facto uma estratégia.
A ideia é escolher uma localização que vá ao encontro, digamos, das tendências, tendências estas que até acabaram por ser muito acentuadas com o Covid, ou seja, o facto de as pessoas passarem cada vez mais tempo nas suas casas.
Não só em lazer, mas também a trabalhar, portanto, em inglês, ‘homification’, em que a casa passou a ter uma importância muito maior do que tinha.
Para nós que fazemos habitação nova, esta tem que ser confortável e tem que oferecer uma série de infraestruturas que permitam também tornar essa vivência mais agradável. Por estes motivos faz-nos sentido apostar em projectos maiores.
No fundo, como uma ‘mini cidade’ ou as chamadas cidades dos 15 minutos…
Exactamente. Sim, no fundo é que tentamos recriar. Para a Solyd este conceito já é o presente. Temos de olhar para a localização e pensar no que se consegue criar nessa localização, tanto na nossa casa como na infraestrutura do condomínio e na envolvente.
Por exemplo, o Mirear, aqui em Miraflores. De um lado temos um parque municipal, de outro lado temos Monsanto, perfeitamente acessível, porque tem uma passagem subterrânea. Ao mesmo tempo, no que diz respeito ao condomínio, temos uma série de infraestruturas que nos permite, se quisermos, sair de casa e estar a trabalhar no condomínio, ou ir dar um mergulho numa piscina, ou ir correr no ginásio, e depois, ao mesmo tempo, na nossa casa, temos varandas muito grandes, janelas com vãos também muito generosas e, portanto, eu estou em casa, mas tenho quase um prolongamento para a rua, obviamente, numa lógica de apartamentos, que é o que nós fazemos.
Estamos sempre a olhar para novas localizações nesta lógica e em zonas que permitam, também uma lógica de continuidade, como é o caso da Alta de Lisboa, que se desenvolveu muito a partir do momento que começámos ali a construir, em particular porque estamos numa área que percepcionada como sendo pouco segura e que estava abandonada há anos.
Em que fase se encontra actualmente o Altear?
O Altear conta com 10 edifícios, dos quais sete já estão concluídos e entregues. Temos um que até ao final do ano ficará, também, concluído e depois vamos ter mais dois. São no total 536 apartamentos e 27 espaços comerciais e está praticamente todo vendido. Temos muito poucas unidades que restam no Altear Jardins 1 e 2, que são os últimos dois edifícios que ainda se encontram, digamos, numa fase intermédia de construção. A ideia é, que até ao próximo ano, consigamos entregar a totalidade dos dez edifícios.
E prevêem continuar a investir na Alta de Lisboa?
Sim, na realidade vamos avançar para uma segunda fase do Altear e que será ainda maior. Prevemos um investimento na ordem dos 300 milhões de euros [o do Altear I foi de 225 milhões de euros], porque se trata de um plano ainda maior, mas que neste momento se encontra em diferentes fases de licenciamento.
Dado que o vosso plano de construção nova continua, que outras localizações vos poderiam, igualmente, despertar interesse?
Eu diria que não somos um promotor do centro de Lisboa e indo ao encontro da ideia de fazer empreendimentos para o segmento de classe média alta e de classe média, com as tais características que já falámos, procuramos localizações na periferia, nomeadamente Área Metropolitana de Lisboa, tanto na margem Norte como na margem Sul.
Zonas com uma boa rede de transportes, educação, saúde, serviços, que tenham escala e que permitam, no fundo, desenvolver de forma continuada, para o futuro, a localização.
Neste sentido, ainda temos capacidade para desenvolver mais projectos tanto na Alta de Lisboa, como em Santo António dos Cavaleiros, onde temos o Élou.
Como é que se processa essa continuidade?
Vamos comprando lotes, vamos aprovando projectos e vamos desenvolvendo. Nós temos o desígnio, mas, enfim, como gostamos de fazer as coisas de forma
sustentada e já analisámos várias oportunidades, mas nunca acabámos por concretizar, tanto na área Metropolitana do Porto, como no Algarve. Mas, portanto, vemo-nos nessas três localizações.
Os vossos projectos têm, também, uma grande preocupação com sustentabilidade e a mobilidade. De que forma estes aspectos são hoje determinantes para o tipo de habitação que querem desenvolver?
Tentamos, por um lado, que as infraestruturas de transporte sejam muito boas e depois também apostar em tudo o que é mobilidade eléctrica. Em todos os nossos empreendimentos temos pré-instalação para a instalação de carregadores eléctricos e gestão inteligente desses carregadores.
Claro, hoje há todo um novo paradigma ao qual não é possível ficar alheio. Aliás, temos uma parceria com a EDP para termos acesso às soluções mais sofisticadas, tanto a nível de carregamento, como depois da gestão.
E essa parceria está presente em todos os vossos empreendimentos?
Sim, em todos eles. Há uma preocupação grande a vários níveis. Por um lado, com a eficiência energética e neste sentido, o Élou é NZEB. Não obstante, tratar-se de um projecto para a classe média, existe um conjunto de equipamentos como painéis solares, bombas de calor, elevadores de alto rendimento, com poupança de energia e que geram a sua própria energia no movimento descendente. Também os revestimentos, assim como as caixilharias com todas as janelas a apresentarem um comportamento térmico e acústico também de elevado desempenho.
Por exemplo, o tema da água e da poupança da água é importantíssimo e neste capítulo temos uma parceria com a Grohe, já que é uma empresa que têm uma serie de sistemas com poupanças de até 70% do consumo de água. Por exemplo, os chuveiros têm injecção de ar para terem pressão e, ao mesmo tempo, consumir menos água, sem que se perca a experiência do duche.
Depois, temos também uma preocupação muito grande ao nível dos resíduos, da utilização de materiais reciclados e que possam, por sua vez, ser também recicláveis. Este aspecto está cada vez mais presente nos nossos projectos, até porque somos dos poucos promotores com relatórios de sustentabilidade publicados e onde detalhamos tudo o que fazemos em termos de sustentabilidade e ESG.
Como é que isso se traduz na prática?
Por exemplo, todos os nossos contratos com os empreiteiros, com os fornecedores, têm uma série de cláusulas que obrigam à gestão de resíduos, a uma série de preocupações, também, com a mão de obra. Portanto, com todas as fases. Temos, também, promovido, a industrialização, tanto fora, como na própria obra. Para quê? Para termos menos resíduos, para aumentar o nível de reciclagem.
Existe uma série de medidas que vão no sentido de fazer com que haja menos emissões, menos resíduos, um tratamento muito mais eficaz desses resíduos, uma incorporação muito maior de materiais reciclados e recicláveis.
E, depois, uma série de componentes de eficiência energética, tanto ao nível da electricidade, como quanto à água. A incorporação de bombas de calor, painéis solares ou fotovoltaicos. Somos um promotor com uma grande preocupação técnica. Mais de metade da nossa equipa são engenheiros e arquitectos, o que acaba por nos dar outra visão dos projectos.
O que é que muda?
Temos muito cuidado com os projectos, com a contratação desses projectos, com o acompanhamento próximo dos empreiteiros e do produto final. O facto de fazermos parte de uma organização internacional, imputa-nos essa responsabilidade. Estamos agora a preparar o nosso terceiro relatório. Tudo isto é um processo, em que estamos continuamente a melhorar.
Mas ter poucos projectos também nos permite ter um maior impacto, uma maior intervenção no próprio território. E trabalhar com as várias entidades. E fazer a diferença no fim do dia. É isso que nós queremos.
Há aqui uma ‘democratização’ da qualidade?
Exactamente. Ou seja, não estamos a fazer um produto diferente só porque tenho públicos-alvo diferentes, seja em termos de conceito arquitectónica, seja ao nível das comodidades, das áreas ou dos materiais. Queremos padronizar e julgo que neste caso a industrialização veio dar um importante impulso.
Acompanhar as diferentes tendências, tanto em termos de materiais, como de industrialização e de padronização, permite ir nesse sentido?
Porque é que para nós a escala é importante? Obviamente, é nesta perspectiva de criar cidade, mas também é no sentido de ter uma escala grande que permita diluir os custos e, portanto, permite-nos também ter um melhor produto.
Sabemos que os custos de construção têm um peso enorme e que isso se reflecte no preço final. É muito mais difícil oferecer o produto de Loures ao preço que está, do que o preço em Miraflores. É por isso que poucos promotores investem nesse segmento.
É necessário fazer uma grande gestão ao nível dos custos e a industrialização permite-nos isso. Por exemplo, no Élou o desafio foi criar um produto funcionalmente muito agradável e com padrão alto e por isso desenvolvemos um projecto em que determinados elementos pudessem ser padronizados. Isto acontece, por exemplo, ao nível de todas as grades das varandas ou com os armários ou, até, com as casas de banho que são pré-fabricadas e instaladas posteriormente.
Há um conjunto de técnicas industriais e de escolha de materiais modernos que fazem com que a percepção seja de grande qualidade, tanto em termos de durabilidade e que, ao mesmo tempo, seja eficiente em termos de custos.
Nós começámos os ensaios no segmento alto, mas queremos ir, cada vez mais, para um segmento popular, mas não é uma coisa muito fácil de fazer. É uma discussão que temos muitas vezes com as Câmaras, muitas vezes com os bancos e que todas essas entidades nos têm apoiado neste movimento, mas é um desafio.
Sobre o Simplex, como olham para as alterações que este programa está a trazer?
Estamos todos bastante optimistas. Mas da nossa parte, que temos projectos com dimensão e que, por isso, desenvolvemos uma relação relevante com as Câmaras, mas também com os bancos, que não se irá alterar com estes novos processos.
Obviamente que, tudo o que diminua prazos de licenciamento, de regulamentações e de procedimentos é muito positivo para o mercado.
Também ao nível da exigência de um maior acompanhamento da obra não nos parece problemático, até porque na maior parte dos financiamentos bancários, já tínhamos fiscalização externa alinhada com as entidades financiadoras.
Mas isso já existe noutros países, já é assim noutros países, e de alguma forma também era o que a indústria pedia há muitos anos. No fundo, há aqui algumas ‘dores de crescimento’, mas que é normal.
Ainda no residencial, que outros segmentos não descartam e que é uma possibilidade de investimento?
Há um que é natural e que nós, no fundo, estamos a analisar. No passado até dissemos que gostávamos de entrar, que é o Build to Rent. Portanto, o desenvolvimento de projectos voltados para arrendamento.
A rentabilidade desses projectos é mais baixa do que o Build to Sell, portanto, de projectos para venda. E, portanto, quer dizer, quando nós pesamos na balança, tem sido economicamente muito mais favorável. Mas é qualquer coisa que está no nosso radar e não descartamos, inclusivamente, fazer um piloto para ensaiar um projecto para arrendamento.
E procuram alguma parceria para esse tipo de projecto?
Não, não. Nós temos as competências para fazer. E depois o que acontece, tipicamente, é que esses projectos, depois de estarem feitos e com os apartamentos arrendados, são adquiridos por investidores institucionais, como seguradoras, fundos de pensões, esse tipo.