À boleia da sustentabilidade e da eficiência energética
Nestes dois últimos anos, assistimos a um aumento significativo no uso da tecnologia e da transformação digital. O aperfeiçoamento da inteligência artificial, a internet das coisas, as Apps e a nuvem, entre outras, permitiram uma maior ligação e uma mudança significativa no modo como nos relacionamos, comunicamos, trabalhamos e como interagimos com o mundo. Falámos com um conjunto de empresas – Schneider Electric, JUNG, Morgado & Ca, OBO Bettermann e SIMON – que nos deu o seu testemunho sobre os desafios e oportunidades que esta nova era trouxe e sobre as tendências que irão marcar os próximos anos
Manuela Sousa Guerreiro
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“Com a chegada da pandemia assistimos a uma tremenda aceleração da transformação digital e agora, com a situação geopolítica, deparamo-nos com a necessidade de reduzir o consumo e conseguir uma maior eficiência energética. Esta aceleração tecnológica trouxe maior conectividade a todas as áreas, o que impulsionou uma maior eficiência na gestão de energia e permitiu a criação de soluções mais inteligentes e sustentáveis, baseadas em IoT e no recurso à análise de dados”, resume Patrícia Pimenta, vice-president Home & Distribuition Iberia, da Schneider Electric. Neste sentido, nos próximos anos espera-se uma implementação massiva de tecnologias que possibilitem um maior controlo do consumo para conseguir maiores eficiência e flexibilidade energética.
A sustentabilidade e a eficiência energética têm estado no centro do desenvolvimento de produtos do grupo há muitos anos, mas responsável identifica outra das principais tendências: a procura de soluções integrais. “Na Schneider Electric já não pensamos em vender um produto ou serviço, mas sim em oferecer aos consumidores soluções completas para uma gestão eficiente – seja de uma casa, de um edifício comercial ou de escritórios, entre outros”, sublinha Patrícia Pimenta. Por outro lado, a aceleração da digitalização está a impulsionar tecnologias, como as microgrids, que nos permitem progredir na descarbonização dos sectores da indústria e dos edifícios com uma abordagem de “energia como serviço”, um modelo que facilita não apenas a poupança de custos, como a digitalização e a flexibilidade.
Portugal não foge à tendência. “Actualmente o mercado da construção em geral tem uma grande oportunidade para desenvolver negócios em torno da digitalização – de facto, estima-se que esta poderá reduzir o consumo de energia dos edifícios em até 60%. Por outro lado, é fundamental melhorar o conforto e a habitabilidade dos utilizadores, bem como integrar os veículos eléctricos e sistemas de geração de energia renovável, como as microgrids, nos edifícios”, refere.
É esta transformação do sector dos edifícios “que nos vai permitir garantir a sua longevidade sustentável, e para nós não é concebível sem a digitalização, que vai obrigatoriamente ter de acelerar nos próximos anos, não só em Portugal como em toda a Europa, devido ao actual contexto energético e aos compromissos de sustentabilidade acordados pela UE.
JUNG lança JUNG HOME
António Andrade, director geral da JUNG confirma a tendência. “Praticamente todos os promotores imobiliários têm uma grande preocupação e sensibilidade pelo uso de materiais cada vez mais sustentáveis. Utilizar estes produtos representa uma importante contribuição para uma maior sustentabilidade na indústria da construção”, sustenta. “Por esta razão”, continua o responsável, “a JUNG submete os mecanismos e gamas de interruptores mais utilizados para a tecnologia de construção convencional e inteligente a uma certificação Cradle-to-Cradle, o padrão internacional para produtos sustentáveis”. Todas as gamas certificadas da JUNG são produzidas com energia renovável, podem ser separadas em tipos de materiais e, desta forma, podem ser adicionadas ao ciclo de reciclagem.
A construção atravessa uma fase de uso de materiais e métodos de construção inovadores que sejam menos poluentes e biodegradáveis. “Pensámos que a tendência será a utilização de sistemas que permitam interligar os diversos sistemas tecnológicos de uma habitação, mas que utilizem a actual rede eléctrica. “Estamos em fase de lançamento do sistema JUNG HOME em que desenvolvemos um sistema simples e mais económico com base no sistema Bluetooth Mesh com o qual pode tornar a sua casa inteligente”, avança António Andrade. O sistema está baseado na instalação convencional de 230V, pode facilmente retirar um interruptor e substituir por um dispositivo JUNG HOME, que são transmissores e receptores ao mesmo tempo. Eles comunicam entre si com um alto nível de encriptação. Isso permite uma comunicação que vai significativamente para além do alcance directo sem fios. Bluetooth Mesh funciona completamente sem Internet ou servidor. O controlo de iluminação, sombreamento, climatização, visualização via APP e controlo por voz são os requisitos básicos desde sistema.
“Nos próximos anos vamos assistir a uma revolução na componente eléctrica utilizada nos edifícios e consequentemente a uma democratização da domótica. Não faz sentido estarmos todos preocupados com factores de sustentabilidade e continuarmos a ter habitações com o mesmo tipo de instalação usada nos anos 70 e 80, com uma instalação de simples interruptores, com zero tecnologia!”, reforça o responsável da JUNG. “Alguém actualmente compraria um automóvel sem vidros eléctricos? Não! Como é possível não existir este tipo de preocupações pela maior parte dos consumidores finais?”, questiona.
A empresa tem estado envolvida em alguns dos mais recentes empreendimentos no mercado como a A Tower, Palacete Maria Pia, Villa Unika, Bom Sucesso Residence, e ainda o W Hotel e ampliação do Six Senses Douro Valley. “Estamos a terminar um dos mais emblemáticos condomínios de luxo em Portugal que já é um dos ícones da arquitectura em Portugal e onde vão ser instalados cerca de 4.000 componente de KNX em 195 apartamentos. É obra!”.
Como última novidade a JUG apresenta o LS TOUCH – o controlador de zona KNX inteligente. Um dispositivo para numerosas funções em que desenvolvemos ainda mais o acesso a funções de KNX. Concebido como controlador de zona inteligente, permite o comando de todas as funções dentro de uma divisão, reduzindo simultaneamente o número de unidades de comando necessárias.
Morgado Ca: Há espaço para a Domótica crescer em Portugal
O crescimento da construção e o segmento imobiliário é uma das faces mais visíveis das mudanças significativas que o mercado português têm vivido nos últimos anos, especialmente no que diz respeito à digitalização e à inovação tecnológica. “O mercado tem-se mostrado favorável ao surgimento de novas soluções tecnologias, o que tem impulsionado o desenvolvimento de diversos sectores, incluindo a domótica” refere Filipe Morgado, CEO da Morgado & Ca. Mas, no que respeita à domótica em Portugal, “ainda há muito espaço para crescimento”. “Um dos principais factores que tem impulsionado a adopção da domótica em Portugal é a necessidade de soluções mais eficientes e sustentáveis para o controlo e gestão energética, além da busca por maior conforto e segurança nos espaços residenciais e comerciais. Além disso, a crescente disponibilidade de dispositivos conectados e a evolução das redes de comunicação têm facilitado a implementação de soluções de domótica mais acessíveis e de fácil utilização”, explica o responsável.
No que respeita à evolução do mercado português na domótica, a tendência é um crescimento da oferta de soluções, que acompanha o desenvolvimento da tecnologia e a evolução das necessidades e expectativas dos consumidores. “Acredita-se que as soluções de automação residencial irão se tornar cada vez mais personalizadas e integradas, oferecendo um alto nível de conforto, segurança e eficiência energética, o que implica uma ampliação do seu público. Estima-se também que a adopção de soluções de domótica se expanda para além do mercado residencial, atingindo também o mercado empresarial e industrial”, refere Filipe Morgado.
Atenta, à evolução do mercado, a empresa iniciou “uma série de investimentos” por forma a aproveitar as oportunidades que o futuro próximo nos reserva. Entre as áreas que merecem a atenção estão o desenvolvimento de soluções de automação residencial; Investimentos em tecnologias de comunicação e conectividade e em energia renovável e eficiência energética;
Desenvolvimento de soluções de segurança das pessoas e dados. “A segurança é uma preocupação crescente para todos e a automação residencial oferece soluções mais avançadas para monitorizar e controlar os acessos. “A Morgado & Ca, em parceria com os seus players, há já algum tempo, iniciou um trabalho continuo na procura de soluções de segurança avançadas, com uma maior diversidade de tipologias de dispositivos, tais como câmaras de segurança, sistemas de reconhecimento facial, sensores de movimento e Cloud Security, ou seja, segurança de dados, que ajudam a criar soluções mais eficazes e seguras”, atalha Filipe Morgado.
OBO Bettermann: a aposta nas energias renováveis
O aumento do custo e a necessidade de mudança de fontes e políticas energéticas fazem com que a eficiência energética esteja no topo de todas as agendas. E está, seguramente, no topo das preocupações, e dos investimentos em I&D da OBO Bettermann. “O principal foco tem sido as soluções para instalações ligadas às energias renováveis, vamos ter importantes novidades nos próximos meses. Nos últimos anos, um dos principais drivers tem sido a sustentabilidade, sendo os materiais incorporados uma preocupação constante”, afirma Pedro Faria, director geral da OBO Bettermann em Portugal. “Na OBO estamos continuamente a trabalhar na transição digital, especialmente no apoio aos nossos parceiros, e a desenvolver ferramentas para facilitar e acelerar a utilização digital em todas as etapas de um projecto, como por exemplo com o OBO Construct (software de planeamento) e o BIM@OBO (Building Information Modeling Software)”, acrescenta o responsável.
Na opinião do gestor o mercado português está de “saúde, activo e dinâmico, e com maturidade suficiente para se ir adaptando a novas realidades”, sustenta. “Até 2022 registámos os anos de mais baixo investimento público, este ano e seguintes, com uma aparente quebra na confiança do investimento privado, por todo o panorama tanto geopolítico como de inflação, vai ser o investimento público a animar o mercado, via o tão propagado PRR. Estamos convencidos que a principal saída para a crise do mercado da habitação terá de ser o aumento significativo da construção, será certamente mais um forte “motor” nos próximos anos”, afirma Pedro Faria.
Convicto que uma melhor gestão e controlo por parte dos utilizadores só é possível com uma melhoria das conectividades e uma forte democratização da domótica, para Pedro Faria “o mercado não pode perder esta oportunidade soberana de fazer da domótica uma necessidade básica de todos nós”, defende. “O contexto actual “lança-nos novos desafios e aumenta a complexidade, e por isso estamos a investir tanto em recursos humanos como em infraestruturas para dar continuidade e melhorar todo o apoio da OBO ao mercado português, criando ainda mais proximidade e confiança com os nossos parceiros”, refere Pedro Faria.
SIMON: “O mercado português é super tecnológico”
“A domótica só faz sentido se estiver associada à melhoria da qualidade de vida das pessoas, a um preço acessível a todos e em linha com as exigências planetárias actuais, que levam inevitavelmente a uma maior eficiência energética” afirma Cristina Loureiro directora comercial da SIMON em Portugal. Foi também neste caminho que a Simon lançou no ano passado uma série que traz consigo um conceito de ‘Para melhorar, simplifica’ com a S270iO, que lhe valeu-lhe o Certificado Cradle to Cradle e o prémio IF Product Design na categoria Building Technology, precisamente por trazer a democratização da tecnologia sem descurar o meio ambiente, reduzindo o seu impacto ao essencial.
Para a multinacional, as tendências do mercado seguem “inevitavelmente” por soluções de conectividade que se “alinhem por completo com as ambiciosas metas ambientais europeias mas também que se ajustem à forte contracção da economia global”. Para Cristina Loureiro, “o mercado português é super tecnológico e muito à frente em matéria de soluções inovadoras, se acrescentarmos um clima de centenas de dias de sol por ano, a evolução passará por tornar a casa conectada de forma autónoma e mais eficiente energeticamente. A solução terá que passar por aproveitar ao máximo a energia produzida em cada habitação e geri-la de forma eficiente, e aqui falamos não só dos consumos diários convencionais de uma casa, como a iluminação, persianas, climatização, mas também o carregamento das viaturas eléctricas”.
Por isso a responsável antecipa “que teremos a muito curto prazo, uma gestão autónoma das nossas habitações através das aplicações conectivas, que permitirão reduzir a nossa dependência energética pois passarão a ser o nosso garante da eficiência ao mais alto nível sem necessidade da nossa intervenção permanente”.