Arq. José Mateus, Presidente da Trienal de Arquitectura de Lisboa 5.7.2017 © Luisa Ferreira
“A reflexão é o Mundo, a cidade de encontro é Lisboa”
Entre 29 de Setembro e 5 de Dezembro, Lisboa recebe a 6ª edição da Trienal de Arquitectura. Ao incidir na degradação das condições ambientais, alterações climáticas e todas as suas consequências globais, a Trienal procura um novo paradigma para o qual estão convocados, não só os arquitectos, mas também o público não especializado e a classe politica. Até Outubro decorrem as candidaturas para a curadoria da 7ª edição, a acontecer em 2025
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À Traço, José Mateus, presidente da Trienal de Arquitectura de Lisboa, falou sobre a importância desta edição que “direcciona o seu olhar para o mundo e que convida esse mundo para se encontrar em Lisboa”. Um “envolvimento planetário”, que se destaca pelo temas escolhidos, mas também nas equipas de curadores que escolhe e na exigência de alargamento geográfico. Esta edição é disso exemplo, que convoca as universidades de todo o Mundo, pela sua capacidade de investigação e cruza esse conhecimento com quem trabalha na profissão diariamente
Esta é a 6ª edição. Quais as principais diferenças em termos de evento das primeiras edições?
Essencialmente o tema, que é totalmente focado nas questões ambientais e sociais daí decorrentes. De resto, seguimos o modelo que fomos consolidando ao longo do amadurecimento da Trienal. Elegemos um tema fundamental em termos públicos ou disciplinares e com a equipa de curadores designados estabelecemos e partilhamos uma reflexão e um debate profundo dividido em diversos sub-temas, que correspondem às exposições principais. Como extensão e aprofundamento das exposições publicamos livros, que não são catálogos, mas estudos e reflexões mais densas e completas, que continuam a partilha do tema da Trienal após o seu encerramento. Depois, como sempre, temos os dias de debate com conferencistas indicados pelos diversos curadores, de forma a estabelecermos um debate que cruze os temas das várias exposições.
Uma particularidade desta edição é o facto do envolvimento das universidades ser transversal a todas as quatro exposições principais. No fundo, dada a extrema complexidade e urgência do tema desta edição, queríamos convocar e cruzar todo o conhecimento e capacidade de investigação que emana das universidades com o de quem trabalha na prática da profissão no dia-a-dia. Nas edições anteriores, o contributo das universidades debruçava-se sobre um tema específico e dava lugar a uma exposição com uma certa autonomia. Preferimos este modelo.
Um outro aspecto importante em termos de organização, é o facto de termos decidido que a sede da Trienal, o Palácio Sinel de Cordes, é o lugar principal para acolher os projectos independentes, que, pela sua grande variedade de abordagens e formato, vai tornar a nossa sede um espaço de encontro diário, de um dinamismo muito forte.
De resto, naturalmente que mais uma vez vamos atribuir, com a Fundação Millennium Bcp, os prémios Carreira; Début e Universidades.
Sintetizando, teremos 4 exposições, “Ciclos“ no CCB – Garagem Sul, “Retroactivar“ no MAAT, “Multiplicidade“ no MNAC e “Visionárias“ na Culturgest, todas elas acompanhadas de um livro cada e de um debate cruzado ao longo dos dias das Talk Talk Talk na Fundação Calouste Gulbenkian.
E em termos do seu efeito pós evento? Até que ponto a própria Trienal tem permitido determinar novos paradigmas sobre e para a arquitectura?
Diria que o “pós evento“, as consequências ou influência daquilo que apresentamos, será seguramente o que mais nos interessa. Mas, não nos interessa a arquitectura como disciplina isolada, que na realidade nunca o pode ser, como é o caso do tema desta edição.
Em termos disciplinares, o nosso objectivo é abordar os temas de uma forma profunda, crítica e credível em termos disciplinares, teóricos ou académicos e assim dar um contributo relevante para a nossa profissão. Por outro lado, interessa-nos estabelecer um contacto forte com o público não especializado, que inclui o público adulto, juvenil e infantil. A esse nível, temos cada vez mais uma programação extensa em termos de actividades pedagógicas ligadas às várias exposições e que estabelecem a ponte com essa grande diversidade de públicos. Mas, tudo isto interessa-nos porque só com conhecimento novo, partilhado, assimilado e entendido é que a sociedade se questiona a si própria e avança. Por isso é que é sempre muito importante mas em particular nesta edição chegarmos à classe política, que evidentemente tem um papel decisivo na mudança de paradigmas, como aquela que precisamos de activar nos dias de hoje face à degradação das condições ambientais, alterações climáticas e todas as suas consequências globais.
A Trienal é, de certa forma, um legado para as gerações futuras. O que gostaria de dizer a quem está agora a começar?
A arquitectura é uma profissão extraordinária, pois toca profundamente na vida das pessoas, mas que obriga a um trabalho permanente de aquisição de conhecimento, de experiência, que é consolidada combinando prática, investigação técnica e aprofundamento teórico. Mais do que antes, neste tempo em que a realidade avança a uma velocidade vertiginosa e em que a regeneração e manutenção do equilíbrio ambiental passam também muito pelo campo de trabalho dos arquitectos, a nossa profissão necessita do contributo de todos aqueles que tenham a capacidade para lhe dedicarem as suas vidas, de modo profundo. É um desafio muito exigente e difícil, que nos obriga a uma disposição de permanente aprendizagem, de questionamento de práticas e pensamento que antes eram para nós dados adquiridos, mas também por isso maravilhoso.
Pela diversidade de iniciativas que a Trienal abrange diria que mais do que ser a Trienal de Lisboa, é a Trienal do Mundo, sem fronteiras: É este o propósito destes eventos e será assim o seu futuro?
É a Trienal de Lisboa, que direcciona o seu olhar para o mundo e que convida esse mundo para se encontrar em Lisboa para escutar, partilhar, debater, estabelecer laços com a cidade e com quem nela se encontra em torno de um tema.
Sempre foi assim, mas gosto da expressão “Trienal do Mundo“, pois apesar de acontecer em Lisboa, envolve sempre contributos de gente de partes muito diversas do mundo e porque tem subjacente uma ideia de pertença, que é mais bela e com maior potencial nesse alargamento ao mundo. Somos uma Trienal que convoca esse envolvimento planetário, desde logo nos temas que elege, nas equipas de curadores que escolhe e na exigência de alargamento geográfico do projecto curatorial que debate e aprova. Esta edição, é um exemplo muito claro disso. Respondendo directamente à pergunta, sim, é esse o propósito destes eventos. Quanto ao futuro, afirmá-lo seria retirar espaço a quem nos sucederá na frente da Trienal, coisa que não gostaria de fazer.
Tendo em conta a dimensão da Trienal, existe a intenção de criar uma ramificação da mesma no Porto, à semelhança do que já é feito com a Open House, por exemplo?
Não temos intenção de criar uma ramificação da Trienal no Porto. Já analisámos no passado essa possibilidade, tal como em Madrid, Londres e Nova Iorque, mas percebemos que seria uma má estratégia, pois a dispersão de atenção operativa e de meios financeiros, que sempre são insuficientes, iria enfraquecer a clareza, intensidade e profundidade do trabalho que estamos a fazer em Lisboa. A reflexão é o Mundo, a cidade de encontro é Lisboa. Tal como acontece em Oslo, Veneza e em outras Bienais.
Alguma novidade para a edição de 2025?
Está lançado o call para apresentação de candidaturas à direcção curatorial da 7ª edição, que deverão ser entregues em Outubro. Como sempre, alargamos ao máximo possível o tempo para os curadores trabalharem. É a primeira condição fundamental para se conseguir assegurar qualidade, três anos de trabalho.