“Estudos mostram o excelente desempenho térmico do betão de cânhamo”
A aplicação do cânhamo na construção foi um dos temas em destaque no evento CannaPortugal 2022. O professor César Cardoso e a arquitecta Rute Eires apresentaram o processo de recuperação de uma casa-moinho com cânhamo e o seu bom desempenho enquanto regulador da humidade e da temperatura

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Actualmente professora do departamento de Engenharia Civil e membro do Centro de Território e Ambiente Construído da Universidade do Minho, foi em 2006 com a dissertação do mestrado que Rute Eiras estudou, pela primeira vez, o betão de cânhamo, também conhecido como “hempcrete”, naquela que “terá sido a primeira dissertação portuguesa a abordar o uso do cânhamo na construção”. À boleia de um maior interesse por materiais sustentáveis, também o interesse pelo cânhamo tem crescido. Neste sentido, Rute Eiras considera ser “a altura ideal” para dar um passo na transformação e passar a produzir este material também em Portugal.

Rute Eires
A falta de apoio tem sido o principal entrave para o crescimento da indústria do cânhamo em Portugal. “Todo o processo de separação da fibra do caule, sendo este último o utilizado no betão do cânhamo, requer muito investimento financeiro”, explica Rute Eires. O maior interesse neste material construtivo surge associado a um maior procura por materiais sustentáveis e, também, graças ao enquadramento que temos sobre as alterações climáticas que levou a uma mudança de mentalidade a nível global. Neste sentido, a arquitecta considera ser a “altura certa para concretizar o passo que falta na transformação e começar a ter cânhamo produzido em Portugal para ser utilizado na construção” e, desta forma, “tornar a matéria-prima um custo mais acessível e mais sustentável ainda”.
Não obstante, já é possível adquirir misturas de cânhamo para usar directamente em obra e também já existem blocos de betão de cânhamo produzidos em Portugal, ainda que com cânhamo importado nesta primeira fase.
Sustentável e Isolante
Tendo como principal vantagem a sustentabilidade, sobretudo se for produzido em Portugal, trata-se de um material “bastante isolante em termos térmicos e acústicos e tem que a capacidade de controlar a humidade do ambiente interior”. “Além disso, o betão de cânhamo capta dióxido de carbono e compostos poluentes do ar. Como tal, proporciona um ambiente saudável, confortável e reduz os gastos com aquecimento e arrefecimento.”, reforça Rute Eires.
Enquanto solução construtiva, esta apresenta-se, também, como opção relativamente fácil, já que “apenas precisa de reboco pelo lado exterior, sendo opcional, ter ou não revestimento pelo lado interior e não precisa de nenhum material de isolamento extra para cumprir o regulamento térmico, com apenas 20 cm de espessura mínima”.
Segundo alguns estudos, o cânhamo já foi aplicado na construção desde há cerca de 800 a.C. em argamassas em Ellora Caves, na India, também há referência ao seu uso numa ponte em França no Séc. VI. Hoje em dia, este material é utilizado em diversos edifícios contemporâneos e em reabilitações, em paredes, pisos e coberturas. É aplicado de diversas maneiras, compactado no local, em blocos ou projetado. Todavia, já existem estudos que mostram o excelente desempenho térmico do betão de cânhamo comparativamente à solução mais corrente de construção, a alvenaria de tijolo cerâmico, verificando-se, por exemplo, que durante o Inverno a temperatura dentro do edifício está 4◦C a 6◦C mais quente.
O bom desempenho do betão de cânhamo deve-se ao seu comportamento higrotérmico, ou seja, consegue regular a humidade e a temperatura do ambiente interior, tal como na construção em terra, mas com o cânhamo tem-se vantagem de se poder construir paredes com menor espessura.
O projecto da Casa-Moinho
A recuperação de uma casa-moinho, provavelmente da era medieval ou da idade moderna, cuja habitação no piso superior terá sido construída em 1928 e se encontrava em estado de degradação, foi um dos projectos em que utilizámos betão de cânhamo. O conceito de projecto foi de manter um compromisso entre o antigo e o contemporâneo, tanto nas técnicas de construção como nos detalhes de arquitectura. A opção pelo uso de materiais naturais e tecnologias de construção baseadas nas técnicas tradicionais tiveram influência na arquitectura, tendo sido considerados desde o início do projecto.
Deste modo, foi possível construir com paredes de espessura reduzida, mas mantendo um bom desempenho. A estrutura de madeira e taipa de fasquio continuam presentes, mas de uma forma mais contemporânea. O uso de betão leve de cânhamo industrial (cal com aparas de cânhamo industrial e fibras de celulose), seleccionado pelo excelente conforto térmico e acústico que proporciona, tem uma forte presença na casa, mantendo-se à vista em algumas paredes e no revestimento do tecto.