Multifamily na Europa atinge os 92 MM€ e influencia Portugal
A Savills identifica fortes fundamentos de mercado, taxas de juro reduzidas e a emergência de novos padrões de procura como os principais motores do crescimento desse segmento residencial nos 12 mercados observados. Portugal não deverá ficar imune
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Em 2021, o segmento de Multifamily na Europa recebeu um volume de investimento de aproximadamente 92,3 mil milhões de euros, um aumento de 79% face a 2020 e de 120% comparativamente à média dos últimos cinco anos.
Um crescimento impulsionado, sobretudo pelos grupos Vonovia e Heimstaden, na Alemanha, na Suécia e na Dinamarca que foram responsáveis por cerca de 40% do volume total de investimento no ano passado em Multifamily.
Segundo a análise da consultora imobiliária internacional Savills, que incidiu sobre 12 mercados europeus, a quota de mercado do segmento Multifamily atingiu os 54% na Dinamarca, 46% na Alemanha, 39% na Irlanda, 35% na Suécia e 32% na Finlândia, tendo superado os investimentos no segmento de escritórios, tradicionalmente no topo da lista de investimentos imobiliários.
“As alocações globais de capital para o mercado imobiliário europeu, em particular para o segmento Multifamily, estão a crescer, devido a fortes fundamentos de mercado e a baixas taxas de juro”, justifica Marcus Roberts, head of operational Capital Markets da Savills.
Quanto a 2022, o maior desafio para os investidores core será identificarem activos estabilizados, à medida que surgem mais oportunidades para novos desenvolvimentos e contratos de financiamento a prazo. Contudo, a escassez de mão-de-obra, o aumento dos custos de construção e disrupções nas cadeias de fornecimento irão provocar uma desaceleração de novos projectos.
Interesse no Multifamily comprime yields
Segundo a Savills, o aumento da concorrência neste segmento tem aumento a pressão sobre as yields. “As yields prime médias no segmento de Multifamily comprimiram 7 pontos base yoy na Europa Ocidental, tendo atingido um novo mínimo de 3,05%. Por outro lado, as yields prime líquidas em Multifamily são de 3% ou inferiores nas seis principais cidades alemãs (2,2%), em Amesterdão e em Paris (2,8%), em Copenhaga e em Madrid (3,0%). Na Europa de Leste, este valor ultrapassa a linha dos 4%”, refere a análise.
Assim, “é possível antever um aumento sem precedentes da procura por activos lucrativos, o que levará a um aumento correspondente dos preços. Esta subida deverá ser mais notória em mercados cuja oferta residencial para arrendamento não consiga acompanhar uma procura em crescendo.
As incertezas originadas pelo contexto pandémico, e que ainda estão bem presentes em múltiplos sectores económicos, irão impulsionar a procura por soluções residenciais de arrendamento. Contudo, a subida dos valores das rendas poderá não acontecer, de forma a corresponder, o melhor possível, às capacidades financeiras dos potenciais arrendatários.
“Um dos riscos em crescimento no sector do Multifamily é o endurecimento do contexto regulatório, que tem como objectivo proteger os ocupantes face ao aumento das rendas. Acreditamos que, embora estas medidas limitem as perspectivas de aumento das rendas, dão maior segurança aos arrendatários, e, assim, reduzem o risco de uma rotação frequente de inquilinos e adaptam-se melhor a estratégias core de investimento”, explica Eri Mitsostergiou, directora de European Research da Savills.
Novos modelos de trabalho que vieram para ficar, inclusive em Portugal
A pandemia fez surgir novos modelos de trabalho que alteraram, e continuam a alterar, o usufruto do espaço residencial, e um dos desafios dos proprietários passará pela adaptação dos imóveis às novas exigências dos ocupantes, mais focados em vectores como o bem-estar e a conveniência, fruto do aumento do tempo passado em casa.
Dados do Eurostat mostram que actualmente 12,3% dos trabalhadores estão inseridos em modelos de trabalho remoto, pelo que a casa assume uma importância acrescida e as valências residenciais devem corresponder às exigências dos novos “teletrabalhadores”. São cada vez mais as empresas que oferecem formatos de trabalho flexível, pelo que as transformações observadas durante o período alto da pandemia deverão manter-se, e o mercado terá que se reconfigurar em concordância.
Apesar dos novos modelos de trabalho à distância, uma porção da população não pode trabalhar a partir de casa, fruto da natureza das funções desempenhadas. Assim, a par da adaptação dos meios residenciais ao teletrabalho, deverá também existir a reconfiguração dos centros urbanos para criar uma maior oferta residencial mais económica e com acessibilidades melhoradas. Tal só deverá ser conseguido através da atracção de investidores privados, mediante a implementação de incentivos ao investimento.
Para a Savills, os projectos residenciais multifuncionais surgem, uma vez mais, como os ambientes ideais para o estabelecimento e desenvolvimento de comunidades. Esta tendência poderá criar espaço para o desenvolvimento de mais projectos do género, que, adicionalmente à vertente residencial, incluem valências que lhes conferem maior atractividade e resiliência, ao proporcionarem, por exemplo, soluções habitacionais mais económicas, lojas de conveniência, escritórios flexíveis e serviços de saúde e bem-estar.
A realidade actual potencia “a tempestade perfeita”, declara Alexandra Portugal Gomes, Head of Research da Savills Portugal. “Estão reunidos todos os fundamentos e pressupostos que justificam o potencial de desenvolvimento deste segmento no nosso mercado: mercado de crédito hipotecário cada vez mais inacessível às famílias portuguesas, subida das taxas de juro e um mercado de oferta de arrendamento muito escassa e de fraca qualidade face aos valores de renda praticados. São necessárias soluções urgentes, que não só venham modernizar o stock de edifícios residenciais, como também consigam responder às necessidades reais dos novos perfis de ocupantes”, refere a responsável.
Neste contexto, “é expectável que o Build-to-Rent em Portugal atraia maioritariamente jovens profissionais e casais, tanto locais como estrangeiros, que valorizem conveniência na forma de contratos flexíveis e menos burocracia, e, em alguns casos, preços mais económicos em edifícios bem localizados. A procura por habitação nas grandes áreas urbanas também se estende agora a áreas semiperiféricas de Lisboa e do Porto. Estas localizações oferecem oportunidades de desenvolvimento do mercado de BTR, desde que contem com acessibilidade a redes de transportes públicos e que o tamanho das unidades se possa adequar da melhor maneira a este modelo residencial”, explica Horácio Blum, operational capital markets Associate Director, da Savills Portugal