Mercado nacional no centro da estratégia da TPF Consultores
Carlos Baião é, desde Maio, presidente do Conselho de Administração da TPF Consultores de Engenharia e Arquitetura, empresa que celebra este ano quatro décadas de vida. 2020 e a situação de pandemia que vivemos volta a trocar as voltas à estratégia da empresa que em 2019 tinha no mercado externo 70% da sua actividade
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Carlos Baião é, desde Maio, presidente do Conselho de Administração da TPF Consultores de Engenharia e Arquitetura, empresa que celebra este ano quatro décadas de vida. O novo PCA assume as rédeas da empresa numa altura em que esta enfrenta o maior desafio da sua história.
Detida a 100% pelo grupo belga TPF, a empresa herdou ao longo dos últimos 40 anos a experiência acumulada de algumas das mais antigas empresas de engenharia nacionais que, ano após ano a foram integrando. A história da TPF Consultores de Engenharia e Arquitetura é uma história de sucesso mas também de sobrevivência.
2020 e a situação de pandemia que vivemos volta a trocar as voltas à estratégia da empresa que em 2019 tinha no mercado externo 70% da sua actividade. Sem pensar duas vezes, a estratégia da nova administração passa por um maior incremento da actividade no mercado nacional, de olho nas infraestruturas defendidas pelos planos de recuperação nacional e europeu e financiadas, maioritariamente por fundos europeus. A empresa não estará sozinha nesta estratégia mas a sua experiência pode fazer a diferença.
Como terminou o último ano fiscal para a TPF Consultores de Engenharia e Arquitetura e qual o peso da empresa no seio do grupo TPF?
A TPF Consultores facturou em 2019, em termos consolidados 28,2 milhões de euros. Nesse mesmo ano o Grupo TPF facturou 248 milhões de euros. Embora em termos de facturação o nosso peso tenha sido de 11,4%, em termos de EBITDA do Grupo TPF, foi de mais de 25%.
A última aquisição do grupo em Portugal, a Cenor em 2016, permitiu à empresa crescer quanto?
A aquisição em 2016 conduziu a um aumento de 30% a 60%, variando nos últimos quatro anos em função da menor ou maior exportação. No entanto, mais do que esses valores, a aquisição veio proporcionar uma dimensão internacional mais robusta à empresa, tendo, simultaneamente, alargado significativamente as nossas áreas técnicas de atuação, tornando-nos, actualmente, na maior empresa de consultoria nacional na actividade conjunta de engenharia e arquitectura.
Hoje estão presentes em quantos mercados? Qual o peso destes nas contas da empresa?
A TPF Consultores, para além do mercado nacional, está presente em Angola, Argélia, Camarões, Macau, Moçambique, Timor-Leste e Turquia, mas trabalhamos activamente no Brasil em parcerias com empresas do Grupo TPF, e actuamos de uma forma geral nos mercados onde vão surgindo as oportunidades, como sejam os exemplos de contratos em curso no Quénia e na Guiné Conacri, correspondendo o mercado internacional a cerca de 70% da nossa actividade.
Quantos colaboradores empregam?
A TPF Consultores, portuguesa, tem cerca de 310 colaboradores, incluindo participadas, e o Grupo integra cerca de 4000 colaboradores permanentes.
Quais as principais obras onde estão a operar?
No mercado internacional, trabalhamos sobretudo na área de instalações de saúde (hospitais), sistemas de abastecimento de água e de energia hídrica, em Angola, em infraestruturas de transporte (rodovias, ferrovias e sistemas de metro), na Argélia, em ordenamento e planeamento do território e em estudos de infraestruturas hidráulicas, em Moçambique, e no imobiliário, em Macau. Em Timor-Leste, nos Camarões e na Turquia trabalhamos em projectos diversificados, sejam na área das infraestruturas urbanas e rodoviárias, seja na área de instalações de saúde, ou, ainda, na área da engenharia geotécnica. Esta última área é também o caso do Brasil, onde temos vários contratos em curso de consultoria no sector mineiro.
A TPF Consultores é, actualmente, com grande probabilidade, a empresa portuguesa de engenharia e arquitetura mais pluridisciplinar, tendo profissionais permanentes que lhe permite intervir nas áreas de Edifícios, Estruturas e Instalações Técnicas, de Ambiente, de Hidráulica, de Desenvolvimento Agrícola, de Transportes, de Geologia e Geotécnia, bem como na Gestão e Fiscalização de Obras, tanto a nível de Engenharia como também de Arquitectura e da cada vez mais ativa modelação BIM.
De que forma está repartido o capital da empresa e qual o peso do Grupo TPF? Existe autonomia de decisão?
O capital da empresa é neste momento detido a 100% pelo Grupo TPF. Contudo, existe autonomia de decisão até ao limite que a própria administração da TPF Consultores entenda que a deve assumir. Por outras palavras, é com total naturalidade que a Administração coloca os problemas ao accionista sempre que entende que estes, pela sua delicadeza ou relevância no futuro da empresa, requerem a sua opinião ou intervenção.
A TPF Consultores integra o Comité Executivo do Grupo TPF, que reúne com frequência. No início de cada ano são estabelecidos os KPI estratégicos da empresa, sendo a gestão totalmente orientada para o seu cumprimento.
Como vêm o actual momento, do ponto de vista do sector onde actuam, e dos desafios que hoje se colocam, tendo em conta a vossa exposição ao mercado exterior?
O actual momento do nosso sector de atuação é critico e já nos acarretou graves problemas, principalmente em toda a actividade de exportação da empresa. O volume da nossa faturação no mercado internacional, no ano de 2019, correspondia a cerca de 70% e, este ano, dificilmente atingirá 50%. Estamos, de forma empenhada, a procurar adaptarmo-nos a esta nova realidade, sendo que, presentemente, o que verdadeiramente nos preocupa são as dívidas pendentes de pagamentos já vencidos que possuímos no exterior e a visível tendência para o respectivo pagamento se protelar, dadas as dificuldades sentidas pelos nossos diferentes clientes estrangeiros, quer privados quer do sector público.
Aumentar a presença no mercado nacional pode ser uma solução?
A procura da compensação da redução das exportações através do incremento de actividade no mercado nacional tem sido um objectivo estratégico da Administração, contudo, é necessário ter em consideração que as margens libertadas pela actividade no mercado nacional não são comparáveis com as de certos mercados exteriores, sendo na realidade bastante inferiores. Tal significa que, para a empresa apresentar resultados positivos semelhantes aos de anos anteriores, terá de angariar uma carteira de negócios substancialmente maior. Para que tal objectivo seja atingido muito se depende da implementação com sucesso do Plano de Recuperação Económica de Portugal, recentemente divulgado. Este Plano prevê um significativo incremento da actividade no sector onde nos inserimos, englobando os programas PT 2020, o Plano de Recuperação Europeu, bem como os fundos disponibilizados ao abrigo do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 europeu.
TPF Consultores: A herdeira da engenharia portuguesa
Contar a história da TPF Consultores é percorrer alguns dos marcos da engenharia do nosso país com intervenções em grandes projectos e obras. A história da TPF Consultores inicia-se em 1980, com a constituição da Planege, que resultou da cisão de uma empresa de consultoria de engenharia hidráulica, a Sanaqua. Ao longo de quatro décadas a empresa viria a agregar, por aquisição e fusão, várias entidades: a Partex-CE, a P&V, a ProSistemas, a Provia e, mais recentemente, a Cenor.
A Planege foi constituída com doze sócios, dos quais dez eram ex-acionistas da Sanaqua todos com capital accionista praticamente igual, ao jeito de uma cooperativa, tão em voga na altura.
De uma empresa que tinha iniciado a sua actividade no ramo praticamente exclusivo da engenharia sanitária e dos projectos de engenharia, o mercado encaminhou-a, aos poucos, para a área pluridisciplinar de coordenação e fiscalização de obras. Durante um largo período de tempo e até uma nova fase, a empresa foi-se especializando essencialmente em gestão e fiscalização de obras, mantendo nichos de actividade de projecto de engenharia em áreas industriais, como a cimenteira.
Em 2001 a história desta empresa toma um novo rumo. Nesse ano a empresa foi adquirida pela TPF CE. A empresa de consultoria belga tinha entrado no país um ano antes, com a aquisição de 65% da Partex CE. A TPF-CE decidiu reforçar a sua posição no mercado nacional e “persuadiu” o accionista a adquirir também a Planege, passando a empresa a designar-se, então, TPF Planege.
A TPF Planege ganhou projecção no mercado interno, tendo estado envolvida na construção dos estádios para o Euro 2004. A partir de 2006 o mercado externo começa a tomar dimensão na actividade da empresa. A rota internacional inicia-se na Argélia e depois em Angola, ambos os mercados em 2006, e em 2019 surge Moçambique.
O reforço das áreas de engenharia de projectos levou, primeiro, à aquisição da P&V, que à data tinha estado envolvida na ampliação do Hotel Savoy na Madeira, de forma a garantir a área de engenharia de estruturas. Seguiu-se a ProSistemas, para garantir a área de engenharia hidráulica e, finalmente, a Provia, para suprir a área de infraestruturas de transportes.
Em 2012, graças a estas aquisições, a TPF Planege tinha já uma facturação de 35% a 40% em projectos e de 60% a 65% em coordenação e fiscalização de obras, correspondendo a actividade exportada a cerca de 70% da sua faturação total. O peso do mercado externo fez com que a empresa ultrapassa-se razoavelmente bem as crises em Portugal de 2008 e 2012.
No cada vez mais internacional Grupo TPF a empresa mantinha uma posição importante, fazendo parte do Comité Executivo conjuntamente com colegas belgas, franceses, indianos e brasileiros. À data, a empresa nacional representava entre 25% e 30% da facturação do Grupo Belga.
Mas a casa mãe estava ela própria empenhada na sua estratégia de expansão internacional em países como a Índia, o Senegal, o Brasil, Marrocos ou Espanha. Desde 2001, altura em que o Grupo TPF adquiriu a Planege, até 2014, quando o Grupo adquiriu duas empresas espanholas, o crescimento foi da ordem de 100%. A aquisição pelo Grupo TPF de ambas as empresas, a Getinsa e a Euroestudios, reduziu a influência da TPF Planege a cerca de 10%.
Foi nessa ocasião que a TPF Planege decidiu encetar conversações com a Cenor. As duas empresas cooperavam havia já alguns anos através de parcerias específicas para determinados trabalhos, tanto em Portugal continental, como na Região Autónoma da Madeira, e até mesmo em Angola, no construção da Cimenteira do Cacuaco. A Cenor possuía também clusters de especialização que a TPF Planege continuava a não deter, em especial nas áreas da geologia e geotecnia. Em 2016 é formalizada a fusão entre a TPF Planege e a Cenor, da qual resultou a TPF Planege Cenor.
Em 2018 a empresa assume a designação TPF – Consultores de Engenharia e Arquitectura e assume-se como uma empresa portuguesa, que integra um grupo de dimensão internacional mas com gestão “integralmente” nacional, constituindo hoje um importante subgrupo dentro do Grupo TPF com sucursais em Angola, Argélia, Camarões, Macau, Moçambique, Turquia e Timor-Leste.