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    Arqº Pedro Ressano Garcia

    Arquitectura

    Pedro Ressano Garcia: “Estamos a viver uma revolução cultural”

    O arquitecto falou ao CONSTRUIR sobre o projecto SOS Climate Waterfront e sobre as transformações sociais que se irão acentuar com a pandemia

    Cidália Lopes

    Arqº Pedro Ressano Garcia

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    Pedro Ressano Garcia: “Estamos a viver uma revolução cultural”

    O arquitecto falou ao CONSTRUIR sobre o projecto SOS Climate Waterfront e sobre as transformações sociais que se irão acentuar com a pandemia

    Cidália Lopes
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    O projecto SOS Climate Waterfront trabalha em simultâneo com cinco cidades europeias e todas com um denominador comum: a proximidade ao Mar e os desafios que enfrentam com as alterações climáticas. Apesar de conscientes destas mudanças, verifica-se que Portugal nem sempre tem tomado as melhores opções estratégicas em termos de projectos junto aos estuários

    Arqº Pedro Ressano Garcia

    Pedro Ressano Garcia, arquitecto, professor e investigador, fala ao CONSTRUIR sobre o projecto europeu onde está envolvido e de que forma Portugal pode apreender com visão de outras cidades costeiras. E ainda as transformações sociais e culturais que se irão acentuar com a pandemia

    O que mudou nas últimas décadas?
    Em várias regiões costeiras do país, tomei conhecimento da maneira como as gerações anteriores construíram em lugares afastados da costa por temerem tempestades e maremotos. Este conhecimento foi sendo sedimentado ao longo dos tempos, transmitido de geração em geração e continha a sabedoria da experiência da comunidade que sabia lidar com a natureza. Quando surgiram grupos que desconhecendo a condição do lugar construíram junto à costa, na cota baixa em lugares vulneráveis iniciaram uma alteração profunda da maneira como lidamos com a linha de costa. O esquecimento ou a ignorância conduziram a grandes alterações a partir da década de 1960, alavancado na de 1970 e tornando mais expressivo nas últimas décadas.

    “Entre os nossos parceiros europeus partilhamos informação sobre experiências urbanas que desenvolvem o quarteirão ideal. É uma solução que conjuga sustentabilidade ambiental e social”

     

    Como será a Costa Portuguesa dentro de algumas décadas?
    A costa portuguesa se seguir a tendência de outros países tenderá para aquilo que o Eric Van Hooydonk escreveu no seu livro soft values e que reúne um consenso junto de outros autores sobre a valorização dos soft edges, ou seja uma linha de costa que não procura betonar e controlar a natureza mas dialogar e negociar com as suas forças. A solução soft edge dá prova de ser mais eficaz, mais resiliente e menos dispendioso. O diálogo e a negociação implica um conhecimento dos parâmetros climáticos e uma previsão das suas alterações. Actualmente regista-se uma maior definição na separação de zonas naturais e artificiais. Nas zonas naturais haverá investimento na sua renaturalização enquanto nas artificiais haverá discussão sobre a sua protecção ou abandono.

    Que erros ainda se cometem actualmente quando falamos de frentes ribeirinhas?
    O conhecimento requer tempo e ponderação, alguns investidores menos esclarecidos, com pressa procuram realizar investimento para obter mais valias rapidamente. Este grupo de investidores inclui públicos e privados, colectivos ou individuais pelo que não há os bons e os maus, apenas os mais esclarecidos e os menos. É fundamental investir na divulgação do conhecimento dos riscos associados a determinadas práticas. Nos últimos anos proliferam as novas construções junto à água, aldeamentos turísticos, habitação colectiva e equipamentos (hospitais, museus, etc.). Em desenvolvimento há novos projectos (aeroporto, condomínios, hotéis, etc.) que perpetuam a cultura do betão e do controle da natureza negligenciando as boas práticas europeias.

    Numa conferência falou que a própria tecnologia hoje em dia permite arriscar em determinados projectos. aquilo a que chamou “arrogância técnica”. Que consequências podem estas escolhas vir a ter no futuro?
    A modernidade valorizou a capacidade da civilização dominar a natureza, a tecnologia garantiu a sua eficácia e contagiou a cultura dominante. Há uma grande percentagem de decisores que acredita na modernidade e na consequente capacidade de controlar a natureza. A partir do século XXI houve uma crescente tendência em vários grupos que questiona essa controle, duvida da sua eficácia e desperta os mais jovens para a fragilidade desse domínio. A percepção que o homem não domina a natureza tem crescido exponencialmente entre os jovens adultos que começam a desconfiar dos mais velhos, na maneira como devoram os recursos naturais, o ritmo a que se perde biodiversidade e o estado em que lhes entregam o planeta.

    Verificamos que os nossos antepassados construíram alguns projectos resilientes na frente ribeirinha utilizando a tecnologia que tinham disponível. Em Lisboa, por exemplo, temos a baixa pombalina, as gares marítimas de Alcântara e da Rocha de Conde d’Óbidos e a central Tejo, já pensou o que tem de comum?

    Todas utilizaram técnicas inteligentes, que têm resistido ao tempo; as fundações dos edifícios da Baixa adoptaram uma tecnologia adaptada às águas subterrâneas, no piso térreo são utilizados materiais resistentes à água, modelo semelhante das gares e da central Tejo. Não existem caves, nem dependem de mecanismos eléctricos para prevenir inundações. Adoptaram soluções técnicas na escolha dos materiais, na geometria e opções de projecto que não dependem de soluções técnicas para controlar eventos naturais. São soluções sábias, adaptadas e resilientes.

    As frentes ribeirinhas são zonas vulneráveis, pelo que os projectos devem ser ligeiros e imprimir uma pegada leve. A leveza influencia a escolha dos materiais, a geometria e a densidade dos projectos. Actualmente, temos tecnologia para proceder a grandes transformações no território ribeirinho, construir em altura e subterrâneos, reconduzir águas, controlar o nível freático, as tempestades e as marés extremas porém as alterações climáticas demonstram que os cálculos são tímidos, os eventos climáticos extremos são mais frequentes e o aumento do ritmo de catástrofes tem sido exponencial nos últimos sete anos. Alguns projectos colocam as comunidades numa situação precária. O ambiente edificado é danificado, não resiste porque não está adaptado. Tem pouca resiliência.

    Plataforma Tejo: projecto propõe terraços ajardinados sobre a linha de comboio, ligando a cidade e o rio, o jardim (junto ao MNAA) e a doca de Alcântara gerando um espaço público contemporâneo e sustentável. Recebeu o Prémio Pancho Guedes de Arquitectura


    Quando se pensa em projectos na frente ribeirinha há fazer um planeamento a vários anos e em várias vertentes. No que diz respeito a projectos urbanísticos e imobiliários que continuam a surgir junto ao rio, seja aqui em Lisboa, seja em qualquer cidade ou vila próxima da zona costeira considera que os mesmos não estão a ser bem acautelados?
    O trabalho que temos vindo a desenvolver com os nossos parceiros europeus reúne experiências de várias realidades culturais e geográficas. Valorizamos soluções implementadas e lançamos ideias e visões a perseguir no futuro. O nosso trabalho não implica denunciar, nem sermos activista, somos investigadores com conhecimento e procuramos divulgá-lo a um público mais alargado para que seja útil às cidades europeias. Procuramos inspirar as próximas gerações. Temos um horizonte temporal distinto dos ciclos eleitorais, pensamos em décadas. Na nossa investigação partimos do pressuposto que ninguém conhece o futuro, para o imaginar relacionamos parâmetros, recolhemos dados e comparamos. O nosso estudo centra-se em cinco cidades europeias, Estocolmo, Gdansk, Tessalónica, Roma e Lisboa, localizadas no Mar Báltico, Mar Egeu, Mar Mediterrâneo e oceano Atlântico cobrimos as várias realidades na Europa.
    Entre os nossos parceiros europeus surgiu alguma perplexidade sobre os edifícios mais recentes na zona de Lisboa, localizados junto ao estuário, onde as opções de projecto negligenciam o conhecimento acumulado pelas boas práticas. Lisboa nos últimos dez anos fez pior que outras cidades. Em Espanha por exemplo, está proibida a implantação de hotéis sobre antigos terrenos portuários desde o início do século XXI. É fácil perceber que qualquer investidor hoteleiro tenha enorme apetência por locais junto à água no centro da cidade. Vale a pena reflectir porque razão Espanha tomou esta opção enquanto Lisboa aprovou a construção em Belém de um novo hotel inaugurado em 2010.

    Na nossa opinião há vários agentes, projectistas, investidores, decisores políticos que optam por dar continuidade ao pensamento dominante do século XX, juntos procuram manter-se numa zona de conforto e num tempo passado onde a natureza não se manifestava de maneira tão expressiva, colocando desafios novos, que exigem a adaptação a novos padrões.

    Ou de que forma este tipo de projectos, pela sua proximidade ao mar, terão que ser diferentes?
    Para os projectos se adaptarem e resistirem às alterações climáticas terá de haver maior definição na caracterização de zonas naturais onde se promove a diversidade e a protecção dos sistemas ecológicos e se combate a perda da biodiversidade das zonas urbanizadas. Nas zonas naturais haverá investimento na sua renaturalização enquanto nas artificiais haverá discussão sobre a sua protecção ou abandono.

    “As soluções para enfrentar as alterações climáticas no século XXI contrariam a hipótese do novo aeroporto do Montijo que persegue uma estratégia desactualizada”

     

    Tendo em conta o trabalho desenvolvimento pela SOS Climate Waterfront que acções têm sido tomadas para minimizar o impacto das alterações climáticas?
    A equipa transdisciplinar internacional reflectiu e procurou conhecer as últimas estratégias implementadas na área metropolitana de Lisboa. Em traços gerais uma das grandes potencialidades é continuar a descontaminação do estuário, promovendo a biodiversidade, a captação de CO2 e regeneração da qualidade do ar. A protecção das cheias e ampliação das zonas inundáveis é um dos factores determinantes a considerar na ocupação do território.

    As soluções para enfrentar as alterações climáticas no século XXI contrariam a hipótese do novo aeroporto do Montijo que persegue uma estratégia desactualizada. Quando vários agentes estão implicados na redução de emissões CO2, protecção ecológica, redução da pegada e descarbonização esta iniciativa é desajustada do tempo presente.

    Nos próximos anos vamos assistir à expansão de corredores ecológicos existentes, à criação de novas infraestruturas em simbiose com a natureza sobre zonas industriais e da regeneração da natureza em ambientes urbanos.

    De que forma pode a arquitectura contribuir?
    A arquitectura pode actualizar-se. No século XX o gosto dominante valorizou grandes envidraçados, muita luz e espaços rasgados pela transparência com o exterior. No século XXI dominam soluções inteligentes de baixo consumo energético, equilíbrio térmico passivo e materiais ecológicos. As coberturas verdes, terraços ajardinados, fachadas verdes e o revestimento integral de edifícios com isolamento térmico são algumas soluções que deverão ser integradas nos futuros planos municipais e que neste momento enfrentam um bloqueio por parte das instituições responsáveis que se regem por legislação desactualizada. A contemporaneidade assiste a uma nova estética, uma nova sensibilidade para a arquitectura, onde surgem estruturas não lineares, geradoras de sensações de equilíbrio precário, complexo, aleatório, valorizando geometrias sobrepostas e ambientes de mutação flexível.

    “Hsinta Ecological Powerplant”(Taiwan) – Proposta vencedora do prémio de mérito no concurso internacional para a central eléctrica do futuro propondo a coexistência da nova central a gás natural com as energias renováveis, as actividades humanas, da comunidade local, e a protexção ambiental

     

    A pandemia obrigou a uma reflexão, um momento de introspecção”

    Quanto à actual situação que se está a viver de isolamento social devido à pandemia que alterações considera que irá acontecer no panorama da arquitectura?
    As crónicas dos historiadores dão-nos a conhecer que as gerações anteriores enfrentaram situações semelhantes. Pandemias, guerras ou catástrofes naturais levaram ao isolamento social. Não é uma novidade em termos históricos, é novidade apenas para a nossa geração. Qual a diferença entre nós e os nossos antepassados?  Antes de mais, o espaço da habitação era partilhado. As comunidades partilharam o espaço das suas habitações em grupos alargados e em famílias transgeracionais. Os mosteiros e conventos tinham uma percentagem significativa da população, as vilas operárias albergavam grupos com forte sentido de comunidade. O pátio era o espaço exterior usado pelos vizinhos. Refiro vários exemplos para tentar perceber o que mudou nas ultimas décadas.

    No momento presente, regista-se um aumento do número de núcleos menores; cerca de 1/3 dos portugueses não tem filhos, 1/3 tem um filho, 2/3 dos casais separam-se, surgiu a designação de família uniparental sem filhos, as unidades de habitação tem vindo a ajustar-se ao estilo de vida assente no indivíduo.

    Em termos históricos nunca houve tanta gente a viver sozinha. O isolamento é mais sentido no indivíduo do que nos grupos. O isolamento é mais duro num apartamento do prédio do que numa moradia com terreno à volta ou numa habitação voltada para o pátio como em Alfama. O que vai acontecer é sempre distinto do que imaginamos no entanto é provável que cresça o interesse por soluções que permitam ao indivíduo relacionar-se com um grupo mais alargado mantendo as devidas distâncias.

    A pandemia obrigou a uma reflexão, um momento de introspecção. As emissões de CO2 baixaram, o hiperconsumo congelou, o tempo desacelerou. Cada indivíduo reage de maneira diferente quando se olha demoradamente ao espelho. Para muitos o isolamento vem abrir os olhos e relançar prioridades, relativamente à velocidade acelerada e ao consumo desenfreado. Na minha opinião é imprevisível o que vai acontecer porque depende de muitos parâmetros mas colectivamente estamos a viver uma revolução cultural.

    O simples acto de se relacionar com um determinado lugar ou espaço para depois se partir para o desenho está limitado. De que forma poderá, ou não, reflectir-se no projecto?
    As ferramentas digitais permitem a partilha de informação e estabelecer relações independentes do espaço e do tempo. A nossa condição física, relacionada com o espaço e o tempo, tem actualmente um acréscimo, a nossa dimensão digital. É uma condição que está relacionada com o espaço do fluxo e um tempo maleável. Refiro acréscimo porque não se trata de uma substituição mas de uma dimensão complementar. As gerações que cresceram com o digital procuram uma aproximação entre as duas e estão mais interessados em cuidar da sua condição física, alimentação saudável, a prática do desporto e desfrutar das suas relações sociais. A arquitectura sendo a mais material das artes tem um peso imenso. Os edifícios pesam toneladas e a arquitectura é imóvel. A cultura do século XXI valoriza o espaço fluido, flexível, que utiliza materiais leves e mutantes. O projecto deve incluir estas componentes para servir o cliente, o investidor, o utilizador.

    Além das inevitáveis alterações ao nível das relações humanas, as próprias habitações são hoje um desafio pela necessidade de passarem a ser, também, o nosso local de trabalho. Neste sentido, e enquanto arquitecto, pensa numa forma diferente de projectar as nossas casas pós Covid-19?
    Na minha opinião, a pandemia irá proporcionar uma aceleração de transformação da sociedade. As tendências que se tinham vindo a sentir vão aumentar exponencialmente. Colectivamente, as pessoas verificaram que é possível realizar várias iniciativas sem sair de casa. As reuniões online funcionam e muitos serviços permanecem operativos.

    As novas gerações valorizam a utilização da propriedade, dos transportes, dos bens de consumo em vez da sua aquisição e manutenção. A partilha de bens comuns regista um crescimento exponencial, neste sentido os espaços de co-working e habitação comunitária seguem a tendência.

    Neste contexto, a qualidade da oferta continua a ser determinada por mais factores; a localização, o ambiente do bairro, a qualidade dos espaços públicos exteriores, a diversidade da população, etc.

    Entre os nossos parceiros europeus partilhamos informação sobre experiências urbanas que desenvolvem o quarteirão ideal. É uma solução que conjuga sustentabilidade ambiental e social. Faz a sua própria gestão energética, reciclagem de lixos, produção alimentar, tem espaços exteriores de convívio privado e público.

    Vivo no centro histórico da cidade, há vizinhos a desenvolver pequenas hortas, a criar galinhas, a gerar a sua própria energia. Num futuro próximo haverá mais pessoas a produzirem alimentos biológicos, a produzir a sua própria energia e a proceder à troca directa com os vizinhos. A partilha do meio de transporte, de informação online e de produção de energia conduz a uma autonomia relativamente a custos associados com as empresas energéticas e os impostos para o estado. A libertação destes custos se estiver associada a uma crítica ao hiperconsumo permite níveis de liberdade individual absolutamente inovadores. Na minha opinião a arquitectura irá acompanhar esta tendência.

    “(…) a pandemia irá proporcionar uma aceleração de transformação da sociedade. As tendências que se tinham vindo a sentir vão aumentar exponencialmente”

     

    E os espaços de trabalho poderão ser pensados de forma diferente?
    O espaço de trabalho tende a ser o ecrã. O computador pessoal é um instrumento mas a criatividade humana utiliza vários instrumentos para se desenvolver. O trabalho em equipa tem vindo a testar a utilização de vários instrumentos mas a relação entre humanos permanece uma enorme fonte de energia e criação. O espaço e o tempo de trabalho gozam da fluidez do espaço do fluxo e da sua flexibilidade temporal, oferecem a realidade virtual e a realidade aumentada. Nos últimos anos tive a experiência de viajar para os vários continentes, mantendo uma relação profissional continua com os meus clientes. A ligação à internet exibida no ecrã gera uma existência quase omnipresente, liberta do espaço geográfico e do tempo de fuso-horário onde está o corpo. Isto tem aspectos positivos e negativos. A experiência da realidade física e temporal torna-se cada vez mais uma opção e deixa de ser uma condição. Resta a cada indivíduo escolher o que convém à sua própria vida.

    Sobre o autorCidália Lopes

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    Trienal lança open call para Prémio Début

    As candidaturas, que este ano foram alargadas a profissionais de arquitectura com idade até aos 40 anos, estão abertas até 24 de Fevereiro de 2025. Foi na terceira edição do Trienal, em 2013, que nasceu o galardão que tem como missão “celebrar o trabalho e o percurso das novas gerações” no pensamento e na prática em arquitectura

    CONSTRUIR

    As candidaturas ao Prémio Début Trienal de Lisboa Millennium bcp, que este ano foram alargadas a profissionais de arquitectura com idade até aos 40 anos, estão abertas até 24 de Fevereiro de 2025.

    Foi em Close, Closer, a terceira edição do festival (2013) que nasceu o galardão que tem como missão celebrar o trabalho e o percurso das novas gerações no pensamento e na prática em arquitectura, impulsionando a projecção internacional.

    Como sublinha José Mateus, presidente da Trienal, “em arquitectura, as gerações mais jovens são portadoras de referências, inquietações e aspirações que é fundamental reconhecer e valorizar. Este prémio internacional foi instituído enquanto gesto simbólico de incentivo para o futuro”.

    Esta ideia foi, também, reforçada, por António Monteiro, presidente da Fundação Millennium bcp, que apoia a Trienal de Lisboa desde 2007, na medida em que considera que este prémio é o “reconhecimento do crescente potencial de ateliers e arquitectos emergentes, oferecendo-lhes o palco e a visibilidade fundamentais para impulsionar o seu crescimento e impacto no mercado”.

    Aberto a candidaturas auto-propostas, a título individual ou colectivo, integra ainda um processo de nomeações propostas por um conselho plural que reúne mais de 30 personalidades internacionais.

    Desde 2013, o Prémio Début Trienal de Lisboa Millennium bcp recebeu um total de 452 candidaturas provenientes de todos os cantos do globo, distinguindo quatro ateliers vencedores: Vão em 2022 (Brasil), Bonell+Dòriga em 2019 (Espanha), Umwelt em 2016 (Chile) e Bureau Spectacular em 2013 (E.U.A.). Somam-se ainda 40 finalistas que reconhecem a importância desta nomeação para a projecção global dos seus projectos.

    O Prémio Début insere-se na sétima edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa, com o tema ‘How Heavy is a City’ (Quão pesada é a Cidade?) e que irá contar com diversas iniciativas a decorrer entre 2 de Outubro e 8 de Dezembro de 2025, entre as quais uma conferência que vai juntar cinco finalistas do prémio.

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    Avelino Oliveira, presidente da Ordem dos Arquitectos

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    Recuo do IVA a 6% na construção para habitação

    Ordem dos Arquitectos lamenta recuo na aplicação da taxa reduzida de IVA aos projectos de construção e critica restrições da União Europeia

    CONSTRUIR

    Em comunicado enviado às redacções a Ordem dos Arquitectos manifesta o seu descontentamento com o anúncio de que a proposta do Governo, inserida no Orçamento de Estado para 2025, de aplicar uma taxa reduzida de IVA a 6% aos projectos de construção de condições especiais para resolver a crise da habitação, não avançará devido ao entendimento restritivo da Comissão Europeia. Segundo o Governo, a transposição da directiva europeia, em matéria de benefícios fiscais do IVA, não permite incluir os projectos de construção das novas tipologias de soluções habitacionais na transposição legislativa da proposta de IVA.
    “A Ordem dos Arquitectos, que havia promovido activamente junto do Governo esta medida lamenta profundamente o desfecho e discorda da inflexibilidade da União Europeia. A Ordem dos Arquitectos alerta ainda para o tratamento desigual dentro do sector da construção, numa altura em que a habitação enfrenta uma crise sem precedentes.
    As políticas fiscais inclusivas são amplamente reconhecidas como uma solução eficaz para reduzir os custos do consumidor final mantendo a qualidade, sustentabilidade e equilíbrio económico, portanto, este entrave legislativo europeu é visto como anacrónico, prejudicial ao interesse público e um factor de afastamento dos cidadãos face à União Europeia”, refere a nota que é assinada pelo presidente da Ordem dos Arquitectos, Avelino Oliveira (na imagem).

    Face à decisão, a Ordem dos Arquitectos dirigiu uma carta ao Ministro das Finanças , solicitando esclarecimentos sobre “a fundamentação deste recuo, bem como os documentos e justificações europeias que suportam esta decisão para que fundamente a sua reclamação junto das congéneres europeias”. O organismo sublinha a sua “compreensão pelas cautelas tomadas pelo Governo português, especialmente do Ministério das Finanças, e saúda o Ministério das Infraestruturas e a Secretaria de Estado da Habitação pela defesa e proposta de uma medida amplamente apoiada pelo ecossistema da construção no Orçamento de 2025”.

    Referindo que “a União Europeia faz recorrentemente uma chantagem com a transferência de fundos de coesão do PRR e outros similares quando as disposições legislativas nacionais não são do seu agrado”, a OA  irá escrever aos eurodeputados portugueses para manifestar a sua oposição à acção da EUE no que concerne às políticas europeias que desvalorizam o sector dos serviços ligados à construção, particularmente no que diz respeito aos projectos de arquitectura.

    “Sabemos que a União Europeia só incentiva os Estados-Membros a aplicar taxas reduzidas de IVA de forma limitada a áreas essenciais como bens alimentares, serviços culturais, saúde, educação e habitação. No entanto, no contexto actual, a exclusão dos projectos de arquitectura e especialidades desta medida é incompreensível num sector que enfrenta uma crise com profundas repercussões sociais”, defendem os arquitectos.

    Chamando a atenção ainda para o problema crescente da “desregulação no sector dos serviços de arquitectura”, a OA relembra na mesma nota que “as políticas de matriz economicista tem obtido resultados negativos na arquitectura, bem visíveis desde 2008. Mas continuamos a assistir às consequências das políticas erradas que vão sendo seguidas. Para esse efeito recordamos os documentos públicos desde 2018 onde a OCDE e a Comissão Europeia defenderam que as normas de qualidade e segurança, obrigatórias na encomenda de serviço de arquitectura, deveriam ser abolidas já que os profissionais de arquitectura devem poder competir exclusivamente com base no preço. Tal abordagem, que consta do relatório OECD Competition Assessment – Self-Regulated Professions, desvaloriza a qualidade, a sustentabilidade e a especificidade dos serviços prestados, desiludindo profundamente os profissionais do sector.”

    “A Ordem dos Arquitectos considera lamentável que a União Europeia, que proclama os valores da sustentabilidade e descarbonização, aplique na prática uma legislação centrada apenas no preço e na concorrência sem regulação adequada. E que sempre que os Estados, em articulação com os agentes do sector procurem soluções de compromisso, as destrua, sem a flexibilização que aplica noutras áreas. Para a Ordem dos Arquitectos, este tipo de política vai contra o desígnio de uma Europa comprometida com o interesse público e o bem-estar das futuras gerações.”

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    CCB ‘revisita’ obra de Hestnes Ferreira

    Ciclo de visitas no âmbito da exposição Forma | Matéria | Luz acontece entre os dias 24 de Novembro a 15 de Março de 2025

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    No âmbito da exposição Hestnes Ferreira – Forma | Matéria | Luz, que decorre no CCB até 13 de Abril de 2025, está previsto um conjunto de visitas guiadas à exposição e a obras representativas da autoria deste arquitecto.

    Estas visitas, orientadas por arquitectos, proporcionam a oportunidade de aprofundar e expandir perspectivas sobre a obra de Hestnes Ferreira, promovendo diferentes vivências em cada edifício e prestando particular atenção à sua forma, matéria e luz. Embora de participação gratuita, requerem inscrição prévia.

    Neste sentido, a 24 de Novembro, integrado na programação dos 50 anos do 25 de Abril, irá decorrer a visita ao Bairro Fonsecas e Calçada, com orientação de Michel Toussaint, arquitecto e investigador do Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design.

    Já em 2025, a 11 de Janeiro, o arquitecto, director do Dinâmia’CET-ISCTE e curador da exposição, Paulo Tormenta Pinto, orienta a visita à Biblioteca de Marvila. Depois, a 22 de Fevereiro, está prevista a visita ao campus ISCTE, com orientação do vice-reitor da universidade, Bernardo Miranda.

    A última iniciativa acontece a 15 de Março, com a visita à casa de Albarraque. A orientação é de Luís Urbano, arquitecto e investigador.

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    Prémio Ammodo Architecture 2024 distingue projecto Outros Bairros em Cabo Verde

    A Ammodo Architecture divulga os primeiros vencedores do “Ammodo Architecture Award”, uma nova iniciativa anual que apoia a arquitectura social e ecologicamente responsável e os seus criadores em todo o mundo. São 23 os premiados e entre eles o projeto ISOB de Ângelo Lopes, Jakob Kling, Nuno Flores e Rita Rainho

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    A Ammodo Architecture divulga os primeiros vencedores do “Ammodo Architecture Award”, uma nova iniciativa anual que apoia a arquitectura social e ecologicamente responsável e os seus criadores em todo o mundo. São 23 os premiados, divididos em três categorias Arquitectura Social, Envolvimento Social e Escala Local.

    Em Cabo Verde, o projeto “International Seminar on Outros Bairros” (ISOB) de Ângelo Lopes, Jakob Kling, Nuno Flores e Rita Rainho (I2ADS – Universidade do Porto) foi distinguido na categoria Social Engagement do prémio AMMODO Architecture Award 2024.

    O prémio reforça o papel essencial e transformador da arquitectura na abordagem de desafios sociais e ambientais, conferindo visibilidade à comunidade global de arquitectura e a praticantes locais. A Ammodo Architecture prioriza o modo como os premiados estabelecem novos projectos e iniciativas para enfrentar desafios contemporâneos, com novas perspectivas e conhecimentos em arquitectura. Juntamente com o prémio, está a ser desenvolvida uma plataforma de conhecimento que visa tornar visíveis os projectos e fomentar a partilha de conhecimento – elemento central desta iniciativa será um arquivo digital em expansão.

    Os premiados foram seleccionados por um comité consultivo multidisciplinar global, presidido por Joumana El Zein Khoury, directora executiva da World Press Photo Foundation, incluindo: Andrés Jaque, arquitecto, reitor e professor na Columbia University GSAPP em Nova Iorque; Anupama Kundoo, arquitecta e professora na TU Berlin; Floris Alkemade, arquitecto e ex-arquitecto chefe do governo dos Países Baixos; e Mariam Issoufou, arquitecta e professora na ETH Zurich. A selecção de potenciais projectos foi organizada através de uma convocatória aberta e de uma equipa global de embaixadores regionais experientes.

    A distinção agora atribuída permitirá aos arquitectos e investigadores realizar a programação do International Seminar on Outros Bairros (ISOB), entre Janeiro de 2025 e Junho de 2026, que consistirá num concurso de práticas artísticas em espaço público, quatro workshops, um seminário internacional e uma exposição. Além disso, será organizado o arquivo digital da Iniciativa Outros Bairros (IOB) e do próprio ISOB. Desta forma o grupo de arquitectos e investigadores propõe uma reflexão sobre os territórios autoproduzidos existentes em Cabo Verde, a partir da experiência vivida enquanto membros em vários momentos da IOB, onde adoptaram uma abordagem do urbanismo relacional procurando a compreensão do modo de vida da população local.

    IOB foi realizada entre 2019 e 2022 em três zonas auto-produzidas na ilha de São Vicente, Cabo Verde. Foi uma acção financeiramente possível como iniciativa governamental associada ao Ministério das Infraestruturas, do Ordenamento do Território e Habitação do Governo de Cabo Verde MIOTH e acompanhada por um compromisso técnico e científico do Ministério do Ambiente e da Acção Climática do Governo de Portugal.

    Este novo projeto, apoiado pela Ammodo Architecture Award 2024, visa retomar e expandir, a partir de Cabo Verde, o debate sobre como actuar no território, considerando o actual processo planetário de urbanização.

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    Casa da Arquitectura presta homenagem a Nuno Portas no seu sétimo aniversário

    Para celebrar o sétimo aniversário, a Casa da Arquitectura preparou um conjunto de iniciativas que irão decorrer nos dias 22, 23 e 24 de Novembro. Ao arquitecto e urbanista Nuno Portas será atribuído o título de Associado Honorário 2024

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    No ano em que se comemora o cinquentenário da Revolução de Abril e dias após a abertura da Exposição “O que faz falta. 50 anos de arquitetura portuguesa em democracia”, a Casa da Arquitectura presta homenagem, no seu sétimo aniversário, ao arquitecto e urbanista Nuno Portas, figura de proa no desenho das linhas políticas para habitação, reabilitação urbana e urbanismo do Portugal democrático, atribuindo-lhe o título de Associado Honorário 2024 numa cerimónia a decorrer no sábado, dia 23 de Novembro.

    A programação de aniversário inclui ainda a segunda edição do Seminário Internacional de Arquitetura e Sustentabilidade SHIFT, nos dias 22 e 23 de Novembro, a entrega de títulos aos Jovens Embaixadores da Arquitectura, uma conversa integrada no Programa Paralelo da Exposição “O que faz falta”, Oficinas, Performances, visitas guiadas e um concerto do arquiCoro da FAUP no espaço da exposição.

    Simultaneamente, vai estar aberta ao público, a Exposição “Made in Portugal” da MOR Design com peças de alta qualidade, criadas em colaboração com artesãos e designers de renome destacando-se nomes como Álvaro Siza Vieira, Manuel Aires Mateus, Keiji Takeuchi e Kengo Kuma.

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    Segunda edição do Architect@Work Lisboa regressa à FIL

    A segunda edição do evento, que teve inicio na Bélgica em 2003, e conhecido pelo seu formato “disruptivo” acontece nos dias 4 e 5 de Dezembro

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    Nos dias 4 e 5 de Dezembro, a FIL Lisboa, abre as suas portas para a segunda edição da Architec@Work Lisboa. Depois do “sucesso” da primeira edição e que demonstrou que “os arquitectos e designers de interiores precisavam definitivamente de um evento B2B de alto nível especificamente dedicado à sua profissão”, o evento volta para dois dias de debates e exposições.

    Materiais saudáveis em arquitectura, a aprendizagem e prática de arquitectura e a ligaçao entre Espaço, Natureza e Identidade são os temas do primeiro dia de conferências. Para o dia 5, os seminários abordam as temáticas como a arquitectura das emoções, património e contemporaneidade e a profissão do arquitecto.

    Concebido num formato disruptivo, pensado para criar uma conexão “informal” entre os fabricantes, arquitectos e designers, a marca surge em 2003, na Bélgica, depois de se verificar uma lacuna neste tipo de eventos.

    Com o foco na inovação, os expositores são obrigados a trazer para o evento as principais novidades, cujos produtos são primeiramente sujeitos a uma avaliação por parte de um júri de arquitectos e designers de interiores.

    Mais do que um espaço de exposição, o Architect @ Work pretende ser um espaço “único, dinâmico e acolhedor”, semelhante a um lounge. Os corredores tradicionais da FIL são transformados em áreas lounge onde se pode relaxar, ter reuniões de uma forma mais informal e privada e o mais importante: onde se pode desfrutar do catering gratuito que é fornecido durante todo o evento para os visitantes bem como para os expositores.

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    Aldeia da Chumbaria, gabinete Arquitectura Viva

    Arquitectura

    Reabilitação da Aldeia da Chumbaria através do turismo [C/ galeria de imagens]

    O atelier português Arquitectura Viva assina a 1ª fase da reabilitação da Aldeia da Chumbaria, no concelho de Leiria. O projecto que dá, literalmente, uma nova vida a uma antiga aldeia abandonada, visa criar alojamentos locais direccionados para retiros de bem-estar, com uma abordagem sustentável. Premissa que é seguida pelo programa de reabilitação de onde sobressai o respeito pelos materiais naturais

    Quase por acaso o projecto de reabilitação da Aldeia da Chumbaria, no concelho de Leiria, foi parar ao atelier de Arquitectura Viva, fundado por Joana Couto e Rui Pedro Simões. Um acaso feliz que junta visões, dos proprietários e dos arquitectos, ideias e ideais, na concretização de um projecto que, através do turismo, pretende trazer nova vida a uma aldeia abandonada e, com isso, revitalizar as aldeias circundantes da região onde se insere.

    Em plena serra do Branco, no lugar da Memória, está localizada a Aldeia, do alto do monte avista-se toda a serra. O local conquistou Steven e Sarah, o casal inglês que em 2019 adquiriu a aldeia e os cerca de três hectares de terra para aí desenvolverem o seu projecto de permacultura. A aldeia votada ao abandono há já várias décadas possui seis conjuntos de construções em ruínas que agora, faseadamente, ganham nova vida. O projecto visa criar alojamentos locais, direccionados para retiros de bem-estar, com uma abordagem sustentável, oferecendo workshops de permacultura, yoga, reiki e muito contacto com a natureza. “A aldeia tem 11 casas, no total, aglutinadas em seis artigos. Neste momento reabilitámos duas casas e temos mais dois projectos aprovados que, a qualquer momento, podem iniciar a reabilitação”, conta a arquitecta Joana Couto. “Os proprietários queriam uma reabilitação em que a aldeia continuasse a ser uma aldeia, com coerência entre edifícios. A premissa era voltar a dar vida à aldeia, através do Turismo”, continua a arquitecta.

    A primeira fase do projecto compreendeu a reabilitação do primeiro conjunto. Originalmente, a construção terá sido um estábulo no rés-do-chão, com um possível celeiro ou habitação no piso superior, seguindo o esquema tradicional da arquitectura vernacular. O projecto converteu o celeiro, cujas lajes e coberturas ficaram destruídas por um incêndio há cerca de dez anos, em dois pequenos alojamentos. “Da nossa parte ficou logo claro que queríamos manter ao máximo o aspecto formal das casas e, que todas as alterações que fossem implementadas, como aberturas de vãos maiores, fossem assumidas. A introdução de betão à vista acabou por surgir da necessidade de criar suporte e estrutura para a abertura de vãos maiores”, criando, simultaneamente uma maior fluidez entre o interior e a paisagem exterior.

    Assumir os materiais naturais é mais do que pressuposto
    No interior, as paredes foram revestidas com blocos de betão de cânhamo, proporcionando conforto térmico e acústico. “Inicialmente, os blocos seriam rebocados, mas a textura e o aspecto agradaram-nos tanto que optamos por deixá-los à vista”. A ideia original era utilizarmos paredes de cânhamo feitas no local, através de cofragem, como se faz com o betão, mas após uma experiência menos positiva, mudámos para blocos de cânhamo pré-fabricados. “Felizmente os clientes apoiaram sempre as nossas decisões e concordaram em deixar os blocos à vista”, afirma Joana Couto, a qual reconhece ser uma “solução muito pouco usual”.
    Pouco usual, ou não, a verdade é que mostrar os materiais utilizados, tal como eles são, fazem parte do trabalho do atelier. “Esse é um pressuposto nosso, uma quase teimosia!”, reconhece Joana Couto. “Gostamos de utilizar materiais naturais e deixá-los os mais crus possíveis. Queremos que a estrutura de madeira seja assumida e fique à vista, que os apoios necessários em betão se mantenham em betão e, neste caso, que o cânhamo fique à vista”, reforça.
    “O grande objectivo deste projecto é utilizar os materiais exactamente como são, mostrando as suas funções e potencialidades, sem máscaras. O pavimento do rés-do-chão foi finalizado com uma betonilha afagada, enquanto o piso superior recebeu um soalho de madeira, assente numa estrutura de madeira que serve de tecto ao rés-do-chão. As paredes revestidas em betão de cânhamo cumprem o seu propósito térmico e acústico, e os novos elementos estruturais de betão são deixados sem revestimento. As estruturas das coberturas, tão bem executadas, também são mantidas expostas.

    A combinação de elementos tradicionais, como paredes de alvenaria de pedra e coberturas de madeira, com elementos contemporâneos, como a escada de aço, os envidraçados e os detalhes de betão, garantem a identidade única do projecto”.

    Já a utilização do cânhamo partiu de uma sugestão de Steven e Sarah, e da sua preferência por soluções sustentáveis e o mais natural possível. “O cânhamo tem um excelente comportamento, quer térmico quer acústico, é também resistente ao fogo, que era mais uma preocupação dos clientes, sendo um óptimo regulador de humidade. Sendo as paredes existentes compostas por pedra, a introdução do cânhamo trouxe bastante conforto às casas. Mesmo em termos visuais, as casas ganharam bastante com a introdução dos blocos à vista”, acrescenta Joana Couto.

    Da casualidade a um match perfeito vai um breve passo
    Ainda sem prazo para terminar a totalidade da empreitada, em breve deverão arrancar as próximas reabilitações na Aldeia da Chumbaria. Entre os elementos a reabilitar estará mais uma casa e um outro edifício, maior, que albergará dois alojamentos e uma sala polivalente, com será uma peça crucial na Aldeia e na criação de um espírito de comunidade. “Os proprietários já estão a envolver as aldeias vizinhas na reconstrução da aldeia, estão a fazer formações e workshops na área da permacultura, bem-estar, meditação, reiki… esta sala polivalente permitirá a realização de eventos maiores”, explica Joana, que partilha com Rui Pedro Simões este trabalho de reabilitação da Aldeia da Chumbaria.

    A dupla de arquitectos fundou o Arquitectura Viva um atelier de arquitectura, paisagismo, interiores e urbanismo para quem “este projecto é um exemplo claro daquilo que caracteriza o nosso atelier: a reabilitação consciente e integrada de espaços com uma história e identidade próprias”.

    “Desde o início, temos como compromisso a preservação do carácter do local e a valorização dos materiais naturais e sustentáveis, adaptando as construções para que atendam às exigências actuais sem perderem autenticidade. A reabilitação desta aldeia permitiu-nos aprofundar o nosso conhecimento, introduzindo técnicas de construção como o uso de cânhamo. É um projecto que se alinha perfeitamente com o nosso foco na valorização da paisagem e no respeito pelas tradições”, considera a dupla de arquitectos de Leiria.

    Ficha técnica
    Arquitectura: Arquitectura Viva
    Nome do projecto: Aldeia da Chumbaria – fase 1
    Ano de conclusão do projecto: 2024
    Área bruta construída: 184m2
    Localização do projecto: Chumbaria, Memória, Leiria

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

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    Arquitectura

    “Dispensa da fase de revisão pode criar graves problemas aos projectistas e investimentos de grande escala”

    O presidente da Secção de Lisboa e Vale do Tejo da Ordem dos Arquitectos, Pedro Novo, aponta as consequências da decisão tomada pelo Goveno em Conselho de Ministros, que permite a dispensa da fase de revisão de projeto de execução na fase da contratação de alguns projectos

    Ricardo Batista

    O Governo aprovou, em Conselho de Ministros, um decreto que permite a dispensa da fase de revisão de projeto de execução na fase da contratação, uma medida que, segundo o ministro da Presidência, Leitão Amaro, visa acelerar a execução dos fundos europeus, num momento em que “há muitos investimentos parados à espera de decisões de licenciamento”.

    Ao CONSTRUIR, o presidente da Secção de Lisboa e Vale do Tejo da Ordem dos Arquitectos, reage a esta decisão, considerando que “aprovar um decreto-lei que permite a dispensa da fase de revisão do projeto, poderá criar graves problemas às equipas projectistas e impactar a qualidade e eficiência, sobretudo nos investimentos de grande escala”. No entender de Pedro Novo, “revisão de projeto é uma etapa fundamental no processo de melhoria da qualidade dos projectos de arquitectura e especialidades”, tratando-se de uma etapa que garante que o projecto atende aos objetivos esperados e reduz os riscos de falhas ou não conformidades, identificando possíveis omissões, mitigando erros e riscos, clarificando processos e sistemas construtivos na ulterior execução da empreitada”.

    “Mais uma vez, de forma pouco ponderada, acrescem responsabilidade sobre os arquitectos, desconsiderando, a qualidade da construção, factores de segurança, previsibildiade e fundamentalmente o interesse público”, lamenta Pedro Novo.

    A decisão do Governo vai incidir sobre investimentos de mais de 400 mil euros e que obriguem à contratação de uma nova entidade terceira, tempo de interação, muito mais tempo de burocracia que em vários casos leva a que as empreitadas de obras públicas se atrasem para além do prazo previsto inicialmente e podem colocar em causa os fundos europeus.

    “Por muito importantes que as regras da contratação pública sejam”, sublinhou o ministro da presidência, “não podemos assistir a que a forma como as regras são aplicadas acaba por ter como consequência a perda de fundos europeus, um atraso fatal em projetos de investimento público”. O ministro Adjunto e da Coesão Territorial já tinha anunciado no Parlamento que o Governo seguiu o apelo da ANMP e ia dispensar a revisão obrigatória dos projetos. “Sou muito entusiasta que se faça a revisão dos projetos. Mas não será por isso que não serão cumpridos”, disse Manuel Castro Almeida, na Comissão de Orçamento e Finanças, no âmbito da discussão do Orçamento do Estado na especialidade.

    A dispensa de revisão não é para todos, mas “apenas quando os municípios comprovem que, se fizerem a revisão de projeto, o tempo que aí se vai perder os impede de executar o projeto dentro do prazo previsto do PRR e do PT2030”, explicou o ministro. Só nesse caso o município fundamenta a dispensa da revisão obrigatória do projeto.

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
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    Crédito: Ana Barros, Projeto KOJA, Arquitetura Kristian Talvitie

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    Exposição de Fotografia: “Co-Creating Spaces: Dialogues Between Architecture and Nature” inaugura este Sábado no Porto

    Através das objectivas dos fotógrafos Ana Barros, Alexander Bogorodskiy, Fernando Guerra e Ivo Tavares, a exposição revela uma perspectiva diversificada da interacção entre o mundo natural e o mundo construído

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    O gabinete Hori-zonte apresenta uma exposição de fotografia intitulada” co-Creating Spaces: Diálogos entre Arquitetura e Natureza”, que inaugura a 16 de Novembro. Esta mostra integra a programação da Galeria Municipal do Porto, Circuitos ‘24 – Arte Contemporânea Porto e terá lugar no seu escritório, no Porto.

    Esta exposição de fotografia procura reimaginar a relação entre as estruturas construídas pelo homem e a natureza. Destaca a forma como a arquitectura e a natureza se entrelaçam, remodelando-se mutuamente numa troca contínua e fluida.

    Através das objectivas dos fotógrafos Ana Barros, Alexander Bogorodskiy, Fernando Guerra e Ivo Tavares, a exposição revela uma perspectiva diversificada desta interacção.

    A entrada é livre e pode ser visitada até ao dia 25 de novembro.

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    © Hugo David 2023

    Arquitectura

    Gonçalo M. Tavares e ‘As cidades e as casas’

    ‘Onde fica a nossa casa?’ é uma das perguntas da investigação levada a cabo por Gonçalo M. Tavares e que irá culminar em livro em 2026. A apresentação decorre esta quinta-feira, 14 de Novembro, às 18h30, no Pólo Cultural da Trienal

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    Esta quinta-feira, 14 de Novembro, às 18h30, Gonçalo M. Tavares apresenta no Pólo Cultural da Trienal uma nova etapa de desenvolvimento do projecto editorial conjunto ‘As Cidades e as Casas’. Este futuro livro é dedicado a pensar como a casa e o espaço público se transformam em espaço familiar em termos de integração.

    Nesta apresentação Gonçalo M. Tavares convoca outras vozes da literatura como António Lobo Antunes (“a mesa de jantar acabava na cama”) e das artes, como a dupla Dutes Miller e Stan Shellabarger, entre uma miríade de obras literárias e artísticas que são revisitadas para integrar a reflexão sobre as várias dimensões contidas na pergunta: Onde fica a nossa casa?

    Nesta sessão, para além de projecções de vídeos, vão participar artistas que, de diferentes países, migraram para Portugal para continuar a fazer a sua arte, como Jean Paul Bucchieri, encenador nascido em Itália, Larissa Lewandoski, artista visual brasileira, ou Lauren Mendinueta, poeta colombiana.

    A investigação bibliográfica, visual e de campo de uma equipa multidisciplinar que iniciou em 2023 e se estende ao longo de três anos vai culminar com a publicação de um livro em 2026.

    Esta é a segunda apresentação seguida de uma conversa com o público sobre questões cruciais: Qual a diferença entre a casa da infância e a casa onde vivemos hoje? Qual o percurso entre estas duas casas? A partir de que sentimento/acontecimento começou esse percurso – do medo, da necessidade? do amor, do desejo? do acaso? Como se muda de casa e de país? E qual a última casa? Há uma primeira casa, uma casa do meio e uma última? Como encontrar a última casa? Que país é a nossa casa?

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