O arquitecto deve “antecipar o acto de projectar”
A relação da cidade com a arquitectura, o papel do arquitecto na construção de novos espaços e a importância de cada projecto se relacionar com o seu todo foram os temas abordados na conferência do Jornal Construir
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Habitação, escritórios, hotéis são os segmentos que mais crescimento têm registado nos últimos anos, reflexo da atractividade que Lisboa apresenta actualmente e que, pese os sinais de algum abrandamento, manterá nos próximos. Para reflectir sobre a nova ‘velha’ Lisboa, o CONSTRUIR realizou, no passado dia 11 de Setembro, mais uma conferência onde contou com a presença de diversos nomes ligados à arquitectura e à promoção imobiliária.
No dia em que foi, também, apresentada a nova edição do Yearbook de Arquitectura, o CONSTRUIR lançou um olhar sobre a realidade, procurou antecipar o futuro mais imediato e falar com quem faz parte desta transformação.
Damos aqui conta da primeira parte, dedicada ao tema ‘Pensar Lisboa’, que contou com a presença dos arquitectos Paulo Martins Barata, do gabinete Promontório, e Vítor Carvalho Araújo, da CVA- Arquitectos, que olharam para a Lisboa de hoje e projectaram no futuro a Lisboa de amanhã, à luz das mudanças que actualmente se vivem, das decisões arquitectónicas e muitas, também, politicas, que irão mudar os espaços de vivência da capital.
Antecipar o acto de projectar
Do ponto de vista do pensamento arquitectónico que Lisboa é esta, para onde caminha a cidade?
À pergunta colocada Vítor Araújo Carvalho considera, que, antes de mais “é necessário olhar a cidade como um todo” e, nesse sentido, vive-se “um momento de transição, tanto na forma de fazer arquitectura como na forma como se encara o futuro da cidade”. O papel do arquitecto passa, por isso, “por antecipar o acto de projectar”. “É uma responsabilidade”, reforça Vítor Araújo Carvalho.
Se “a cidade é o território da arquitectura” e estando esse território “em constante mutação” qualquer processo de criação sobre implica “a necessidade de um ponto de vista estratégico, mais abrangente, como uma grande angular, como obrigação da boa resolução do processo complexo de criar cidade”, reforça Araújo Carvalho.
Arquitectura e Politica
Muitas vezes os processos não são tão criativos e, de certa forma, até burocráticos, já que implica um envolvimento de diferentes intervenientes. Acontece muitas vezes o arquitecto ver-se envolvido no meio de processos que são eles de natureza politica, E isto denota-se mais em processos morosos quando o intervalo entre uma circunstância e outra leva muito tempo.
“O papel do arquitecto pode ter um alcance maior do que a arquitectura mas se for colocado ao serviços das forças politicas. O arquitecto por si só não consegue mudar nada. Temos o caso da arquitecta Helena Roseta ou de Manuel Salgado”, reforça Araújo Carvalho.
Extrapolando o processo arquitectónico também para a esfera da participação pública concluiu-se que “nunca houve tanta participação dos cidadãos” nos projectos da cidade como existe hoje em dia. Embora saudável e fruto de um cidade que se quer colectiva, Paulo Martins Barata considera que a nossa realidade é diminuta tendo em conta a escala e a dimensão do território. E dá como exemplo, o projecto que tem em Boston, nos EUA, que se encontra em processo de consulta há quase dois anos com reuniões a decorrerem na própria câmara municipal da cidade com a intervenção activa e constante da população.
“Essa ideia de que o investimento está muito centralizado vem muito ainda das dores do pós -crise onde os bancos ficaram descapitalizados e os investidores com receio naturais. Contudo, há um produto que pelos seus factores endógenos tem um investimento mais seguro que são os centros das cidades, onde também se encontram os centros de decisão políticos e financeiros. Dai que se continue a olhar para Lisboa e Porto e não tanto para outras cidades que vão viver parte desses efeitos colaterais mas numa escala mais pequena. E não foi apenas em Portugal. Este fenómeno até chegou tarde a Portugal e notou-se mais porque realmente Portugal estava a viver uma ressaca (ou uma seca) de investimento tal que qualquer fluxo iria mexer no conceito de cidade”, considera Paulo Barata.
Quais os limites da cidade?
Tendo em conta que Lisboa faz parte de um território mais alargado – a Área Metropolitana, até onde vão os limites da cidade? Poderá a ‘nova’ Lisboa que se está desenvolver ter repercussões num espaço mais vasto e alargado por efeito de contágio?
Para Paulo Martins Barata, no caso concreto dos arquitectos e do seu papel enquanto ‘fazedores’ de uma cidade mais moderna, reabilitada e conectada, “esta questão não se coloca quando falamos de Lisboa”. O efeito contágio pode eventualmente existir, contudo cabe aos investidores e promotores decidir. “Do ponto de vista do arquitecto é normal existirem projectos pontuais em diferentes zonas do país, mas não de uma forma tão abrangente”.
Numa perspectiva global das cidades que é hoje impossível fugir, “o ideal seria que os projectos que fazemos na cidade pudessem ter repercussões num território mais vasto, contudo Paulo Barata não concorda que isso aconteça actualmente com Lisboa”. “Vejamos como exemplo o caso da Suíça. Com um território muito mais vasto, os arquitectos apenas actuam num determinado Cantão e aí sim a arquitectura que fazem tem em conta uma perspectiva mais alargada”, exemplifica.
Já para Vítor Araújo Carvalho “a abrangência da arquitectura ultrapassa, obviamente, o centro da cidade”. “A arquitectura de um edifício é muito mais do que apenas aquele espaço, já que implica também uma mudança da vivencia das pessoas e da sua envolvente. A cidade é uma entidade mutante e neste momento a cidade está a aprender a viver com essa mudança, em particular dos espaço públicos e das suas funções ao mudar usos colectivos e individuais. A questão da mobilidade urbana é aqui muito importante no sentido de cidade global”, considera.
Poderão alguns projectos pontuais corresponder efectivamente à transformação da cidade? Ou estaremos perante um exagero? Terá apenas a haver com a escala da cidade? Algumas desta questões não têm uma resposta imediata, ou tão pouco, apenas uma perspectiva. Contudo, é cada vez mais notório que “o arquitecto não é só responsável pelo edifício que o promotor pretende desenvolver mas sim pelo espaço público” e pensar neste todo é a grande força do arquitecto.
Controlo de custos
Controlo de custos é também uma responsabilidade do arquitecto. A antecipação do valor, a procura de uma boa relação entre o investimento e o resultado é também uma responsabilidade do projectista, criar um equilíbrio para um resultado adequado. O controlo de custos pode, também, passar por propor formas de habitar mais evolutivas e que permitam, a médio e longo prazo, alterações internas no projecto sem grandes obras e sem custos elevados.
Vítor Araújo Carvalho dá como exemplo, um projecto de habitação para classe média que se encontram a desenvolver onde “propusemos um programa com tipologias mais evolutivas, na mesma estrutura edificada situações versáteis que podem mudar com o tempo pelo crescimento da família ou de situações de habitação partilhada”.
“Cada vez mais há uma tendência para que os arquitectos trabalhem em conjunto com os municípios para que os projectos não sejam apenas os edifícios e que possam permitir ir além de si própria, antecipando a relação das pessoas e dos outros edifícios envolventes.
Neste momento, a cidade de Lisboa convive com realidades muito diferentes e distintas do ponto de vista social e humano que é preciso reunir e manter sem que seja necessário compartimentar ninguém”, considera ainda.
Continuidades ou Roturas
“Nós olhamos para a cidade a esta escala e aquilo que vemos são sucessivas circunstâncias de continuidade ou rotura”. Numa perspectiva de mobilidade das cidades é possível encontrar facilmente, e não muito longe dos principais centros das cidades, pontos de rotura no território que desta forma limitam o seu crescimento e, por consequência, tornam mais vulneráveis áreas mais afastadas.
“Também enquanto arquitectos cabe-nos a nós sermos facilitadores dessas continuidades que são hoje fundamentais”. Continuidades essas que apenas são possível com o melhor desempenho da mobilidade dentro e à volta das cidades. “Esta sim é uma das grandes mudanças das cidades do século XXI”, afirma.
Uma das soluções poderá passar por uma maior abertura intermunicipal porque estamos demasiado agarrados ao que é ‘meu’. A titulo de exemplo a requalificação da frente ribeirinha de Pedrouços que envolve realmente diferentes entidades.