[smartslider3 slider=10]
Há já quem se refira ao projecto de renovação do antigo Matadouro de Campanhã como “a nova Casa da Música” da cidade do Porto, não só pelo impacto que terá enquanto referência arquitectónica, como, naturalmente, pelo nome do japonês Kengo Kuma associado ao projecto. A proposta, que é também assinada pelo colectivo portuense OODA, convenceu o júri do concurso – lançado há dez meses pela empresa municipal de Gestão e Obras do Porto, GO Porto -, como aquela que melhor serve os desígnios e ambições para o antigo Matadouro Industrial, bem como a que melhor irá reorganizar o tecido urbano da Campanhã. Se tudo correr como planeado, garante Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, a obra, adjudicada à Mota-Engil, arranca em Abril de 2019, com um prazo previsto de conclusão estimado em dois anos. O investimento, recorde-se, será na ordem dos 40 milhões de euros.
Coesão social e territorial
“A primeira abordagem foi uma abordagem de cidade, para se perceber o território”, explica Diogo Brito, arquitecto do gabinete OODA, sublinhando que desde logo houve a preocupação de “perceber as idiossincrasias do local, fazendo as perguntas certas para melhor responder ao desafio”. Garantindo que a proposta vai contribuir para a coesão social e territorial da zona Oriental da cidade, Diogo Brito refere que o projecto pretende “criar um espaço acolhedor, agregador na sua fruição e com lógica de circulação”, mas que também se compromete em materializar as três grandes componentes definidas no caderno de encargos, que consiste na capacidade de na infra-estrutura coexistirem as vertentes empresarial, cultural e social.
Para o arquitecto, da análise do território foi ainda possível concluir que o projecto teria de ser suficientemente audaz para ultrapassar adversidades como “as dificuldades de afirmação no espaço envolvente”, “a gestão de acessibilidades” no seu entorno, a “ferida aberta pela VCI com um talude de 10 metros” ou “o limite físico do Mercado Abastecedor”.
O desenho foi então ao encontro da criação de diferentes espaços públicos, com especial enfoque na criação e utilização de uma “grande Praça que dá as boas vindas e garante multiplicidade”, a abertura de uma rua coberta, uma ponte pedonal de atravessamento, que irá ligar directamente à estação de metro do Estádio do Dragão e uma cobertura que envolve toda a estrutura, unindo o novo e o antigo, e cuja linguagem estética evoca as construções que marcaram a paisagem urbana daquele território na época industrial.
Diogo Brito sublinhou ainda que, para sublinhar a inclusão social e funcional, a equipa achou decisivo dotar o espaço de uma cortina verde a toda à volta, “que permitisse potenciar e enfatizar essa qualidade de espaço público, mas também que pudesse ser um filtro sonoro”.
Fusão entre antigo e novo
Na apresentação pública do projecto, Diogo Brito, do gabinete OODA destaca também o restauro do antigo edifício, referindo que se trata de uma fusão entre o antigo e o novo. “Sabíamos que estávamos a intervir em património classificado, pelo que sempre trabalhámos numa lógica de adição e não de subtracção”. Teve-se assim o cuidado de “interligar o novo ao existente”, através de estratégias arquitectónicas “que não desvirtuassem, mas que potenciassem o património”. Diogo Brito, evidenciou ainda que a proposta pretende “que a reconversão do Matadouro provoque um ‘contágio positivo’ em toda a malha urbana da zona Oriental”, nomeadamente pela flexibilidade de uso que terá. O arquitecto explicou ainda que por essa razão, o projecto foi desenvolvido “em diferentes camadas”, procurando sincronizar a estrutura existente com as novas funções.
Segundo a autarquia, “todo o trabalho foi feito com o cuidado e sensibilidade de quem intervém em património histórico, mas pretendendo criar unidade e identidade”. A já referida cobertura, que une todo o complexo, sublinha também partes essenciais do programa através do movimento dado pelas cumieiras, servindo estas também como pontos de referência e orientação.
A Câmara do Porto garante mesmo que o projecto de reconversão do antigo Matadouro, “cria um impacto visual único para quem atravessa a VCI e permite que a cidade ganhe elasticidade e usufruto durante 365 dias, enquanto activa o lugar com o seu programa e abre todo um conjunto de novas oportunidades para os espaços exteriores e para a comunidade.
Diogo Brito termina a apresentação da proposta assinada por Kengo Kuma + OODA citando Fernando Távora: “Quanto mais local, mais internacional”.
Desafio passa por colocar à superfície equipamento “afundado pela cidade”
Recorde-se que o projecto para a reconversão do Matadouro Industrial de Campanhã, foi lançado por Rui Moreira em Abril de 2016, contudo, só em 2017 é que a Câmara do Porto, através da GO Porto, optou por um concurso limitado por prévia qualificação, do qual resultaram, em Fevereiro, 3 finalistas. Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, na apresentação pública do projecto fez menção ao gabinete do arquitecto Jorge Garcia Pereira, que, sublinhou, contribuiu com aquela que considera a parte mais importante do processo, ou seja, “na preparação do programa do concurso”, que pretendia “juntar vários vectores, ligando a cultura, a sustentabilidade social e a economia”. Rui Moreira lembrou ainda que, “o grande desafio era pegar num equipamento afundado pela cidade e pela construção da VCI e coloca-lo à superfície”.
O concessionário, que será responsável por todo o investimento, fica obrigado a cumprir o programa delineado pela Câmara do Porto nos próximos 30 anos, findos os quais, o equipamento ficará municipal. Nesse período, a Câmara do Porto também ocupará parte do Matadouro, onde desenvolverá a parte cultural e de coesão social associada.