Chalé das Três Esquinas ©João Morgado
Nos próximos dias 4, 5 e 6 de Maio, realiza-se em Rianxo, Espanha, a 5ª edição do “Fórum de Reabilitação de Rianxo”, um evento organizado pelo arquitecto Carlos Henrique Fernández Coto, que reúne anualmente importantes especialistas em restauro de materiais, edifícios e espaços urbanos, tratando também este ano pela primeira vez intervenções sobre a paisagem.
Portugal estará representado pelo arquitecto Tiago do Vale, cuja apresentação incidirá sobre três modos distintos de intervenção na reabilitação de edifícios e terá lugar no dia 5 de Maio.
Reabilitações, construções e reconstruções
Ao CONSTRUIR, Tiago do Vale avançou os temas que iria abordar, começando pelas
reabilitações de construções de finais do século XIX, com o exemplo do Chalé das Três Esquinas. Recorde-se que o projecto do Chalé, “constitui um exemplo claro da influência brasileira na arquitectura portuguesa do século XIX mas é, também, um caso singular nesse contexto particular”, pode ler-se na sinopse do projecto.
“O Chalé das Três Esquinas foi construído segundo o modelo idealizado de um chalé alpino, popular no Brasil oitocentista (de proporções altas, janelas verticalizadas, telhados inclinados e beirados decorados)”, explica o arquitecto. “Devido a muitos factores, este é, provavelmente, um exemplar único de arquitectura oitocentista de matriz brasileira ainda de pé em Portugal”. Situado em Braga, junto à Sé, a arquitectura do Chalé é organizada pela caixa de escadas, definindo em cada piso dois espaços do mesmo tamanho, um a Leste e outro a Oeste. A natureza dos espaços evolui do público para o privado à medida que subimos desde a loja no piso térreo para as áreas sociais da casa (com a sala a Oeste e a cozinha a Leste) até aos quartos na parte mais alta.
De acordo com Tiago do Vale, a apresentação segue com a “reabilitação de construções da segunda metade do século XX que, embora pareçam menos interessantes são um tema muitíssimo premente para o futuro da reabilitação, recorrendo ao exemplo do Apartamento em Caminha”
Sobre este edifício, construído nos anos 80, Tiago do Vale refere na Memória Descritiva, que apresentava “tanto nas suas infra-estruturas como na sua organização o peso da passagem do tempo”. Num espaço que tinha “sobretudo limitações” e apenas 40m2 de superfície, as mesmas foram transformadas em potencialidade. “Como o apartamento só tem uma frente, por exemplo, tentamos transformar esta limitação num ponto de partida para a qualificação, descompartimentando e abrindo os espaços para a luz sempre que possível”. O resultado é um apartamento com detalhes claramente contemporâneos, mas onde, sublinha o arquitecto, “houve uma vontade de manter superfícies texturadas e pormenores capazes de humanizar a escala dos espaços. Tal conseguiu-se observando os anos 80 da construção inicial, mantendo o desenho original das sancas de gesso e introduzindo uma forte superfície cerâmica estampada na área da cozinha”.
Por último, Tiago do Vale leva ao Fórum a temática da reconstrução, utilizando o exemplo do Espigueiro-Pombal do Cruzeiro, um edifício construído em 2017 em Ponte de Lima que não tem “uma função convencional”, explica o arquitecto na descrição do projecto. “O espaço – uma fusão de casa na árvore e refúgio contemplativo – é o seu próprio propósito”. “É uma pequena joia da arquitectura vernacular minhota”, sublinha o arquitecto. Construída originalmente no final do século XIX, o seu ponto de partida foram dois espigueiros tradicionais sobre bases graníticas. “Uma cobertura comum reuniu-os, debaixo da qual se deu forma a um pombal. Finalmente, o espaço entre ambos os espigueiros usou-se para a secagem de cereais, com dois grandes painéis basculantes controlando a ventilação”.