Nos últimos 15 anos, a Broadway Malyan assinou inúmeros projectos de retail, requalificou e mudou-se para a emblemática Estação do Rossio, trabalhou em Portugal, na América Latina, na Europa, em África e na Ásia e foi-se ajustando ao mercado. Em entrevista ao CONSTRUIR, Margarida Caldeira, Main Board Director da Broadway Malyan em Portugal, diz que acredita que os próximos anos vão ser generosos.
Olhando para os últimos 15 anos e analisando o trabalho da Broadway Malyan e o mercado de uma forma geral, o que há a destacar pela positiva e pela negativa e de onde se pode tirar grandes lições?
Margarida Caldeira: Parece que estes 15 anos passaram a correr. Eu diria que há um primeiro período, de 2003 a 2008, que foi de euforia. Fizemos muita coisa, construímos muito e nós, Broadway Malyan tivemos a sorte de trabalhar muito nesta época que foi muito profícua e estimulante e em que o profissionalismo na área do imobiliário foi crescendo. Penso até que foi com essa base que mais tarde nos foi permitido ultrapassar a época mais difícil que veio a seguir. Dos finais de 2008 até 2014 foi um período muito difícil e nós possivelmente fomos uns dos primeiros o sofrer o embate porque, na altura, tínhamos projectos muito grandes e esses foram os que pararam primeiro. Na altura tínhamos uma equipa muito grande e tínhamos acabado de mudar para este edifício [Estação do Rossio] e tínhamos inclusive contratado gente nova. De repente vimos dois projectos enormes a parar e foi complicado. Consequência disso, em 2009 comecei a viajar para o Brasil e nessa altura começámos a trabalhar daqui para lá e também para África. Agora, passados três anos, olhando para trás reconhecemos que foi uma época dura mas os que ficaram estão provavelmente mais fortes e aprenderam muito.
Em 2015 sentimos que começou a recuperar, mas o mercado do Brasil e de África começou a desacelerar. Nessa altura começámos a ajudar os nossos colegas dos Emirados e paralelamente começámos timidamente a trabalhar no Norte da Europa e na Alemanha, fundamentalmente em remodelações de Centros Comerciais, um tipo de trabalho que continuamos hoje a fazer muito, porque de uma forma geral estão muito datados e precisam de ser redesenhados.
O ano de 2008 foi um ano em que a Broadway Malyan deu a conhecer muitos projectos de retail: o Fórum Barreiro, o Fórum Coimbra, o Glicínias de Aveiro…
E nessa altura estávamos também a iniciar o Fórum Setúbal que acabou por não ir para a frente. E depois começámos a fazer muito esse tipo de trabalho para o Brasil, mas mais na óptica do reposicionamento.
Foi também nessa altura que fizemos o Aeroporto de Lisboa, com um foco muito grande na área de retail.
E neste momento continuamos a trabalhar muito em remodelações de Centros Comerciais em Portugal, Espanha, Alemanha, Dinamarca, Suécia e em outros países da Europa.
Actualmente outra área muito forte para nós são os escritórios, em Portugal, no Porto e em Lisboa. O que é muito interessante e mostra uma dinâmica de mercado, porque quer dizer que haverá procura por parte das empresas o que representa postos de trabalho. São edifícios que deverão estar prontos nos finais de 2019 inícios de 2020.
Outro foco importante para nós é a hotelaria e no qual estamos com variadíssimos projectos. Fizemos as remodelações para o Grupo Minor, que comprou o Tivoli e remodelámos o Tivoli Lisboa, o Tivoli Carvoeiro, o Avani Avenida da Liberdade – uma nova marca do Grupo Minor -, a remodelação da Quinta das Lágrimas e neste momento estamos a trabalhar num edifício de raiz que tem um conceito novo, localizado junto ao Parque das Nações, que se vai posicionar pela diferença, mas que para já, não posso adiantar mais detalhes. Estamos também a trabalhar na hotelaria no Algarve e com projectos de raiz na área residencial, em Lisboa.
Portanto, eu que julguei que o mercado seria muito o da Reabilitação Urbana – e é -, mas vão surgir também muitos edifícios novos. E isto aconteceu no último ano e meio.
Em 2014, os projectos em Portugal representavam 3% da nossa facturação e este ano vamos fechar com quase 90%.
Em 2009 escreveu um Artigo de Opinião para o CONSTRUIR sobre “Turismo Sustentável” e que resultou de ter juntado um conjunto de pessoas para discutir o tema e do qual surgiu um conjunto de ideias e propostas para a cidade. Entre elas a requalificação da frente ribeirinha, um novo Terminal de Cruzeiros e a criação de referências de arquitectura contemporânea. Coisas que, acabaram por acontecer. Hoje, voltando a olhar para Lisboa, o que ainda lhe falta?
Hoje vejo uma Lisboa muito mais luminosa. Enquanto estivermos nas notícias por boas razões, creio que vai continuar a existir investimento. Portugal tem beneficiado até de um mercado que até então não existia, que é o mercado Americano, que é muito grande e muito forte.
O que eu acho que falta e isso seria muito bom, era termos a retenção dos nossos talentos e até de incentivar jovens a vir para cá. Nós podemos ser a “Califórnia da Europa” e podemos atrair pela qualidade de vida.
Olhando para Lisboa, ainda há muita coisa por fazer. Por exemplo, da Baixa até à zona do Parque das Nações há muito para crescer, mas temos de o fazer de um modo sustentável e para isso precisamos de população.
Para além disso, Lisboa tem de continuar a investir na segurança e na limpeza, tem de se reajustar, mas esse é um trabalho que está a ser feito. E depois, o investimento nas ciclovias e nas áreas verdes que está a ser feito é também muito importante, mais do que se calhar pensamos, porque isso é o futuro.
Entre os projectos realizados nestes últimos 15 anos está o da Estação do Rossio. Podemos considerar um highlight?
Sim, claro. É um projecto único e tornou-se ainda mais porque nos mudámos para cá. Edifício histórico, com este impacto e que seja uma estação, foi o único projecto até à data. E permitiu-nos dar uma nova praça à cidade também.
E o “World of Wine”, em Vila Nova de Gaia?
É um projecto muito interessante, que pretende aumentar a permanência dos turistas no Porto. E não há dúvida que será um projecto que funcionará como uma âncora forte. O projecto permitiu reabiitar vários armazéns que estavam votados ao abandono e são 50 mil m2 de edifícios, com um conteúdo que vai do “Wine Experience” – que vai dar a conhecer toda a história do vinho em Portugal; ao “Museu da cortiça” – que é uma das nossas bandeiras e uma oferta gastronómica ímpar num sítio com uma história tão rica. É um conjunto urbano, dentro de uma malha histórica imponente onde conseguimos respeitar todas as coberturas dos armazéns que em termos arquitectónicos é muito marcante daquela área da cidade e que vai permitir dar vida a uma zona que estava abandonada. Vai fazer a diferença.
Diria que em 2020 vai haver muitas novidades, vai ser um bom ano. Auguro uns próximos anos muito generosos. Aliás, a Europa toda está assim.
Em 2016 comemoraram os 20 anos em Portugal e registaram o melhor ano de sempre. É expectável que se repita?
Eu acho que foi uma conjugação de vários factores: estávamos a colher os frutos de termos ido para fora e a trabalhar muito no Dubai. Neste momento, o nosso maior mercado é Portugal mas estou convencida de que o nosso mercado na Europa vai continuar a crescer e África vai voltar. Portanto acho que esse cenário poderá voltar a repetir-se.