Porque os arquitectos portugueses devem responder à Open Call da FAP ?
“Trata-se da única plataforma que permite a apresentação simultânea de uma ideia a 20 das mais importantes instituições culturais (pan-)europeias”, Manuel Henriques, Director Adjunto da Trienal de Lisboa
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A plataforma europeia, Future Architecture Platform (FAP), da qual a Trienal de Arquitectura de Lisboa faz parte desde 2015 e a Fundação Calouste Gulbenkian desde 2017, lançou o 3º Open Call, no sentido de convidar arquitectos e colectivos multidisciplinares a participar no Programa Europeu de Arquitectura 2018. As candidaturas estão abertas até 8 de Janeiro de 2018.
“Com a certeza da ligação entre excelência em Arquitectura e promoção de uma geração de novos talentos, a Trienal reafirma esta iniciativa para dar a conhecer projectos nacionais em diferentes países como Ucrânia, Itália, Alemanha, Suíça ou Dinamarca a Roma passando por Berlim”, sublinha a Trienal de Arquitectura.
Recorde-se que, a FAP, é uma plataforma, coordenada pelo Museum of Architecture and Design de Ljubljana, que se enquadra na iniciativa europeia Europa Criativa, uma acção que visa promover a mobilidade e visibilidade de artistas e obras e promover o desenvolvimento de talentos emergentes. Entre as instituições que fazem parte da plataforma estão museus, festivais, agências, produtores e instituições académicas da União Europeia, que promovem a criatividade para aproximar as cidades e a arquitectura do público.
A FAP, com o objectivo de promover o intercâmbio e o networking, reúne 20 instituições e organizações ligadas à Arquitectura – a Trienal de Arquitectura e a Fundação Calouste Gulbenkian são as portuguesas – que, neste contexto, “não são mais que a montra europeia e o palco em que as sinergias acontecem no sentido de fazer brilhar os projectos e ideias transformadoras dos profissionais em começo de carreira”, refere a Trienal de Lisboa.
Todas as candidaturas feitas serão publicadas no site oficial da Future Architecture Platform sendo, numa primeira fase, avaliadas pelo conselho dos membros e pelo público.
Os candidatos selecionados serão posteriormente convidados a apresentar a sua ideia na Conferência de Matchmaking no Museu de Arquitectura e Design, em Liubliana, onde os membros da Future Architecture levarão a cabo uma segunda selecção dos participantes para integrar as suas actividades.
Em 2018, os eventos previstos são 3 exposições, 5 conferências, quatro ciclos de palestras, workshops, Summer Schools, assim como actividades de edição e de prototipagem.
A plataforma compromete-se a cobrir despesas de deslocação e alojamento aos seleccionados da primeira fase. Aos seleccionados da segunda fase, serão oferecidas as despesas de viagem (dentro da UE), de alojamento assim como um honorário pela sua participação nos eventos.
Nota ainda para o facto de, o anterior Call for Ideas, ter contado com cerca de 300 candidaturas, 26 das quais portuguesas.
“A FAP é muito mais do que uma plataforma”
Filipe Estrela e Sara Neves (www.estrelaneves.com), são dois arquitectos que têm vindo a desenvolver projectos juntos desde 2008 e, desde 2015, dedicam-se em exclusividade a uma prática conjunta.
Gostam de projectos imersivos de longa-duração, que lhes permita participar nas três fases que consideram essenciais para produzir impacto a longo prazo: Tradução (diagnóstico e planeamento), Transformação (projecto e construção) e Transmissão (investigação, consciencialização e capacitação). Acreditam que o arquitecto não deve de ser um executante passivo, por isso procuram fazer parte da construção das problemáticas e definição dos programas. Além de responderem a encomendas desenvolvem também projectos auto-propostos para necessidades e oportunidades que identificam. Trabalham geralmente em parceria com outros profissionais, instituições publicas e/ou privadas e com os beneficiários de cada projecto, de forma integrada, procurando contrariar a sobreposição de layers das diferentes especialidades e responsabilidades.
Em 2016 e 2017, Filipe Estrela e Sara Neves, responderam ao convite da 1ª e 2ª Open Call da Future Architecture Platform e das duas vezes, foram seleccionados.
Ao CONSTRUIR explicaram o que os levou a aceitar o desafio: “desde o inicio da nossa actividade em conjunto que gostamos de nos auto-propôr para desenvolver projectos, de procurar soluções para problemas e/ou oportunidades que identificamos à nossa volta. Isto permite-nos ter mais poder de decisão sobre o programa e o propósito dos projectos, em oposição ao modus operandi mais tradicional de um arquitecto que dá forma a uma intenção específica pré-definida. A maior parte dos concursos para arquitectos alinha-se com o método de trabalho mais tradicional: é lançado um desafio específico, com um programa, um sítio, um cliente, um orçamento… até mesmo quando são apenas concursos de ideias, sendo esperado que nós arquitectos consigamos traduzir – o mais literalmente possível – todos estas directrizes em espaço.
A Future Architecture Platform fascinou-nos desde o início pela liberdade que concede, porque não impõe um programa, um lugar, uma forma de pensar ou um caminho a seguir, apenas convida-nos a partilhar as nossas convicções, o que pretendemos mudar com estas, e o que temos feito para as pôr em prática. Quando encontrámos o Open Call, identificámo-nos de imediato com a iniciativa e percebemos que era uma oportunidade que queríamos agarrar”.
Na primeira edição, em 2016, submeteram um projecto de habitação desenvolvido para o Norte da India. “Foi um projecto a longo prazo, com muitas vertentes – foi desenvolvida e construída uma casa modelo, um modelo de capacitação da mão de obra local, um modelo de dinamização da economia local – e também com muitos actores, de diferentes culturas, contextos e áreas do saber. Um projecto com múltiplos objectivos – melhorar as condições de habitabilidade, a emancipação da mulher, a reformulação dos padrões de higiene…etc. – em que a arquitectura é apenas uma pequena parte e um veículo para materializar intenções mais amplas. O projecto foca-se na importância de desenhar paradigmas mais do que formas, segundo processos colaborativos, com forte participação de quem for viver esses paradigmas diariamente. Daí submetemos a nossa ideia sob o nome ‘Self-constructed Paradigms’.
No 2º Open Call, que decorreu durante este ano, submeteram um projecto que consideram “mais especulativo” e que partiu de uma inquietação de ambos, enquanto habitantes da cidade do Porto e que, explicam, “cresceu enquanto desenvolvíamos um projecto de reabilitação de um prédio”, também no Porto. “É um exercício de procura de uma tipologia habitacional para as ‘cidades ocidentais’ que estão a ser directamente influenciadas pela 4ª Revolução Industrial – em que tudo é interoperável e coordenado remotamente. Esta revolução está a transformar os padrões de emprego (trabalho temporário, trabalho á distância, prevendo-se inclusive a extinção de milhões de postos de trabalho) e consequentemente está a modificar a forma como a sociedade se organiza, permanece e desloca no espaço. Alterações que acontecem a uma velocidade muito superior às respostas para garantir segurança, liberdade e equidade no processo de transformação. Na nossa proposta, que (ironicamente) chamámos ‘airpnd – air profit and dwell’, especulamos como poderá ser desenhada uma matriz que intersecte harmoniosamente a diversidade nas cidades, sendo que essa diversidade hoje tem duas categorias adicionais e estruturais na actual organização das cidades: os habitantes permanentes e os habitantes temporários, os trabalhadores e os turistas.
Em entrevista ao CONSTRUIR, Filipe Estrela e Sara Neves, referem que o mais positivo da iniciativa “é o facto de ser muito mais do que uma plataforma. Por detrás do que vemos online está uma rede de relações pessoais e profissionais activa, que tem vindo a crescer e a solidificar-se”.
Prova disso, sublinham, é o facto de, paralelamente às actividades do programa já terem feito “concursos e propostas com outros participantes da plataforma, já os visitámos nos seus países, já os recebemos em nossa casa. É efectivamente uma rede de relações humanas, física, à moda antiga! Isto tudo deve-se, na nossa opinião, ao modelo da Future Architecture Platform, que oferece aos jovens seleccionados a oportunidade de, em conjuntos com outros participantes, desenvolver exposições, conferências, workshops em várias cidades da Europa. Experiências intensivas que fomentam processo de criação conjunta, de reconhecimento de novos lugares em conjunto, jantares, debates. Experiências que juntam pessoas de várias nacionalidades e culturas, com projectos, convicções e objectivos muito distintos mas que partilham a vontade de querer propor coisas que mudem e melhorem a sociedade actual”.
Filipe Estrela e Sara Neves, sublinham ainda que “a rede não é exclusiva aos participantes, este espírito é aliás impulsionado pela disponibilidade e abertura dos organizadores, que diluem as hierarquias e nos envolvem num só circulo. Mas, apesar deste espírito comum, a oportunidade que tivemos de conhecer, discutir e trabalhar com outros arquitectos que, tal como nós, estão agora a iniciar os seus percursos, foi o que mais nos marcou ao longo do percurso neste programa. Fomos crescendo profissionalmente agarrados a referências que actuaram noutro tempo. A Future Architecture Platform fez-nos compreender o poder de sermos influenciados por pessoas que, estão tal como nó,s à procura de respostas para o futuro do nosso tempo. Pessoas que ainda não têm percursos consolidados e se permitem questionar mais, ter mais dúvidas e olhar mais em volta à procura. A nossa expectativa é continuar a fazer parte deste círculo”.
Uma ideia, 20 instituições
Manuel Henriques, Director Adjunto da Trienal de Arquitectura de Lisboa, recorda ao CONSTRUIR, porque os arquitectos e criativos portugueses devem responder à Open Call da Future Architecture Platform. “Trata-se da única plataforma que permite a apresentação simultânea de uma ideia a 20 das mais importantes instituições culturais (pan-)europeias. É um acesso privilegiado às pessoas que dirigem os programas que estas instituições gerem e que está à distância de um upload. A simples participação é em si uma semente para uma potencial colaboração, mesmo que aquela ideia não venha a ser seleccionada por nenhuma das instituições. Desde já porque as instituições podem interessar-se por essa proposta para outros programas mas também porque o processo de candidatura é público, tornando-se uma montra de enorme visibilidade”. Manuel Henriques lembra que, “frequentemente as colaborações com os membros vão para além do projecto que deu origem ao primeiro contacto”.
Por outro lado, continua, “notámos que a adesão de ideias vindas de Portugal não foi muito expressiva nos dois primeiros anos pelo que nos parece uma óptima aposta submeter uma ideia, dar a conhecer o trabalho ao mundo e receber um convite para voar até Copenhaga, Tirana ou Kiev para a apresentar em contextos diversos e sempre intelectualmente muito estimulantes”.
Para o Director Adjunto da Trienal de Arquitectura, a plataforma tem duas grandes valências.“Por um lado é um extraordinário mecanismo para a difusão da cultura mundial de forma geral e da arquitectura em particular. O facto de convidar pessoas de todo o mundo a participar com ideias sem qualquer barreira ou briefing, permite que aconteça o que de facto acontece, uma diversidade de países participantes e de projectos artísticos extraordinária. Além de ser de participação muito simples, do ponto de vista prático, rege-se também por regras muito simples, uma das quais o facto dos membros da plataforma apenas poderem escolher para os seus programas, emergentes residentes em países diferentes do da sua sede, fomentando o intercâmbio de experiências e ideias entre países e entre participantes. Por outro lado, a plataforma funciona como uma extraordinária rede de estruturas que, trabalhando nas mesmas áreas ou em áreas conexas, vão encontrando, dentro e fora do âmbito da plataforma, projectos comuns e colaborações que vão neste momento para além do financiamento da União Europeia”.