“A pressão é constante para fazer bem em pouco tempo”
João Escaleira Amaram e Manuela Tamborino formaram o Estúdio AMATAM em 2012, fruto da necessidade de acompanhar um projecto de renovação de favelas em São Paulo
Ana Rita Sevilha
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“Fazer Arquitectura em qualquer parte do Mundo não é fácil, e em Portugal somos de opinião que ainda é mais penoso”. Desconsideração, honorários e a pressão para fazer bem em pouco tempo, são alguns dos factores enumerados por João Escaleira Amaral e Manuela Tamborino. “Se queremos alterar este ‘estado de coisas’ temos que ser nós enquanto classe a lutar por isso, e nesse sentido deveríamos ser mais corporativos, do que na realidade somos”.
Como analisam estes primeiros anos do gabinete?
Manuela Tamborino e João Escaleira Amaral:Têm sido um constante desafio! Iniciámos este percurso em altura de plena crise económica em 2012, quando à nossa volta víamos ateliers a fechar e colegas a imigrar.
Não foi uma decisão planeada, mas sim uma necessidade, visto que tínhamos acabado de ganhar um projecto de renovação de favelas em São Paulo, com o Coletivo Urbano, e o acompanhamento do projecto obrigava a uma disponibilidade a 100%.
Iniciámos os dois, eu e a Manuela, e só em 2016 formalizámos a constituição do Estúdio AMATAM. Temos crescido de um modo gradual, não só em volume de trabalho, mas também no número de colaboradores que connosco partilham este trajecto.
As dificuldades foram várias, mas posso destacar a constante necessidade de melhoria da estrutura/organização do atelier de modo a torna-lo mais eficiente de forma a podermos dispor o máximo de tempo naquilo que realmente nos entusiasma, fazer projecto e concretizar em obra; e a prospecção de novos projectos e clientes que possibilitem a sustentabilidade do atelier. Infelizmente, a formação em Arquitectura não nos prepara para os desafios de gestão de um atelier, moldam-nos para o conhecimento nas áreas conceptuais e técnicas de projecto, mas no que diz respeito à gestão de um atelier, ao contacto com os clientes, é completamente inexistente.
Contudo, os diversos projectos que temos vindo a concretizar têm-nos permitido olhar para o futuro com optimismo, visto que nos têm feito crescer como pessoas e profissionais.
Como tem sido fazer arquitectura em Portugal?
Fazer Arquitectura em qualquer parte do Mundo não é fácil, e em Portugal somos de opinião que ainda é mais penoso, visto que sofremos de uma certa desconsideração profissional por parte da sociedade, e dos actores do sector da construção, que prejudica e mina a nossa intervenção profissional. O último episódio que levou à alteração da lei 31/2009, de 3 de Julho, é sinónimo desse sintoma. Contudo, acreditamos que se queremos alterar este “estado de coisas” temos que ser nós enquanto classe a lutar por isso, e nesse sentido deveríamos ser mais corporativos, do que na realidade somos.
Para além desta questão de ordem mais sociológica, a crise económica também obrigou os arquitectos a reinventarem o seu modo de estar. Constatamos que os projectos passaram a ser mais pragmáticos, ou seja, a redução de orçamentos levou a que as respostas às questões de projecto fossem mais criativas e acertivas e com menos meios.
A Arquitectura também começou a ser mais democrática e a chegar a um maior número de pessoas. Apesar de termos passado por uma grave crise, e ainda estarmos todos a tentar recuperar, tem sucedido que as gerações mais novas que estão à procura de primeira habitação, ou simplesmente remodelar o seu espaço de habitar, na nossa opinião, devido à excelente formação académica que dispõem estão mais informados e atentos à mais-valia de trabalhar com um arquitecto, e não abdicam disso, o que tem trazido encomenda mais variada.
Outra situação que para o nosso Estúdio é muito “cara” são os projectos de legalização. Fala-se muito em reabilitação, mas continua-se a ignorar um problema que afecta a qualidade de vida de muitas pessoas, nomeadamente a ainda elevada extensão de Áreas de Génese Ilegal. Falamos de territórios que surgiram e proliferaram numa época muito particular da História do nosso País, e que continuam sem uma resposta integrada e transversal para a legalização plena das suas casas.
Têm ganho prémios e distinções a nível internacional. Esses prémios têm ajudado na encomenda? O que vos têm trazido?
Os prémios têm sido um “empurrão” ao nosso desejo de continuar a fazer mais e melhor. Procuramos pôr o melhor de nós em cada projecto, e sem dúvida é óptimo sermos também reconhecidos pelos nossos pares pela qualidade do trabalho desenvolvido.
Visto sermos um atelier de tenra idade, composto por jovens arquitectos, os prémios acabam também por nos dar uma dose extra de credibilidade. Apesar de não sentirmos que devido aos prémios tenha havido um acréscimo de consulta para fazermos projectos, acredito que o facto de termos ganho possa a jusante ser um factor diferenciador na escolha final do cliente.
O “Krush-It” foi o vosso mais recente projecto premiado. Na vossa opinião, o que conquistou o júri do Conselho Alemão do Design?
Acreditamos que possa ter sido a coerência do projecto. O espaço disponível para a implementação do programa era curto, pelo que tivemos que desenvolver uma solução que fosse muito eficiente, mas que ao mesmo tempo fosse interessante espacialmente. Procurámos por isso tirar partido da altura do espaço, para moldarmos os ambientes. Os materiais utilizados foram escolhidos com base numa palete cromática de pretos e cinzentos, com texturas lisas e irregulares, com superfícies brilhantes e rudes, numa conjugação de materiais de baixo custo com soluções mais alto-padrão. Talvez, a coerência neste equilíbrio, possa ter convencido o júri.
Quais as grandes dificuldades com que se deparam no vosso dia-a-dia?
Podemos passar uma atitude um pouco ingénua, mas a falta de tempo para desenvolver projecto e a compreensão da parte dos clientes de que o tempo é condição essencial para a qualidade final da proposta, tem-se revelado uma das maiores dificuldades. A pressão é constante para fazer bem em pouco tempo. Vivemos numa sociedade imediatista, com um acesso voraz à informação, pelo que muitas vezes acabamos por ter que competir com o PINTEREST ou outras plataformas, porque alguém viu aquela e outra imagem, e o arquitecto só tem que adaptar à solução de projecto. Procuramos sensibilizar as pessoas que as soluções têm que ser integradas no todo, e não são uma soma de partes, e que para isso acontecer há necessidade de ponderação e tempo para executar. Mas pronto, acho que não é de hoje que nos afligimos com a falta de tempo. Outra grande dificuldade continua a ser o valor dos honorários dos projectos de Arquitectura. A disparidade de valores praticados, leva a que os arquitectos se “agridam” constantemente na tentativa de fechar a adjudicação de um projecto, não defendendo o valor do seu know-how especializado.
Como olham para a Ordem dos Arquitectos e para o papel desempenhado pela mesma?
A Ordem dos Arquitectos tem uma função basilar na defesa da Arquitectura e dos Arquitectos enquanto classe profissional. Neste sentido, acredito que a Ordem dos Arquitectos é um espelho de toda a classe, ou seja, se por vezes constatamos que devia haver mais iniciativa da parte da OA na defesa e promoção da Arquitectura e dos arquitectos, também é talvez porque cada um de nós deveria fazer um pouco mais por isso.
Como olham para o futuro do Estúdio AMATAM? Onde gostariam de estar dentro de alguns anos?
Com bastante optimismo e entusiasmo! Queremos poder manter a extraordinária equipa que temos e continuar a fazer aquilo de que gostamos, projectos com muita identidade. Não procuramos crescer em número, mas sim crescer em qualidade. Esperamos continuar em Almada, uma cidade na qual gostamos de nos perder, e se possível num atelier com vista para o Tejo e Lisboa, acho que não podemos pedir mais!
Em que projectos estão a trabalhar actualmente?
Neste momento são vários os projectos em andamento, desde moradias novas, reabilitações em espaço rural, remodelações e ginásios. Tem sido um ano de trabalho intenso em atelier, pelo que estamos todos ansiosos por começar a ver os projectos a saírem do papel e ganharem vida em obra.