A cadeira Pené, foi a primeira do Projecto Martins e foi desenhada pelo arquitecto Pedro Ramalho
“Projecto Martins” coloca arquitectos a desenhar móveis
Queremos produzir uma colecção de móveis que represente algum do design dos arquitectos portugueses no século XXI”, refere Nuno Miguel Borges
Ana Rita Sevilha
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Foi em 2007 que Nuno Miguel Borges, decidiu criar o Projecto Martins, dando-lhe o mesmo “sobrenome” da família proprietária da Paularte. Desde então, diversos arquitectos e artistas portugueses têm vindo a ser convidados para desenharem peças de mobiliário, e algumas delas integram agora uma exposição que a Casa da Arquitectura acolhe. Entre os autores representados na mostra estão, Luísa Penha, Pedro Ramalho, José Manuel Carvalho Araújo, Maria Manuel Oliveira, Silvia Krivisikova, João Azinheiro e Virgínio Moutinho.
Dez anos volvidos, Nuno Miguel Borges conta ao CONSTRUIR porque tudo começou: “foi a vontade da Paularte em produzir móveis desenhados por arquitectos, em trabalhar com autores contemporâneos que saibam valorizar o saber de trabalhar a madeira que existe na empresa, herdeira da velha tradição da marcenaria da cidade de Braga”. O Projecto Martis é “uma maneira interessante e feliz de reunir autores criativos portugueses e uma empresa de mobiliário”.
Para o mentor do projecto, “a qualidade dos autores que participam no projecto, a identidade das peças que expressam o estilo de cada arquitecto, a diversidade dos móveis da colecção, a criatividade e a qualidade da mão de obra da Paularte” são os factores que distinguem o projecto dos demais.
“Somos contra a massificação”
Como missão, Nuno Miguel Borges revela ao CONSTRUIR que o projecto quer dar corpo a peças de autor e fazer história. “Queremos produzir uma colecção de móveis que represente algum do design dos arquitectos portugueses no século XXI”. Associado a isso, o autor do projecto sublinha: “somos contra a massificação. Queremos produzir peças diferentes, bem produzidas e numeradas”. Um posicionamento que lhes tem valido uma “aceitação sólida e constante, com vendas regulares”.
Para o futuro, Nuno Miguel Borges ambiciona que o Projecto Martins continue a produzir peças “de grande qualidade”, continue a “trabalhar com mais autores” e consiga internacionalizar-se. Para já, garante, “estamos a trabalhar duas peças novas mas ainda estão na fase de inicial”. Ficamos à espera, para as conhecer.
As peças
Em exposição na Casa da Arquitectura, em Matosinhos, estão algumas das peças do Projecto, que de seguida damos a conhecer.
A cadeira Pené, foi a primeira do Projecto Martins e foi desenhada pelo arquitecto Pedro Ramalho. “A ideia inicial era fazer uma cadeira relativamente reduzida e empilhável para o meu projecto de renovação do Teatro Valadares, em Caminha. A cadeira não foi utilizada no projecto e o desenho acabou por evoluir lentamente para uma cadeira de mesa de grande comodidade desenvolvida para o Projecto Martins” explica o arquitecto.
Um dos aspectos que mais deteve Pedro Ramalho na fase do desenho foi a posição dos braços. “A ideia de que o braço em descanso deve ter aquele tipo de inclinação. Estudei bastante e foram feitos vários exercícios por forma a que os braços descansassem em cima dos braços da própria cadeira.”
A Pené é fabricada em carvalho, “uma madeira nobre, com grande resistência e um envelhecimento agradável: vincando o veio da madeira e ganhando um oxidado na sua tonalidade clara que a torna muito atraente”, explica.
Byo-Bu” um biombo desenhado pela arquitecta Luísa Penha que junta madeira de tola com um tecido ancestral português – o burel da Serra da Estrela.
A concepção do biombo do Projecto Martins é resultado de uma circunstância feliz. “Precisava de um biombo para uma obra, e tinha encontrado um tecido numa viagem que tinha achado interessante usar. Na primeira oportunidade, juntei o útil ao agradável, e foi assim que escolhi esta peça para o Projecto Martins” explica a arquitecta.
“No desenho da peça em si, tive sempre como objectivo que fosse um módulo, que se podia associar, e que por isso tem aquela prisão. Depois estudei a peça e simplifiquei até chegar a uma forma mínima. No fundo é um processo normal de projectar uma casa, um prédio, um biombo, ou outra coisa qualquer. É resolver um problema. É ter uma necessidade e resolver um problema”.
A madeira escolhida foi a tola, que Luísa Penha achou a indicada para a peça: “não é muito pesada e é boa para mobiliário com pouco desgaste”.
O biombo Byo-Bu é lançado em duas versões em 2017: uma com um painel em burel amarelo canário e dois em amarelo torado e outra com os três painéis com tecido de cor verde néon.
A UEA (Uma Espécie de Armário) é uma peça original do arquitecto Carvalho Araújo. “A ideia para a UEA foi o desafio que recebi para desenhar um armário. Uma tarefa ingrata pois um armário é uma caixa com portas. A forma de contrariar a situação foi fazer uma critica ao conceito de ‘armário’ e desenhar uma nova peça. O que é um armário? Para que serve um armário?”
O resultado foi surpreendente, diz o arquitecto. “Limitei as portas ao mínimo – a opção pela guilhotina é menos óbvia e remete-me para as poucas boas referências de armários: os arquivistas das repartições –, crio uma prateleira e um apoio para ser usado sem regra. Os materiais escolhidos respeitam a atitude critica e fui buscar os que no meu tempo de escola se usavam. A UEA é folheada no sentido contrário para mostrar autenticidade e foi executada com um grande rigor de marcenaria
Pap, da autoria de Maria Manuel Oliveira quis reinterpretar uma peça que existia nas salas ou bibliotecas para guardar livros e que era rotativa. “Eu conheci algumas bastante bonitas, e sempre pensei que era um móvel muito interessante para guardar os livros e revistas em uso e que se amontoam por todo o lado numa casa.”
As livreiras antigas eram móveis que tinham uma escala adequada às casas da época, e eram, portanto, muito largas e baixas, com dois andares, e um desenho lateral trabalhado. “O que eu fiz não foi inventar um móvel novo mas reinterpretar uma peça, adequando-a à realidade contemporânea. Nesse sentido e pensando nas salas actuais, de uma forma geral com áreas reduzidas, a ‘Pap’ diminuiu em largura e cresceu em altura, para três níveis, passando a ser mais lida na vertical do que na horizontal, como eram as antigas livreiras.”
Na Pap, os três andares são diferenciados, uma vez que os livros e revistas têm diversas alturas. “O (re)desenho foi pensado em função daquilo que pode ser arrumar livros numa sala contemporânea; enfim, livros e não só, porque também imaginei a livreira como um móvel onde se podem recolher alguns objectos.”
A madeira escolhida foi o pau-cetim e a panga panga. “Uma madeira de cor quente, clara e uniforme para o exterior – não poderia ter um veio marcado, porque não “casariam” os lados com o topo – e uma cor muito escura para as superfícies interiores, de maneira a dramatizar as furações e conferir maior espessura à Pap, que é uma peça relativamente pequena e pouco profunda”.
Apoiada sobre uma base que a faz assentar com solidez no chão, a livreira é um paralelepípedo que apenas sugere tensão quando roda.
“Eu não quis um objecto muito expressivo, apetecia-me antes uma peça com sentido utilitário e discreto, que as pessoas pudessem vir a usar de forma diferenciada; tem a ver com a maneira como desenho, não gosto muito de fazer coisas ruidosas…”, confidencia Maria Manuel Oliveira.
O Pendureiro é um suporte de roupa original, desenhado pelo arquitecto João Azinheiro e pela artista plástica Silvia Krivosikova. É um volume sem fundo, de cor violeta, vermelho e castanho, que combinadas com a forma desigual e geométrica da peça, resultam num móvel “elegante e discreto”, sublinha o Projecto Martins.
A mesma fonte explica que, o material utilizado foi o Valchromat em que as cores foram combinadas: vermelho por fora, excepto nos topos onde é violeta, e castanho por dentro. O interior é forrado por uma placa perfurada, o que permite que se consiga um efeito cénico simples mas ritmado e aconchegante.
“A ideia base da Millepede obedece ao conceito de móveis esculturas que eu ando a desenvolver para a Paularte. Neste caso, é a reinterpretação de um móvel clássico com um olhar lúdico e de jogo, com um certo humor. Nesse sentido, desenhei as pernas de uma centopeia em movimento fixadas à parte superior do móvel que é uma caixa clássica” explica Virginio Moutinho, autor da peça.
O móvel de sala tem duas gavetas e quatro portas. As madeiras foram escolhidas de forma a reflectirem duas realidades que se conjugam num objecto, em que a parte de cima tem uma madeira escura, de pau-ferro e um desenho muito cuidado, e em baixo os pés em faia mostram leveza e rapidez. “É um móvel escultura e ao mesmo tempo um móvel em movimento, está pousado mas pronto para partir para um outro sítio da sala ou da casa”.
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