Campo Pequeno: de praça de touros a centro de lazer
Inaugurada a 18 de Agosto de 1892, a Praça de Touros do Campo Pequeno foi desde a sua génese um caso raro, tendo sido construída em menos de um ano. […]
Ana Rita Sevilha
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Inaugurada a 18 de Agosto de 1892, a Praça de Touros do Campo Pequeno foi desde a sua génese um caso raro, tendo sido construída em menos de um ano. Na altura, a cidade reclamava da carência de um equipamento com as suas características, uma vez que a Praça do Campo Santana tinha sido demolida em 1889 e que as touradas tinham uma importância social considerável e eram uma das mais importantes manifestações culturais do País.
José Dias da Silva desenhou-a em estilo neoárabe e isolada no centro de uma praça, o que na altura, por si só, já revelava uma originalidade urbanística, potenciada pelo revestimento em tijolo aplicado nas paredes exteriores do edifício e pelas cúpulas bolbadas que coroam os seus quatro torreões.
Com cerca de 8000 lugares, a Praça tornou-se a catedral da tauromaquia portuguesa, sendo palco de grandes lides e tragédias tauromáquicas, mas não só. O equipamento recebeu também a realização pontual de comícios, espectáculos musicais e circenses. Contudo, a inexistência de uma cobertura sobre a arena limitava a sua utilização, que estava sempre dependente das condições atmosféricas. Cem anos volvidos da sua inauguração, a Praça classificada como Imóvel de Interesse Público em 1983, encontrava-se muito degradada devido à falta de obras de conservação e investimento na melhoria das suas infra-estruturas. Neste contexto, em 1991 e por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, foi estabelecido um programa de recuperação do edifício, assente em três objectivos: o seu restauro e reabilitação, a construção de um parque de estacionamento subterrâneo e a construção de um pequeno centro comercial cujos lucros viabilizassem financeiramente a intervenção.
Centro de Lazer
Para colocar em prática o projecto de reabilitação e restauro, foi constituída a Sociedade de Renovação Urbana do Campo Pequeno (SRUCP), a quem foi dada como contrapartida a exploração comercial do conjunto por um período de 100 anos.
José Bruschy, Pedro Fidalgo, Filomena e Lourenço Vicente foram os autores do projecto de arquitectura que contou ainda com outras premissas, entre elas a remoção do trânsito automóvel que circundava a Praça, a manutenção dos plátanos que ladeavam os perímetros do jardim envolvente e a transformação do monumento numa sala de espectáculos polivalente, cobrindo a área das bancadas e arena com uma cúpula.
Resultado do programa e das premissas definidas, a equipa de arquitectos concebeu uma estrutura enterrada, em forma de coroa, destinada a um parque de estacionamento com 1.250 lugares, entre os pisos -4 a -2, e ao nível do piso -1 um centro comercial e de lazer, com supermercado e 8 cinemas, ligados por corredores convergentes, construídos sobre as fundações do edifício, a uma estrutura enterrada central, localizada sob a área da arena, onde seria instalado um food court.
Quanto ao edifício da Praça de Touros, foi feito o restauro dos seus elementos construtivos mais importantes, assim como a pintura das cúpulas abolbadas com a cor azul que tinham originalmente. Para a potenciação da arena como sala de espetáculos polivalente, foram requalificados os espaços destinados ao público e áreas técnicas e criado uma área de restauração e esplanadas no piso térreo, bem como de um museu dedicado à arte tauromáquica. De destacar que, o projecto de estruturas que tornou viável as soluções propostas pelo projecto de arquitectura, foi assinado por José Câmara e o de estruturas da cobertura da arena, com um peso de 350 toneladas de aço, por Tiago Abecassis.
A obra teve início em 2000 e a sua inauguração como Centro de Lazer aconteceu seis anos depois, a 16 de Maio de 2016.
Ícone lisboeta
“Lembro-me de ter lido, numa entrevista que fizeram ao Frank Gehry, quando ele veio a Lisboa, por causa do projecto do Parque Mayer, e lhe perguntaram qual dos edifícios da cidade o tinham impressionado mais, ele ter respondido que haviam dois. Um era a Central Tejo e o outro o Campo Pequeno”, conta Pedro Fidalgo, um dos arquitectos responsáveis pelo projecto de reabilitação e renovação do Campo Pequeno.
Em entrevista ao CONSTRUIR, Pedro Fidalgo enumera a “mediação, persistência e muita paciência” quando o assunto é o projecto de requalificação que, sublinha o mesmo, “apresentava muitos desafios”. “Desde logo por se tratar de um edifício com um caracter arquitectónico excepcional, e muita visibilidade, no centro de Lisboa. Considerar todas as necessidades regulamentares e os interesses envolvidos – os da Câmara, da DGPC, dos promotores, dos arquitectos e engenheiros, os dos aficionados… E conciliá-los, foi o maior desafio”.
Para o arquitecto, que foi curador de uma exposição comemorativa dos 125 anos do Campo Pequeno, existem vários aspectos, de carácter arquitectónico, a destacar e sublinhar na vida do edifício.
“O momento mais importante foi o da sua inauguração, em 1892. Por várias razões”, entre elas a construção em menos de um ano, o facto de colmatar uma carência de um equipamento que a cidade reclamava, a sua construção num extremo das Avenidas Novas, que, lembra Pedro Fidalgo, “nessa altura pouco mais eram que um conjunto de arruamentos, com ‘meia dúzia’ de construções dispersas”. A Praça “veio trazer dinamismo a essa área da cidade que se encontrava em expansão, pelos milhares de pessoas que recorrentemente iam às corridas, o que funcionou um pouco como, aquilo a que chamamos hoje, equipamento âncora. Não foi essa a intenção, mas funcionou como tal”. “O segundo grande momento é o da reabertura da Praça, em 2006”, recorda. “Depois de décadas de abandono e decadência, o empreendimento é agora visitado por mais de 3 milhões de pessoas por ano e Lisboa ganhou um novo polo de atração”.
Bom senso
Num momento em que os projectos de reabilitação se somam na cidade, em que medida este projecto pode e deve ser visto como um exemplo de boa reabilitação em Lisboa?
Pedro Fidalgo diz que “a filosofia de intervenção definida para o projecto foi uma Filosofia de Bom Senso. Antes deste projecto ser aprovado já tinham sido apresentadas outras propostas que foram reprovadas. Relembro uma que pintava a Praça de cor-de-rosa, e outra que construía um enorme centro comercial sob as áreas verdes, e que, para o efeito, propunha o abate das árvores existentes. Esta intervenção valorizou sobretudo o carácter arquitectónico da Praça e é em torno dele que o projecto se desenvolve. A construção em subsolo não interferiu nas áreas verdes existentes, os arruamentos que envolviam o monumento antes da recuperação, por onde circulavam e estacionavam carros, foram transformados em áreas de circulação e estadia para peões, o desenho da cúpula só de longe é perceptível e não interfere com a arquitectura pré-existente, as circulações criadas entre a Praça, o Centro Comercial e Estacionamento, entre estes, a superfície, e a estação de metro vizinha, aumentaram a mobilidade urbana.
Poderia referir um vasto conjunto de aspectos que contribuíram para o sucesso da intervenção, mas, limitando-me apenas a um, refiro Bom Senso”.
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