“Procuramos criar uma rede colaborativa”
Em 2014, António Ruivo de Meireles, materializou a sua experiência nas áreas da inovação e da tecnologia ao serviço do sector da construção, prevendo o rumo que tomaria o processo […]
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Em 2014, António Ruivo de Meireles, materializou a sua experiência nas áreas da inovação e da tecnologia ao serviço do sector da construção, prevendo o rumo que tomaria o processo de desenvolvimento tecnológico deste mercado. Desta aposta, nasceu a ndBIM Virtual Building, empresa que presta consultoria especializada em Building Information Modeling (BIM), a metodologia que está a alavancar o salto tecnológico da construção e que levou já governos de vários países a elaborarem planos para a sua implementação a nível de contratação pública.
Em entrevista ao CONSTRUIR, António Ruivo Meireles explica o impacto da metodologia BIM em toda a fileira da construção e aborda a sua experiência de mais de uma década no campo da inovação e desenvolvimento dentro do sector.
Como se inicia o percurso da ndBIM?
Empresa nasceu no início de 2014. Começámos como uma empresa de consultorias e serviços, mas, inicialmente, muito focada na área da consultoria, isto é, criar competências em empresas de construção, em promotores imobiliários, também projectistas que quisessem começar a adoptar o BIM nas suas empresas. Eu diria que a maior parte dos nossos clientes estava em São Paulo, no Brasil. Mais do que em Portugal. São Paulo está muito avançado na adopção do BIM em comparação com Portugal e, portanto, houve uma procura muito grande, na altura, em várias cidades do Brasil, mas principalmente em São Paulo. Passado um ano, fruto da crise que se instalou no Brasil, houve uma diminuição da procura e isso gerou uma oportunidade boa, porque, aí, comecei a ter tempo para falar com algumas empresas em Portugal. Começámos então a trabalhar também em Portugal, sempre numa lógica de trabalhar principalmente construtores e promotores imobiliários. A opção de não trabalhar com projectistas não foi uma decisão tomada de uma forma explícita, mas acabou por acontecer.
Porquê?
Porque adoptar o BIM num atelier de arquitectura ou num gabinete de engenharia civil é menos complexo. Basta uma formação e vontade da equipa em mudar, uma vez que estamos a trocar somente um software 2D por um 3D com mais valências. Complexo é quando se pretende começar a trabalhar com BIM, misturando vários “stakeholders”, várias partes. Isso acontece quando se trabalha com um promotor imobiliário que contrata um gabinete de engenharia, um atelier de arquitectura e um construtor. Então, o processo para colocar essas várias partes a comunicarem entre si é que se torna complexo. Uma construtora compreende os subempreiteiros, a área de projeto, de orçamentação, de planeamento, a obra, o financeiro e, portanto, acabamos por ter várias áreas a trabalhar em conjunto sobre uma mesma base de dados.
E já conhecia bem esse cenário, pela sua experiência na Mota-Engil…
Trabalhei sete anos na Mota-Engil, é uma realidade que conhecia muito bem. Era o coordenador da área de Inovação da empresa e também o BIM manager, o coordenador da área BIM na empresa. Eu sempre gostei muito de pessoas, quer na componente de inovação, quer na de BIM, tinha, de alguma forma, que trabalhar com pessoas para que mudassem o actual processo de trabalho delas para um processo novo. E esses sete anos em que trabalhei nessa área, na Mota-Engil, fez com que eu ganhasse maturidade, enquanto profissional de engenharia, para saber implementar novos processos de trabalho. Aproveitei essa experiência para, quando comecei a criar a ndBIM, apoiar outras empresas, outras construtoras que não a Mota-Engil, a mudarem de um processo tradicional para um processo mais moderno, mais colaborativo, suportado em BIM.
E como se desenvolveu o resto do percurso?
Com a crise que se viveu no Brasil, começámos a trabalhar mais em Portugal, que também estava em crise, e começámos a explorar mais a área de serviço, ou seja, as empresas não demonstraram tanto querer criar a competência interna, porque isso exigia um investimento…
Mas é um investimento assim tão avultado?
O software não é muito mais caro que o AutoCAD. O problema é que, além do software, tem de se investir em formação e há uma curva de aprendizagem. Além de terem formação, as pessoas têm de saber que, no primeiro ano, vão perder produtividade, porque estão a aprender uma forma nova de trabalhar. E essa necessidade de investimento nas pessoas cria um paradigma: as empresas estão a despedir porque não têm trabalho ou porque o trabalho se reduziu mas, por outro lado, as pessoas que ficam, têm provavelmente de substituir-se às pessoas que saíram. A conjugação desses factores faz com que algumas empresas prefiram subcontratar e, deste modo, evitar o risco, em vez de fazerem tudo internamente. A ndBIM passou então de uma empresa que, inicialmente, tinha um perfil muito grande em termos de serviço de consultoria, para prestar, na mesma, consultoria e capacitar internamente as empresas – a empresas como a Teixeira Duarte ou a Elevo em Portugal e a CCDI, a Odebrecht, a Método Engenharia, a Edalco Construtora, a Caparaó entre outras no Brasil, – mas ao mesmo tempo se tornar um parceiro de confiança que funciona como um backoffice de serviços das empresas parceiras, como é o caso da Gafisa, da Brookfield entre outros. Desta forma, as empresas garantem que têm uma empresa dimensionada para um determinado nível de serviço, e quando têm picos de trabalho, têm um bom parceiro em quem confiam, que somos nós. Uma das parcerias que melhores resultados tem obtido é com promotores imobiliários que, no seu corpo técnico, têm normalmente economistas, financeiros, advogados (técnicos altamente qualificados responsáveis pela gestão do processo) e que muitas vezes não têm profissionais alocados às questões mais técnicas, de pormenor e operacionais de análise dos projetos. Estas empresas têm confiado em nós, na nossa capacidade, para os auxiliar quando tiverem de lançar um projeto de um empreendimento imobiliário ou um concurso a construtores garantindo-lhes um menor risco ao nivel de falta de coordenação ou erros e omissões no processo de concurso. Desde então, estamos em 2017, e vai ser um ano muito bom, em que criámos parcerias – vemos os clientes como parceiros – onde existe um nível de confiança muito elevado, através do qual ajudamos a que o empreendimento final seja um sucesso, sem derrapagens orçamentais, sem exceder prazos, etc. Eles têm a certeza absoluta de que aquilo que planearam é realmente o que vai acontecer, e que o retorno expectável é aquele que terão no final quando fizerem a venda do empreendimento. Para nós, tem sido uma evolução e uma surpresa os resultados que temos obtido já que os mesmos superam todas as nossas expectativas iniciais. Inicialmente, o nosso target de cliente era o construtor e temos caminhado para o início da cadeia, para opromotor imobiliário. Desta forma temos um impacto desde o início do processo e não somente na fase de construção. Vamos à génese do empreendimento e procuramos agregar valor logo nessa fase – no projecto, na concepção, no concurso. No final, o que acho que tem sido uma mais-valia e até enriquecedor é que todas as empresas com quem temos estado envolvidos vêem valor no processo. Não nos substituímos a ninguém, simplesmente agregamos valor ao que as empresas fazem. Isso cria um clima de colaboração muito bom, que traz transparência ao processo, algo que, de acordo com a minha experiência passada, não acontecia, todos se tentavam proteger de todos. Um arquitecto tinha um processo e rapidamente o queria entregar para ter a certeza de que recebia os seus honorários e que cumpria as suas estimativas de horas alocadas ao projeto (o risco que ele tem no processo tradicional é muito elevado devido às constantes alterações de projeto seja devido às interações com as outras especialidades seja porque o cliente somente tem uma percepção do projeto numa fase muito avançada do seu desenvolvimento). Com o BIM e com o tipo de serviços que prestamos, o que procuramos criar, em conjunto com os nossos parceiros, é uma rede colaborativa, em que todos trabalham para um objectivo último, que é ter um produto, um edifício, um projecto imobiliário que, no final, corresponde àquilo que o cliente – o promotor imobiliário – tinha como expectativa.
A empresa tem crescido desde então…
Sim. Inicialmente era só eu. Passados uns meses, contratei quatro pessoas e, entretanto, tínhamos cada vez mais serviços e actualmente somos oito pessoas. Agora vamos contratar mais duas pessoas e, à partida, devemos fechar o ano com 10 pessoas no escritório. A ideia é continuar a crescer. Acho que ainda não tivemos um cliente que, no final, não tenha visto o valor agregado que proporcionamos. Estamos sempre a viajar. Fora de Portugal, o Brasil é o nosso maior mercado – principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte
Portanto, no Brasil, mesmo com crise, continua a haver trabalho?
Muito trabalho. Neste momento, diria que 50% da nossa facturação é no Brasil, sendo o restante volume de facturação em Portugal e de forma mais residual noutros países.Temos uma dor de crescimento que se traduz em falta de tempo para explorar outros mercados. Acabamos por estar constantemente focados nos clientes actuais.
Isso também mostra que têm cada vez mais procura.
Sim. Existe uma filosofia segundo a qual, os clientes adquiridos são os mais importantes. Mesmo que seja um cliente novo, que potencialmente possa ser um belíssimo cliente, o cliente adquirido, aquele com quem já trabalhamos há um ano, continua a ser o mais importante. Portanto, procuramos fidelizar os clientes. O nosso objectivo último é o resultado do nosso cliente ser um sucesso, mesmo que isso ultrapasse um pouco aquilo que é o contrato inicial, porque isso fideliza o cliente. Sabemos que, se o serviço correr bem, o cliente vai lembrar-se de nós.
A ndBIM pode ser uma empresa útil na prestação de serviços num contexto de concursos públicos?
Para se utilizar o BIM num concurso público tem de se ir um pouco a montante e preparar legislação que institua o seu uso. Ou seja, um gestor de uma Parque Escolar, por exemplo, não tem, muitas vezes, a liberdade de contratar um serviço que não seja o standard dos serviços normalmente necessários para uma obra de uma escola, pois tem de obedecer a um conjunto de regras definidas e, a menos que haja uma nova portaria que institua que há uma especialidade – que é a especialidade BIM – que ele deve obrigatoriamente contratar, ele, mesmo que tenha essa visão, está limitado. Portanto, a nossa actuação principal tem sido no mercado privado porque, aí, o promotor, o gestor, toma as decisões que bem entender, desde que considere que isso traz maior valor para o seu projecto. Na área pública é um pouco diferente.
E no sentido de apoiarem as empresas do sector privado a apresentarem os seus projectos a concurso?
Isso sim. Por exemplo, agora estivemos envolvidos com uma construtora, que está a concorrer a um edifício público num país europeu. Basicamente, é um edifício com uma dimensão grande, maior do que é comum no país e, portanto, contrataram-nos para os ajudarmos a avaliar o risco de concorrerem a este projeto. Fazemos o modelo, avaliamos todas as quantidades e os trabalhos envolvidos e apoiamos a elaboração de erros e omissões para esta empresa. Depois, são eles próprios a avaliar se se justifica ou não concorrerem a esse projeto. É uma obra pública, somos contratados por uma empresa privada, como consultores, para os auxiliarmos a perceberem se aquela obra é ou não vantajosa para eles,até onde podem ir nos “apertos” dos preços e a partir de que ponto, potencialmente, irão perder dinheiro se ganharem a obra. De uma forma indirecta – sermos contratados por empresas privadas que estão a concorrer a concursos público ou a gerir obras públicas – é totalmente viável. Por outro lado, a ndBIM tem apoiado entidades públicas no sentido de desenvolver normas que mais tarde possam dar origem a portarias para um gestor de uma Parque Escolar ou de um hospital público poder contratar projectos ou consultoria BIM. É nesse sentido que temos um protocolo com o LNEC e coordenados um subgrupo de trabalho da Comissão Técnica 197 responsável pela produção da normalização BIM em Portugal. Em resumo, neste momento, essa contratação directa da ndBIM é muito difícil, porque os gestores públicos ainda não têm essa liberdade mas, através das entidades privadas tradicionais que eles contratam, é viável. Podem contratar um arquitecto e o arquitecto contratar a ndBIM para o apoiar na coordenação de projecto. De outra forma ainda é um pouco difícil. Claro que, mesmo um gestor público, se quiser contratar a ndBIM diretamente, pode fazê-lo como empresa de coordenação de projecto. Obviamente que essa coordenação será feita por nós recorrendo à metodologia BIM com todos os beneficios que daí advém. Agora, a contratação do BIM por um órgão público de forma assumida, directa e explícita, vai exigir uma mudança a nível da legislação e das regras internas dos órgãos públicos. Mas, de uma forma indirecta, é possível.
Com oito pessoas neste momento, conseguem dar resposta às solicitações?
Conseguimos. Temos uma coisa de que nos orgulhamos muito: somos altamente eficientesPorquê? Porque tudo aquilo que qualquer um de nós descubra, implemente e se comprove mais eficiente, nós escrevemos e generalizamos a toda a equipa. Temos uma metodologia interna de gestão de conhecimento muito boa. São vários anos de experiência acumulada que é partilhada por toda a equipa. Sendo que, o facto da nossa equipa ser multidisciplinar permite uma flexibilidade na atribuição das tarefas. Qualquer pessoa nova que entre para a empresa tem um período de adaptação de um mês, para o qual temos um projecto-tipo. Essa pessoa lê os nossos processos internos todos, implementa-os durante um mês num processo real, em ambiente simulado e, no final, diria que estará com 80% dos conhecimentos que os seus colegas já têm. É uma formação intensiva que faz com que a nossa equipa possa crescer rapidamente. Temos um cliente muito bom em São Paulo, um verdadeiro parceiro, que, de vez em quando, me pergunta se temos capacidade para um determinado projecto. Respondo sempre que, se me avisarem com um mês e meio de antecedência, sabem que me podem enviar o que quiserem. É um mês e meio para integrar e formar as pessoas.
Ao longo dos últimos três anos, têm crescido em termos volume de negócio e carteira de clientes?
Sim. Temos crescido de uma forma que, por mais planeamento que eu fizesse, não imaginava que seria tão rica. Crescemos em mercados geográficos, o que é bom, por causa das crises, crescemos no perfil do cliente, uma vez que inicialmente o nosso cliente era construtor e agora, além dos construtores, já são projectistas e promotores imobiliários, e já temos até um cliente na área de gestão e manutenção.
O sector de “facility management” também beneficia com o BIM?
Sim, quer na componente de gestão de ativos quer na manutenção do edificio. Por exemplo, se alguém quiser fazer a reforma de um edifício, saberá quais as quantidades de materiais necessários para os compartimentos a reformar. Ou se quiser alterar o layout do edificio ou alterar a alocação das equipas aos espaços, saber as áreas de cada espaço simulando a sua alocação. Ou ainda facilitar e otimizar a gestão dos vários equipamentos do edificio (motores, elevadores, etc) referenciando a sua localização no edificio e automatizando os alertas de intervenções. Os cenários de utilização são imensos, mas o mais importante é que a informação está centralizada. Está tudo no modelo. Portanto, também estamos nessa área. Isso faz com que, em termos de carteira de clientes, tenhamos os promotores imobiliários, que são quem arranca com os processos, projectistas, construtores e equipas que fazem a gestão e manutenção. Temos facilidade em dar apoio a empresas portuguesas, que estão a trabalhar em Portugal ou lá fora, e empresas internacionais e isso dá-nos uma agilidade muito grande. Outra mais-valia para os nossos clientes é o facto de não sermos uma empresa regional, e sermos uma empresa internacional, que trabalha em vários mercados. Eu vou para o Brasil e trabalho com grandes empresas imobiliárias e, se vejo algo que é interessante, é uma lição aprendida que trago comigo para o meu gabinete. E vou aprendendo com todos eles. Se eu, a seguir, for contratado por outra empresa, vou levar-lhe o meu conhecimento e o melhor conhecimento que encontrei um pouco por todo o mundo e desta forma apoiar a empresa não só na implementação do BIM mas na optimização de todo o seu processo. Nesta área do BIM, uma coisa que é boa é que todos gostam de partilhar as boas práticas e nós, na ndBIM, promovemos, através de uma iniciativa que chamamos BIM Management Institute, conferências internacionais. Eu viajo muito e sempre que conheço alguém interessante nesta área, eu convido, para no ano seguinte, essa pessoa vir a Portugal apresentar o seu caso. Essa partilha de conhecimento acaba por ser interessante e quem colabora connosco acaba por, de uma forma indirecta, ir beber esse conhecimento internacional do melhor que se faz no mundo.
Acabaram por criar uma rede global de conhecimento?
Sim, e essa rede é essencial quando se trabalha numa área inovadora numa industria tradicionalmente pouco tecnologica. Permite-nos não reinventar a roda e exponenciar os resultados dos investimentos dos nossos clientes. Mas há outra coisa: na área de projecto de arquitectura ou de engenharia, já temos profissionais em Portugal que começaram a trabalhar com estas ferramentas BIM há bastantes anos e têm um conhecimento tão bom ou, em alguns pontos, talvez até melhor que o meu. Mas, na componente de promoção imobiliária ou gestão de obra já não é o caso. Eu já trabalho nisto há 12 anos e cooperei, inclusive, de forma intensiva no desenvolvimento dos softwares BIM lideres hoje no mercado. Apesar de haver outras empresas de consultoria e formação BIM em Portugal, a maior parte delas falta-lhes a experiência prática e o conhecimento de gestão de pessoas e da mudança. A componente mais fácil de uma implementação é a aquisição do software (Revit,o Archicad, Tekla ou outro), e ligar a um formador destes softwares e pedir-lhe uma formação. Mas o mais difícil é colocar as pessoas a trabalhar nesta metodologia e é essa competência de compreender como gerir a mudança organizacional que tenho mais orgulho e que mais distingue a ndBIM das restantes. Eu trabalho com pessoas há 12 anos e sei quais são os seus receios. Eu sei que, se abordar alguém sénior e com resistência a tecnologias e começar a apresentar o BIM como facilitador do processo, me vão dizer que desconfiam dos resultados da tecnologia ou que já trabalham há várias dezenas de anos de uma determinada forma e que o seu processo funciona. Toda a sua experiência e vivência têm bastante valor e o BIM não vem substituir isso, vem sim suportar e exponenciar essa experiência e intuição. Vem, então, proporcionar ferramentas que irão suportar a sua tomada de decisão. É muito importante que as pessoas compreendam que o conhecimento e a experiência adquiridos ao longo de anos, em engenharia, em arquitectura, são essenciais para o BIM, porque o BIM só me vai dar mais tempo para eu pensar sobre isso. A modelação da estrutura em ambiente BIM permite simular com mais rigor a solução estrutural e como a otimizar, permitindo o desenvolvimento de um maior número de cenários em menor tempo. Saber o custo? Desde que tenha uma base de dados de preços organizada e codificada e integrada com o software de modelação BIM, num reduzido espaço de tempo temos o orçamento produzido.. Acho que existem vários patamares nas carreiras das pessoas. Existe um patamar, quando uma pessoa começa, que consiste em ser bom tecnicamente, que é o que aprende na faculdade: fazer cálculo, saber compreender as questões funcionais, legislação, regulamentação, etc. À medida que evoluímos, ganhamos conhecimento técnico e experiência profissional, percebemos que, apesar de, na teoria, este dimensionamento, por exemplo, ser feito desta forma, nesta envolvente, potencialmente, consigo otimizar a solução e desta forma reduzir o custo com determinado material. Em resumo, na industria da construção temos de compreender que é importante acompanhar a evolução tecnológica e que temos de estar constantemente a evoluir e a aprender. Costuma-se dizer, noutras profissões, como é caso a medicina, que os médicos têm de estar constantemente a estudar e temos de perceber que, também na indústria da construção, temos de estar constantemente a vigiar o que de novo vai surgindo seja em termos de processos construtivos seja em termos de metodologias e tecnologias..
Têm concorrência?
Costumo dizer que depende da definição de concorrência. Há outras empresas que dão formação em BIM, mas que não considero concorrência porque lhes falta a experiência adquirida de 12 anos a trabalhar com esta metodologia. Não na área de projecto, onde já existem outros profissionais que trabalham nisso mas, na componente de promoção imobiliária, de viabilidade económica, de estudo de erros e omissões, orçamentação, planeamento de obras, não considero que tenha concorrência no mercado com a nossa experiência e resultados. Tenho concorrência, sim, em gabinetes parecidos com o nosso, que fazem implementações em ambiente de projecto. Agora, entre empresas que dão apoio a promotores imobiliários e a construtores, acho que não. Cá em Portugal, e mesmo no mundo, existem poucos. Nós temos apoiado numa perspetiva colaborativa e de parceria – e felizmente vive-se um ambiente muito saudável neste meio – outras empresas de consultoria BIM internacionais. Por exemplo, tenho estado a falar com uns colegas na Suécia e Hong Kong, que estão um pouco atrapalhados porque sabem trabalhar muito bem com softwares de modelação 3D, mas têm agora pedidos de construtores e promotores e não fazem a menor ideia do que é um orçamento ou um planeamento, etc. Eles sabem construir o edifício em 3D, mas não sabem como é que, em 3D, o edifício tem de ser construído para, mais tarde, fazerem um orçamento e um planeamento. Então, tenho estado a apoiá-los nesse âmbito.
Porque não sabem?
Uma das minhas referências quando me fazem essa pergunta é a história da Torre de Babel: um conjunto de habitantes de uma terra chamada Sinear queria construir uma torre para chegar até Deus e nunca conseguiram construir essa torre porque os deuses ao acharem esse objetivo prepotentes, puseram todos a falar línguas diferentes. Como não conseguiam comunicar entre si, não conseguiram construir a torre. Isso é o que se passa na indústria da construção: este sector funciona por silos. Temos um silo que são os promotores imobiliários, depois temos os arquitectos, depois temos os engenheiros, depois temos os construtores, depois temos os profissionais de gestão e manutenção. Se perguntar a todos eles quais os seus objectivos, cada grupo tem o seu objectivo. De uma forma simplificada, a perspetiva do promotor imobiliário é saber se o projeto que lhe apresentam terá custos reduzidos de construção, se originará boas vendas e se vai lucrar; o arquitecto não está tão preocupado com o custo. O Arquiteto quer um bom projecto, que todos reconheçam como muito bonito e funcional. O engenheiro, consoante a engenharia em causa, preocupa-se, por exemplo,com o cálculo estrutural e a segurança do mesmo. Depois, o construtor não quer saber se a estrutura do edificio está sobredimensionada ou não.. Ele parte do presssuposto que o projeto esta bem concebido e quer construir com o menor custo possível para ter uma maior margem. Então o foco dele é orçamentação e controle economico. Os profissionais da gestão e manutenção querem saber o que existe e o que terá de gerir e manter. O facto de todos não terem objectivos comuns, faz como que todos sejam, entre aspas, “egoístas”, ao longo do processo. Isto é o que se passa na indústria: esta falta de partilha de risco ao longo do processo. Existe uma metodologia que se chama “Integrated Project Delivery”, IPD, que está a ter muito sucesso a nível internacional e começa a ser bastante utilizada nos Estados Unidos em conjunto com a metodologia do “Value engineering”. Como funciona? Um promotor imobiliário faz um único contrato com os projectistas, com o construtor e com quem vai fazer a gestão e manutenção. E estes vários “stakeholders” recebem um “fee” no final do projecto, ou seja, têm os seus honorários mas, no fim, podem receber mais um prémio se conseguirem reduzir os custos previstos. A que leva isto? Imaginemos que eu vou pagar 1 milhão de euros de honorários ao arquitecto para fazer um projecto cuja estimativa de investimento inicial era de 50 milhões de euros. Se ele conseguir optimizar o projecto sem lhe retirar as suas funções e objetivos para a obra custar 48 milhões, e se isto, no final, efetivamente ocorrer, ele vai receber uma percentagem destes 2 milhões de otimização na proporção do valor dos seus honorarios. Assim, o arquitecto tem um aliciante para ter uma maior preocupação em procurar soluções eficientes que permitam a redução do custo da obra. A estrutura a mesma coisa, o projecto de ar condicionado idem, e etc. No final, o empreendimento, pelo qual eu estava disposto a pagar 50 milhões – em Portugal normalmente custaria 53, porque derraparia – passa a custar 48 milhões, porque todos os intervenientes conseguiram reduzir os custos e trabalharam em conjunto para o mesmo objetivo.
Nesse campo, o BIM pode ter um papel importante?
Pode ter um papel fundamental, porque apoia na coordenação e simulação de todas as especialidades. E qual é o nosso trabalho aqui? Por exemplo, o arquitecto propõe uma solução e os engenheiros das várias especialidades propõe as suas. A minha equipa inicia o processo de construção virtual das várias especialidades e propõe otimizações às mesmas alertando os projetistas para a omissão de informação e incompatibilidade entre especialidades. Assim, neste processo, todos trabalhamos para o mesmo objectivo. O objectivo é conseguirmos garantir a coordenação e definição do projeto no mais curto espaço de tempo. Ganham todos os intervenientes. O promotor pode iniciar a comercialização mais rapidamente e tem a garantia que o produto definido em fase de concepção (incluindo custo e prazo) é aquele que no final será construído. Os projectistas dedicam menos tempo a realizarem revisões de projeto e coordenação e têm uma maior garantia que o seu projeto está todo definido (reduzem o seu risco). E por fim, o construtor tem a certeza que em fase de obra terá toda a ifnormação necessária para construir o edificio sem percalços ou omissão de informação. Enquanto empresa, a postura da ndBIM consiste em apoiar os clientes nesse sentido, ou seja, ultrapassar as expectativas que eles tinham no início e, ao mesmo tempo, ter um trabalho de “evangelização” com as várias entidades envolvidas no processo, tentando explicar-lhes que, por exemplo, se os projectistas colaborarem connosco, apesar de não serem nossos clientes – o nosso cliente é o promotor – no final, também vão ganhar, porque terão poupanças nos respectivos processos internos e isso acaba por beneficiá-los. O BIM ajuda todos os intervenientes, é transparente e reduz o risco.