“A arte pública tem um papel importante na regeneração urbana”
Poderá a arte pública dinamizar um centro urbano? Qual o seu papel na regeneração urbana e na criação de uma sociedade mais crítica e consciente do seu património?
Ana Rita Sevilha
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A edição de 2017 do VIArtes está lançada e até ao próximo dia 9 de Abril, está aberto o período de candidaturas ao concurso promovido pelo ViaCatarina Shopping, que desafia artistas, escultores, designers e arquitectos a criarem uma obra de Arte Pública na emblemática fachada do Centro, o antigo edifício da sede do jornal “O Primeiro de Janeiro”, situado na Rua de Santa Catarina, no Porto. No ano em que o concurso se abre ao estrangeiro, Tomás Furtado, director do ViaCatarina Shopping, sublinha que “hoje podemos afirmar que o VIArtes já faz parte do círculo artístico da cidade do Porto. Desde o lançamento da primeira edição do concurso, há quatro anos, o ViaCatarina Shopping tem reforçado a sua proximidade com a comunidade artística. Temos a missão de fazer chegar a arte a mais públicos e ter uma participação cada vez mais activa junto das iniciativas artísticas e culturais da cidade e dar oportunidade de torná-las visíveis e memoráveis”. No âmbito desde desafio e à luz do que tem sido o concurso no passado, o CONSTRUIR foi ao encontro dos responsáveis e anteriores vencedores, no sentido de perceber de que forma arte pública e edifícios históricos se harmonizam e qual o seu potencial naquilo que é a dinamização de um centro urbano e o seu espaço público.
Arte como veículo de comunicação
Para Tomás Furtado, director do ViaCatarina Shopping, no caso específico do VIArtes, as obras vencedoras até então, têm contribuído para evidenciar a fachada do já emblemático edifício do Porto e destacar a sua presença na Rua de Santa Catarina. Mas não só. “Tratando-se de um edifício histórico da cidade (antiga sede do jornal O Primeiro de Janeiro), a arte pública funciona enquanto veículo de comunicação e envolvimento com a comunidade residente e visitante da cidade do Porto. Exemplo disto, são as obras vencedoras das edições anteriores do VIArtes, que transformaram a fachada do ViaCatarina Shopping num acontecimento cultural e conseguiram captar a atenção de todos, ao trazer uma marca de modernidade a uma das mais antigas ruas da cidade”.
Construção colectiva
Nuno Pimenta e Frederico Martins, dois jovens arquitectos, foram os vencedores da 1ª edição do VIArtes com a instalação “W(E)AVING”. Ao CONSTRUIR explicaram que o grande desafio foi o de “equilibrar as lógicas patrimoniais e comerciais com a activação e envolvimento local. Queríamos que a construção desta intervenção tivesse um carácter participativo, por isso fizemos o convite a todos aqueles que nela queriam participar para também eles, de certa forma, fazerem parte da história deste edifício. Foi uma construção ao vivo durante uma semana, uma performance urbana na qual participaram mais de 2400 pessoas, uma construção colectiva para a cidade”. Arquitectos de formação, Nuno e Frederico são naturalmente sensíveis às questões da cidade e às mais-valias deste tipo de iniciativas e intervenções, que dizem ser “vastas”. Contudo, sublinham o “estimular as relações sociais com o património construído e o relacionamento intelectual com a história, espaços e lógicas culturais da cidade. O estímulo à reflexão acerca do espaço social ligado a estas actividades artísticas tem, por base, um dos maiores desafios da Arte Pública que é o consenso, na medida em que, sendo difícil de atingir, gera questionamento e desperta curiosidade. O substrato deste questionamento, do interesse e do envolvimento é muito importante e saudável para uma cidade e para os seus habitantes. A Arte Pública, além de ser um importante veículo para a democratização da arte e para uma educação estética alargada, tem a capacidade de gerar interesse, discussão e capacidade crítica e isso são características fundamentais para uma cidade que se quer desenvolvida”.
Potenciar o espaço público
Sendo um país com todas as condições meteorológicas para o usufruto do espaço público, mas curiosamente não o usufruir assim tanto, a arte pública poderá ajudar a cativar os habitantes das cidades a darem uso às praças, jardins e lugares de paragem. Nuno Pimenta e Frederico Martins referem isso mesmo: “Interessa-nos, particularmente, a versatilidade temporal da Arte Pública, a forma como pode potenciar o espaço público com dinâmicas temporárias e gerar um questionamento permanente, como pode, também, envolver uma comunidade mais ou menos alargada, alertar para espaços negligenciados da cidade e renovar os motivos de orgulho de uma vizinhança. A Arte Pública tem esse poder, de se voltar inteiramente para a cidade e criar novos pólos de interesse através de intervenções críticas e focadas”.
Projecto colectivo
Também Alberto Vieira (ceramista e escultor) e José Pedro Santos (arquitecto e designer) – vencedores da 2ª Edição do Concurso VIArtes, com o projecto AZULagir -, quiseram chamar a população a participar na sua intervenção. “O principal desafio foi projectar uma intervenção de forma a que o público contribuísse para gerar o painel de ‘azulejos’ que veio a revestir a fachada do ViaCatarina Shopping. Quisemos cativar o maior número de pessoas e, assim, concretizar um projecto colectivo, construído a várias mãos, cujo resultado final reflecte a presença das pessoas, adquirindo assim uma dimensão mais humana. Essa humanidade é, também, reforçada pelo produto final, que de alguma forma evoca o ambiente das festas tradicionais (como o S. João), caracterizado pela alegria, cor e movimento próprios dos encontros sociais onde todos podem e gostam de participar”, explicam ao CONSTRUIR. Para Alberto e José, “os espaços públicos, e os edifícios que os confinam, além de serem locais de livre acesso, devem ser capazes de desencadear a vida social. Estando a arte pública vocacionada para uma fruição imediata e democrática, tem o potencial de tornar os espaços socialmente mais atractivos e activos”. Em declarações ao CONSTRUIR, a dupla recorda ainda que a arte pública tem um papel importante na regeneração urbana: “faz uma chamada de atenção ao observador, envolve-o no espaço, dá-lhe uma sensação de novo lugar. Uma obra de arte pública associada a um espaço transforma a sua percepção, permitindo ao observador fazer novas leituras do mesmo”.
Acrescentar valor
Para Sónia Rocha, responsável pelo Programa de Arte Pública da Sonae Sierra, “uma iniciativa como o VIARTES permite a renovação cíclica da imagem do edifício e promove a apresentação de obras de arte interessantes que acrescentam valor aos edifícios e aos espaços públicos adjacentes. O convite à participação cidadã torna-os, também, apelativos para a dinâmica da cidade. A fachada do ViaCatarina transforma-se, uma vez por ano, numa tela em branco à espera de propostas de intervenções artísticas. Sendo estas intervenções reversíveis, esta iniciativa permite ao mesmo tempo respeitar o Património que constitui a fachada do edifício já com história na cidade do Porto. Conseguimos, portanto, identificar benefícios para os artistas vencedores, para os transeuntes no espaço público e para o edifício, pelo destaque que acaba por ter ao acolher uma obra de arte na sua estrutura”. Sónia Rocha sublinha a participação: “os registos fotográficos de quem lá passa são constantes, basta parar na fachada por uns minutos para nos apercebermos da curiosidade de quem passa e da interpelação que a obra cria. Quanto ao facto da obra ser ou não bonita, como estamos no registo da Arte Contemporânea aceitamo-la enquanto obra de arte. E como não se podem aplicar os cânones académicos da escultura, estando perante uma instalação de larga escala que ‘pinta’ a fachada do edifício de outras cores é difícil enquadrá-la em critérios estéticos. Resta-nos o registo hermenêutico: O que significa a obra? Que desloca a questão estética da obra para o seu significado. Acreditamos que o maior valor foi percebido por todos, e está relacionado com a intenção dos autores em envolver a comunidade local de Santa Catarina, tecendo um tapete azul ou uma parede de azulejos com inspirações São Joaninas, que ilustra essas relações geradas pelo processo de criação”.
Para a responsável pelo Programa de Arte Pública da Sonae Sierra, não restam dúvidas de que a Arte Pública potencia o Espaço Público. “Quando falamos de Arte Pública estamos a referirmo-nos a uma obra de arte, a uma instalação, a um conceito ou até a uma performance que é pensada com uma matriz essencial de duas entradas: o local e o público a quem se dirige. O autor da Arte Pública responde nos seus projectos a duas questões pertinentes: ‘para quem?’ e ‘para onde?’. É destas respostas que nasce o catalisador da esfera pública em forma de obra de arte. Um processo de construção, uma alteração de imagem, uma curiosidade suscitada e um envolvimento em algo que se dirige a todos, além dos habituais públicos dos museus e das galerias”.
“A programação artística e cultural em construção nos Centros Comerciais geridos pela Sonae Sierra tem como objectivo fundamental fazer chegar a Arte a mais públicos, lapidando consciências mais distraídas e demonstrado que a Arte, quando feita para o Público e para o Lugar, não é difícil de assimilar! Com o aparecimento de colecções artísticas ou culturais dentro dos Centros Comerciais, com símbolos de pertença (como é exemplo disso o azulejo da proposta do AZULAgir) e transmissores da memória colectiva do Lugar (como foram exemplo algumas propostas, não vencedoras, mas que referiam a existência da redacção de O Primeiro de Janeiro naquele edifício onde hoje está o ViaCatarina), estamos a criar novos hábitos que promovem uma sociedade mais adulta, civilizada e sensível”, conclui.
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