“O objectivo foi devolver à Baixa Pombalina os seus usos originais”
“A renovação da cidade de Lisboa, neste momento muito focada na reabilitação com vista ao investimento turístico (…) corre o risco de levar à perda de identidade, descaracterização cultural e funcional de zonas da cidade”
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Ana Rita Sevilha
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Situado numas das zonas mais carismáticas de Lisboa – a Baixa Pombalina -, o Edifício Ouro Grand é um dos símbolos da renovação da cidade. Catarina Almada Negreiros e Rita Almada Negreiros (CAN RAN), assinam o projecto, que vai transformar um conjunto de quatro edifícios devolvendo à Baixa Pombalina os seus usos originais. Ao CONSTRUIR, a dupla de arquitectas falou sobre este projecto que deverá estar concluído no segundo semestre de 2017.
Quais as principais dificuldades e os principais desafios do projecto do Edifício Ouro Grand?
O edifício do Ouro Grand não é apenas um edifício mas sim um conjunto de quatro edifícios muito heterogéneos, descaracterizados e muito intervencionados ao longo dos anos: daí resultaram diferentes estruturas, que resultaram de diferentes épocas de construção, assim como consideráveis diferenças altimétricas entre os seus pisos. Resolver e harmonizar estas diferenças foi simultaneamente, a maior dificuldade e o maior desafio.
Procurou-se, deste modo, uma articulação entre os diferentes edifícios, procurando uma linguagem que uniformizasse de forma coerente o conjunto edificado, mas, ao mesmo tempo, respeitando o conjunto urbano onde se insere: o conjunto protegido da Baixa Pombalina.
Outro desafio, ainda, foi a cobertura. Sendo um edifício visível de tantos pontos altos da cidade de Lisboa, as coberturas deste conjunto constituiam-se quase como uma ‘quinta fachada’. O redesenho desta ‘fachada’ foi o maior desafio do projecto. Nesse sentido propusemos uma nova configuração da sua geometria, retirando alguns elementos dissonantes, ocultando os equipamentos necessários às novas exigências técnicas, integrando-os de modo a conseguir-se uma maior harmonia no conjunto.
Com que condicionantes tiveram de lidar?
Estando o conjunto de edifícios situado no encontro da Rua do Ouro, Rua da Conceição e Rua do Crucifixo, e enquadrando-se no Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina — que tem como principal objectivo preservar este património em vias de ser classificado património mundial da Unesco — a intervenção pode ser descrita como uma resolução de condicionantes várias: pelo facto de se estarem a recuperar e a reconverter um conjunto de edifícios Pombalinos; que, desde a sua construção, sofreram contínuas alterações que modificaram profundamente as sua características estruturais originais; de haver um conjunto de normas para a salvaguarda da baixa pombalina.
O Ouro Grand é mais um capítulo na história da renovação da cidade de Lisboa. Que análise faz ao mercado da reabilitação e que perspectivas tem acerca do mesmo?
Embora o abandono generalizado do edificado nesta área da cidade, não seja compatível com uma cidade coesa, a renovação da cidade de Lisboa, neste momento muito focada na reabilitação com vista ao investimento turístico, com a adaptação de edifícios com uso anteriormente habitacional em hotéis e alojamento local, corre o risco de levar à perda de identidade, descaracterização cultural e funcional de zonas da cidade.
Neste projecto, c comércio no piso térreo e habitação nos pisos superiores, com tipologias adaptadas de modo a permitir e fomentar a modernização e aumento dos níveis de habitabilidade e funcionalidade, não desvalorizando a necessidade de viabilizar o investimento neste tipo de reconversões.
Como descreve os futuros apartamentos?
O sistema proposto reflecte uma abordagem contemporânea na distribuição espacial que procura conservar a memória de algumas vivências da época original do edifício, através dos pés-direitos e grandes vãos de fachada.
Neste sentido, as fachadas serão totalmente recuperadas, mantendo os frisos e elementos decorativos.
A distribuição dos apartamentos, obedece a uma dinâmica de aproveitamento de vãos de fachada, sendo que cada apartamento está estudado para que, na sua compartimentação, sala/quartos estejam junto à fachada e as zonas húmidas junto às circulações.
Os 55 apartamentos propostos variam entre a tipologia T0, T1, T2, e irão beneficiar das magníficas proporções dos edifícios existentes, com tectos altos e grandes janelas que permitem a entrada franca de luz natural. No piso 5 e 6 a tipologia permite a criação de alguns duplex tirando partido da cobertura que será pontuada por trapeiras alinhadas com a métrica dos vãos existentes, o que possibilita um aproveitamento do desvão para fins habitacionais, e cria um movimento e uma dinâmica no alçado que marca a ‘nova intervenção’ e equilibra o edifício.
Esta intervenção vai de encontro ao objectivo estratégico de melhorar significativamente as condições de qualidade, habitabilidade e de funcionalidade do parque imobiliário urbano desta área crítica da cidade de Lisboa.
Estão a trabalhar em mais algum projecto com estas características?
Com estas características temos trabalhado em diversos projectos de reabilitação mas com uma escala menor. Com a mesma dimensão de investimento, estamos neste momento a acompanhar a fase final da obra do projecto desenvolvido no atelier para o Hotel “Casa Mãe” no centro histórico de Lagos, num terreno com uma relação muito forte com a muralha da cidade e que engloba a reabilitação de uma grande casa com características pombalinas, e a construção de dois novos edifícios integrando-os na malha urbana da cidade.