Projectar no feminino
Saíram de Portugal para viver experiências novas e aprofundar conhecimento profissional. Contudo, levavam na bagagem a vontade de voltar e juntas começar de novo no país de origem. Conheça a Blaanc Borderless
Ana Rita Sevilha
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Saíram de Portugal para viver experiências novas e aprofundar conhecimento profissional. Contudo, levavam na bagagem a vontade de voltar e juntas começar de novo no país de origem. Conheça a Blaanc Borderless
Depois de estarem fora a estudar e a trabalhar, voltaram e criaram a Blaanc. O que vos fez escolher Portugal?
Ana Morgado (AM): Nós todas estivemos no Programa Erasmus, e tínhamos como caminho definido o voltar a Portugal. Mas por exemplo, a Maria da Paz foi para o Brasil e ainda lá está. Contudo, isso não nos impediu de nos juntarmos e criar a Blaanc. Nunca sequer pensámos em montar atelier fora daqui. Ter um gabinete num país que não é o de origem parece-nos muito mais complicado.
Lara Pinho (LP): Eu estive cerca de dois anos em Amesterdão, e uma das grandes motivações para voltar foi exactamente isto, porque já sabíamos que queríamos montar alguma coisa em conjunto.
Maria do Carmo Caldeira(MCC): E a ideia sempre foi a de terminar a Faculdade, cada uma seguir o seu caminho e viver as suas experiências profissionais, tanto em Portugal como fora, e depois, ainda que sem termos um tempo definido, assim que possível e que achássemos que estávamos minimamente preparadas voltaríamos e abriríamos atelier. E assim foi, a Blaanc nasceu em 2008.
Têm experiências académicas e profissionais diferentes, em países diferentes. Que influência tem isso hoje na Blaanc?
LP:Naturalmente cada uma de nós tem experiências diferentes. No meu caso, trabalhei muito em arquitectura de interiores, e acho que isso é talvez o meu maior in put aqui na Blaanc.
AM: Outra coisa que acho que a Lara nos trouxe foi o método de trabalho, o rigor e a organização que os holandeses têm, que é uma coisa muito importante. Depois eu estive em Barcelona, a Maria do Carmo em Paris, e a Maria da Paz ainda está no Brasil.
MCC: Acho que acima de tudo a experiência lá fora abre-nos os horizontes. O termos de nos desenvencilhar num país que não é o nosso, ter que falar sobre arquitectura com pessoas que não tiveram a mesma formação e que têm culturas diferentes é um contributo muito enriquecedor. E sobretudo, para nós que já tínhamos em mente abrir um atelier, vivemos as experiências com uma outra atenção a todos os pormenores para percebermos o que poderíamos posteriormente trazer para cá.
E em termos de mercado. Como foi o chegar cá? Quais as maiores diferenças que encontram?
LP: Quanto a mim nem notei tanta diferença assim. Acho que uma das coisas fundamentais para um bom resultado é a equipa com quem se trabalha, e isso sim, nem sempre é a mesma coisa em qualquer sítio.
AM: No meu caso, já cá em Portugal e antes de formarmos a Blaanc, estive a trabalhar noutro atelier, e embora tenha gostado imenso, não é de facto a mesma coisa do que trabalhar com elas.
MCC: Antes do trabalho une-nos uma grande amizade e portanto acho que é um previlégio podermos trabalhar juntas, e isso torna o dia-a-dia mais facil, os problemas acabam por ser menores.
AM: E o facto de estarmos cá não nos impede de continuarmos a fazer trabalhos para fora do país.
Carmo: Aliás, com a Maria da Paz no Brasil continuamos em contacto com abordagens diferentes. Para além disso temos o hábito de fazer colaborações, e muitas vezes com arquitectos que por sua vez também estão fora, porque hoje a rede de contactos e a forma de comunicar permite isso. O concurso que ganhámos para o Gana foi feito com a Maria da Paz no Brasil, e com o João Caeiro – arquitecto com quem trabalhámos neste projecto, no México.
Hoje o que vos define e marca enquanto colectivo?
LP: Estamos a defini-lo agora, estamos muito no início…
MCC: Acho que há aquilo que gostaríamos de fazer e por outro a oportunidade de mostrar isso mesmo. Nós existimos como atelier há dois anos e meio e por isso não temos praticamente um reportório de obra feita que nos permita dizer que esta ou aquela linguagem é nossa, se bem que acho que temos muito bem definido e presente o que queremos fazer, e temos em mente que o caminho ligado à sustentabilidade é o que queremos trilhar.
AM: Cada vez mais sabemos que esse é o caminho, porque nem é uma questão de escolha nem uma obrigação, está intrínseco no nosso trabalho, não colocamos sequer outra hipótese. E sabemos que é uma área onde há muita coisa a fazer, e temos muitos planos neste sentido. Sem dúvida que se é uma coisa que hoje nos marca queremos que de futuro, se nos deixarem, nos marque ainda mais.
MCC: O facto de pudermos participar neste concurso do Gana, foi muito importante, porque entre outras coisas o concurso compreendia uma coisa que a nós também nos diz muito que é o papel social da arquitectura e do arquitecto, o que enquanto técnicos e profissionais podemos fazer a estas populações.
AM: Existe cerca de um bilião de pessoas no Mundo a viver em más condições, milhões de soluções construtivas e outros tantos arquitectos com o conhecimento para as colocar em prática, e tendo em conta que a necessidade está lá, à vista de todos, falta um elo de ligação entre estas partes, que no caso do Gana foi o concurso, porque há coisas simples que podem ser feitas e que fazem a diferença. Obviamente que nestes casos ninguém vai contratar um arquitecto, mas há quem possa de alguma forma financiar estas iniciativas.
LP: Nós andávamos à procura de um concurso e escolhemos este precisamente por essa razão, porque tinha estas características sociais e sustentáveis. Eram de uma forma geral habitações sustentáveis de baixo custo.
MCC: A Associação que promove este concurso tem como objectivo construir nos próximos dez anos cerca de cem mil casas, e aquilo que é interessante é que o objectivo do concurso foi o de arranjarem um modelo de baixo custo que possa ser replicado. Para isso estudaram quanto é que uma família de classe média baixa pode despender para a construção da sua casa e depois apresentam-lhes o modelo para que eles com as suas próprias mãos as construam. E foi esse o desafio a que tivemos de dar resposta.
Sendo quatro, chegar a um consenso é uma tarefa pacífica?
MCC: Sim. Acho que existe uma grande complementaridade entre nós, fruto talvez de nos conhecermos há muitos anos e de termos feito a faculdade juntas. Por vezes chegar a uma conclusão até é fácil demais.
No âmbito do Dia Nacional do Arquitecto, estiveram presentes no ciclo “Jovens Arquitectos Premiados Internacionalmente”. O que acharam da iniciativa?
AM: Correu muito bem e é sempre óptimo este tipo de eventos onde pudemos ver as apresentações de outros arquitectos. Acho muito interessante e muito positivo ciclos destes.
MCC: Achámos uma iniciativa muito interessante, mas talvez a divulgação do evento não tenha corrido da melhor forma.
Ana: O tema é genial, super importante, bom demais mas não ter ido mais longe, para não ter recebido mais pessoas. Acho óptimo que façam conferências e eventos destes e que os divulguem entre arquitectos, mas acho que este tipo de actividades devem também servir para ligar os arquitectos à sociedade, aos nossos clientes
Até hoje, qual dos projectos vos deu maior gozo?
MCC: O do Gana, porque foi de todos o que nos obrigou a um esforço maior. É um tema que nos interessa muito, as premissas do concurso iam ao encontro daquilo que queremos, mas para o qual tivemos de pesquisar muito também, exigia uma preparação muito maior. Era um projecto para um país em África, com todos os condicionalismos impostos por isso, aliados ao facto de ter de ser de baixo custo, sustentável, contemplar todos os sistemas construtivos a utilizar, entre outros.
E neste momento em que fase está?
MCC: Neste momento o projecto de licenciamento já foi entregue e se tudo correr de acordo com o planeamento será aprovado muito rapidamente e a obra começará se possível ainda em Agosto. Até ao fim deste ano esperam construir a primeira casa-piloto para fazer testes com a comunidade.
Por onde passa o vosso futuro?
AM: Acho que pela exploração de métodos de construção mais tradicionais sempre numa vertente de sustentabilidade nas suas mais variadas vertentes. Aplicar os saberes da arquitectura vernacular que durante tantos anos funcionaram numa forma de projectar contemporânea.
ficha técnica
Nome: Blaanc Borderless Architecture
Morada: Rua do Sol a Santa Catarina, nrº18, r/c, 1200-455 Lisboa
URL: http://www.blaanc.com/
Mail: info@blaanc.com