Fernando Guerra FG+SG
A modularidade ou a inversão do processo criativo da arquitectura [c/ galerias de imagens]
A construção modular ganha protagonismo no trabalho desenvolvido pelo gabinete de arquitectura Summary, onde a forma e a função são não o fim, mas o princípio de tudo. Paradinha, Creches de Lisboa ou o Centro Desportivo de Aveiro são três exemplos da arquitectura despojada e pragmática deste atelier que ousou romper com o tradicional processo criativo do arquitecto
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Os projectos desenvolvidos pelo gabinete Summary despertam a atenção pelo recurso à construção modelar. O atelier de arquitectura liderado por Samuel Gonçalves nasceu em 2015 num contexto de pós crise que cedo lhe influenciou a forma de estar e de trabalhar. “A prefabricação e o recurso a sistemas de construção modelar foi uma resposta concreta e eficaz à necessidade de simplificar e acelerar os processos construtivos e que se impôs no momento de criação do atelier”, sublinha Samuel Gonçalves.
Um dos primeiros sistemas construtivos trabalhados e desenvolvidos pelo Summary, e que resulta de um projecto de I&D empresarial, em parceria com a indústria, foi o Sistema Gomos, o qual tem por base um sistema modular em betão armado. É um sistema evolutivo em que cada um dos módulos (ou Gomos) sai de fábrica completamente pronto, incluindo todos os acabamentos interiores e exteriores, isolamentos, caixilharias, instalações de água e electricidade e até as peças de mobiliário fixas. A montagem do edifício in loco faz-se em poucos dias, simplesmente juntando estes módulos. Este é um dos sistemas utilizados pela equipa do Summary mas não é o único.
“Prefiro falar de sistemas de uma forma geral do que falar só de um tipo. Trabalhamos com vários sistemas construtivos com vários materiais e isso leva-nos a assumir diversas parcerias com empresas diferentes porque não temos produção própria e para produzir estes sistemas que vamos projectando precisamos desta rede parceiros”, argumenta Samuel Gonçalves.
E esta além de não ser uma escolha do tipo certou ou errado, por vezes também não é uma escolha do arquitecto. “Por vezes é uma exigência do projecto, ou do cliente ou das condicionantes existentes, a escolha do material nem sempre é uma escolha pessoal”.
Impõe limites à criação do arquitecto? “Diria que coloca um desafio acrescido, sendo certo que altera por completo a forma de pensar a arquitectura, disso não tenho dúvidas!”, sublinha Samuel Gonçalves. Pedimos que explicasse: “de forma muito simplificada, na arquitectura tradicional o que nós arquitectos fazemos é pensar no resultado final do edifício a projectar e só depois pensamos como é que esse edifício vai ser construído. Com a pré-fabricação este processo sofre uma inversão. Primeiro temos de perceber quais os módulos que temos disponíveis, as suas dimensões ou o tipo de encaixe e muitas vezes perceber quais as limitações logísticas associadas ao terreno onde vamos intervir e só depois é que podemos pensar no resultado final dos edifícios que vamos desenhar. Há esta inversão muito clara do processo criativo, mas eu não vejo isso como uma limitação”, considera Samuel Gonçalves.
11 habitáculos na floresta, Paradinha
O primeiro dos projectos que aqui trazemos é o projecto que se localiza na Paradinha, em Arouca e que mistura dois programas distintos, turismo e habitação. O projecto ficou classificado em 2º lugar do prémio de arquitectura Concreta Under 40.
O projecto contempla onze pequenos habitáculos, com quatro tipologias distintas que variam entre 28m2 e 58m2.
“Considerando a situação remota e a irregularidade da topografia do terreno, seria difícil (e extremamente dispendioso) formar estaleiro de obra para construção tradicional neste local. Assim, neste caso, o uso de estruturas pré-fabricadas não foi apenas uma escolha, mas antes a única opção eficiente para simplificar o processo de construção, dentro das referidas condições”, explica Samuel Gonçalves. “Num primeiro momento, o objectivo do cliente era distribuir vários quartos turísticos pelo terreno. Propusemos, em vez de quartos, pequenas casas, com as condições e equipamentos necessários para uma estadia permanente, de forma que algumas delas possam funcionar não como unidades turísticas, mas como habitações de longo termo. Este foi o conceito que apresentamos à Syntony Hotels, que foi rapidamente acolhido”, continua.
Assumiu-se este projecto como uma oportunidade para fazer novas experiências com o sistema pré-fabricado Gomos: em cada casa, todas as instalações técnicas (água, electricidade e climatização) estão concentradas num só módulo, sendo conduzidas para os restantes módulos externamente. Este procedimento foi repetido em toda a obra, acelerando os seus processos de produção e montagem.
A implantação destas unidades foi definida pelas condições naturais do terreno, reduzindo ao mínimo indispensável o seu impacto na topografia e na vegetação do local. Os antigos muros de suporte em xisto foram preservados, mantendo a configuração original do terreno, e todas as árvores foram mantidas – as casas foram cuidadosamente implantadas entre elas.
Edifício-bancada
Centro de treinos do estádio municipal de Aveiro
A versatilidade do uso da construção modular fica patente neste projecto localizado nas imediações do Estádio Municipal de Aveiro e que se constitui como uma estrutura de apoio à prática desportiva, treinos e jogos oficiais para os escalões jovens. O projecto é constituído por quatro campos de futebol, um edifício de apoio aos atletas, bancadas para o público, estacionamentos públicos e restantes equipamentos complementares.
“A solução funcional assenta na clareza dos percursos e na separação inequívoca entre as áreas de acesso do público e as áreas de acesso reservado. Optou-se por compactar o edifício de apoio e as duas bancadas numa única unidade, de forma a optimizar o tempo e o custo de construção, simplificar os percursos públicos e ocupar um menor espaço. Assim, as bancadas são simultaneamente cobertura deste edifício, que alberga todos os compartimentos exigidos pelo Programa.”
O edifício responde às variações altimétricas do terreno, colocado na transição de cotas entre campos este elemento funciona também como contenção do terreno.
A imagem geral do edifício e o seu sistema construtivo estão fortemente interrelacionados. A materialidade do edifício, especificamente o uso de betão na sua cor natural é, para além de uma opção estética também uma medida de poupança.
O recurso à cor é usado intencionalmente onde se pretende criar um forte efeito visual, em particular nas áreas de circulação e simbolicamente para identificar as áreas de acesso público.
4 creches modulares em Lisboa
As freguesias de São Domingos de Benfica, Parque das Nações e Beato receberam as primeiras creches modulares de Lisboa. O concurso lançado pela Câmara Municipal de Lisboa envolvia a concepção/construção para construir quatro creches modulares, num montante de 3 milhões de euros. A proposta vencedora foi construída pela FARICMAR (uma empresa especializada em pré-fabricados de betão) e o projecto de arquitectura foi assinado pelo estúdio Summary.
“Os edifícios propostos baseiam-se na sobreposição de peças em betão armado com secção em forma de “U”, unificadas por uma zona central de painéis simples e cobertas por peças com platibanda incorporada. O esquema funcional é muitíssimo simples: nos módulos em “U”, que compõem os espaços laterais/perimetrais dos edifícios, temos todos os compartimentos principais (salas de actividades, refeitórios, berçários, etc…); na zona central, temos todos acessos verticais e horizontais (corredores, escadas e elevadores)”, descreve.
Emboras os vários edifícios sejam implantados em locais diferentes, aplicou-se a mesma filosofia de implementação para as quatro creches, garantindo a tipificação das soluções técnicas, de forma a acelerar a produção dos módulos em fábrica e o processo de montagem in-situ.