Antigo convento alberga novo Neya Porto Hotel
Situado no antigo Convento da Madre Deus de Monchique, o projecto é do atelier PK Arquitetos, com a colaboração do Coletivo ODD
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O antigo Convento da Madre Deus de Monchique foi recuperado e alberga, agora, um novo projecto hoteleiro. O Neya Porto Hotel contou com projecto da autoria do atelier PK Arquitetos, com a colaboração do Coletivo ODD e assinatura dos arquitectos Francisca Magalhães Ramalho, arquitecta responsável, Sérgio Bernardo, André Almeida e Gonçalo Moreira. A decoração foi um trabalho de continuidade do projecto arquitectónico, em parceria com a decoradora Inês Albuquerque Lima. “A forma de trabalhar integrando as várias vertentes do projeto, fez com que o resultado seja um todo coeso e coerente”.
O edifício situa-se em parte no antigo Convento da Madre Deus de Monchique, nos antigos armazéns industriais e todo este conjunto está a dois passos da Alfândega, na zona do Centro do Histórico do Porto, classificada como Património Mundial da UNESCO desde 1996.
É neste “postal ilustrado da cidade”, no cenário vivo entre o passado e presente que surge este projecto ambicioso. “A adequação à topografia, a naturalidade do uso dos telhados, o controlo da luz natural, o rigor das formas e a materialidade, foram o nosso ponto de partida para este projecto, que se pretende original numa cidade onde a importância da arquitectura é evidente”, explica Francisca Magalhães Ramalho.
A vertente da sustentabilidade e da inovação foram algumas das premissas do projecto, obrigando a que o desenvolvimento do mesmo tivesse sempre em conta os parâmetros da arquitectura sustentável.
Assimm a reutilização de materiais existentes, como a madeira, a pedra e o metal, e a sua readaptação para novas funções foi uma constante ao longo de todo o processo. “Recuperámos telhas dos antigos telhados, pavimentos de madeira do antigo armazém, alguns pilares e vigas metálicas com o carimbo da fábrica de Massarelos e reutilizámos a pedra de granito de paredes que foram demolidas”, explica Sérgio Bernardo.
De forma a reduzir a pegada ecológica, houve sempre a preocupação de utilizar materiais cuja origem fosse próxima do local da obra, recorrendo sempre que possível à indústria nacional.
“Este conceito ficou tão interiorizado que, nas 12 suites, das quais nove são em duplex, dada a morfologia do espaço, desenvolvemos em parceria com 10 indústrias de renome nacional, aquilo que se veio a designar pela “Rotas das Indústrias”, onde se pode apreciar a azulejaria, a porcelana, faiança, tapeçaria, burel, café, chocolate, perfumaria e revestimentos cerâmicos, permitindo desta forma divulgar alguns dos melhores produtos portugueses”, explica Inês Albuquerque Lima.
Ainda no âmbito da inovação aliada à sustentabilidade foi projectada e construída uma cobertura em vidro com características fotovoltaicas, que cobre o espaço da antiga igreja do convento. O vidro mantém uma suave transparência filtrando parte dos raios solares e produzindo energia para o próprio hotel de uma forma limpa e não poluente. Por outro lado, a permanência da luz natural devolve ao espaço a dignidade e o misticismo como uma ruína romântica.
A inovação e a sustentabilidade estenderam-se, ainda, a outras áreas do projecto nomeadamente na recuperação de águas sanitárias para regar os jardins e na utilização de água das nascentes existentes para fazer a refrigeração do ar condicionado.
A abordagem do projecto “foi sempre deixar o existente, a ruína, tendo o claustro sido recuperado e ocupado o espaço que detinha no século XVI, quando era um convento”. Na zona sul do edifício, onde se encontram os antigos armazéns industriais com vestígios da indústria metalúrgica, a equipa aproveitou materiais ainda em bom estado de conservação, não só por questões de sustentabilidade, mas também para criar ambientes que transportam o hóspede para a era industrial.
Em todas as zonas do hotel, uma das grandes prioridades é o contacto com a luz natural, não fosse este o hotel do Porto com a maior frente de rio. Por isso, foram aproveitados os grandes janelões do antigo armazém, foram rasgadas amplas clarabóias, que contrastam com algumas zonas interiores, criando assim interessantes jogos de luzes natural. Só esses contrastes permitem tensões, como a dualidade de espaços amplos e espaços exíguos, conferindo uma complexidade que espelha a passagem do tempo até à contemporaneidade.
“O objectivo foi criar um espaço único, que pelos vestígios arquitectónicos mantidos em equilíbrio com a nova arquitectura do edifício, transportam para as memórias do passado conventual e industrial, que se fundem com o presente urbano”, finaliza Francisca Magalhães Ramalho.