Francisco Horta e Costa, Director Geral da CBRE Portugal
Investimento no segundo semestre deverá chegar a 1MM€
De acordo com a CBRE são esperadas algumas transacções de grande dimensão, já em curso, e que podem levar a estes valores até ao final do ano
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O mercado de investimento em imobiliário em Portugal manteve um forte dinamismo ao longo do primeiro semestre de 2020, mesmo com o impacto visível causado pela pandemia do Covid-19. Tendo em conta a dimensão de algumas transacções actualmente em curso, a expectativa para a segunda metade do ano é de um investimento em imobiliário de rendimento na ordem dos 1.000 milhões de euros. Esta é uma das conclusões da análise do departamento de Research da CBRE, que faz um balanço do primeiro semestre do atípico ano de 2020, fazendo ainda a projecção do mercado até ao final do referido ano.
Francisco Horta e Costa, director geral da CBRE assinala que “neste ano marcado pela pandemia assistimos a um primeiro trimestre forte que assegurou um primeiro semestre record no mercado imobiliário. É evidente que esta força do arranque do ano se vai diluir, impactando um ano que se previa inicialmente muito forte para o sector. No entanto, há muita liquidez para ser aplicada e Portugal continua a estar no radar dos investidores, o que representa uma diferença substancial comparando com crises anteriores. Os investidores nacionais e internacionais estão activos no mercado, há transacções em curso e por isso acreditamos que a performance será, apesar de tudo, muito positiva, atingindo valores de investimento superiores aos verificados nas anteriores crises financeiras.”
Quanto ao imobiliário de rendimento a primeira metade do ano 2020 reportou o valor record de 1.700 milhões de euros transaccionados, valor jamais alcançado no primeiro semestre de anos anteriores.
Metade do volume de investimento reportado foi alocado a activos de retalho, 27% a hotéis e 22% a escritórios. A CBRE destaca três grandes negócios durante este período, nomeadamente a aquisição por parte da seguradora francesa Allianz e do fundo de pensões Finlandês Elo de 50% do Sierra Fund que integra os centros comerciais Colombo, CascaiShopping, NorteShopping e Vasco da Gama; a compra do portefólio de 10 hotéis Real Palácio pelo grupo Palm Invest e ainda um portefólio de 8 edifícios de escritórios pela Cerberus.
Cristina Arouca, directora de Research da CBRE, aponta “existem actualmente algumas transacções de dimensão elevada em comercialização que nos levam a projectar um volume de investimento para o segundo semestre em torno dos 1.000 milhões de euros. Deste modo, no ano de 2020 poderão ser investidos no sector imobiliário de rendimento, aproximadamente 2.700 milhões de euros, posicionando 2020 como o terceiro ano de maior investimento já observado em Portugal. A maioria dos activos são escritórios, mas prevêem-se também transacções de projectos de habitação para arrendamento (built to rent), uma classe de activos com elevada procura nos EUA e na Europa, mais ainda com uma reduzida expressão em Portugal.”
O sector dos escritórios evidenciou no primeiro semestre de 2020 um decréscimo na ocupação de 24% relativamente ao período homólogo de 2019. Embora o surto de Covid-19 tenha contribuído de forma óbvia para esta quebra, foram celebrados alguns negócios, iniciados antes da pandemia, que permitiram assegurar parte da performance deste segmento. Destaque para o arrendamento, por parte do BPI, de 16.500 m2 no Monumental e a aquisição, para ocupação própria, dos edifícios Natura Towers, com 10.500 m2, por parte da Cofidis.
“Espera-se também que algumas transacções de maior dimensão, iniciadas antes do surto de Covid-19, sejam concluídas no terceiro trimestre, o que poderá representar uma ocupação considerável no final do ano. No entanto, a CBRE prevê que a ocupação para 2020 possa rondar os 150.000 m2, evidenciando um decréscimo superior a 20% em relação ano anterior”, evidencia Cristina Arouca.
Também a taxa de disponibilidade aumentou ligeiramente para 6% no final de Junho e a tendência é que se venha a agravar, gradualmente, na medida em que diversas empresas estão a prever adoptar o teletrabalho e irão rever os espaços de escritórios que actualmente ocupam.”
O comércio reporta um mercado a duas velocidades: por um lado os retail parks e o comércio de rua de bairro e, por outro, os centros comerciais e as zonas de comércio prime. Os formatos mais abertos como os retail parks beneficiaram de uma maior procura num contexto de preocupação com o distanciamento social e higienização, revelando um maior acréscimo no footfall. O comércio de rua de bairro foi auxiliado pela confiança, proximidade e pela maior permanência das pessoas nas suas zonas de residência, devido ao teletrabalho. O número de visitantes dos centros comerciais tem vindo a aumentar gradualmente desde o início de Junho, quando foram autorizados a reabrir. No entanto, nos primeiros sete meses do ano evidenciaram uma redução acumulada de visitantes de 38%, face ao mesmo período de 2019. O comércio de rua nos eixos prime, será o mais afectado devido à dependência do turismo estrangeiro. No final de Junho, quando todas as lojas estavam autorizadas a abrir, diversas ainda se encontravam encerradas, devido à Covid-19, nomeadamente no sector da restauração. No entanto, a CBRE, registou, durante o primeiro semestre de 2020, 19 novas aberturas nos principais eixos de Lisboa, e 5 no Porto. Ao longo dos próximos meses prevê-se um acréscimo de disponibilidade de lojas, devido a falências de negócios ou em novos espaços de edifícios cujas obras de reabilitação estavam em curso antes da pandemia.
Refira-se ainda o sector logístico no qual foram ocupados 46.000 m2 no primeiro semestre, um nível de absorção idêntico ao do período homólogo dos últimos dois anos. Apesar de um aumento do comércio online durante o confinamento, não se verificou uma procura relevante por espaços de logística adicionais. Em 2020 vai continuar a não haver nova oferta de promoção especulativa e, ao contrário do que se verifica, de um modo geral, em todas as classes de activos, a procura de espaços de logística aumentou nos últimos meses, impulsionada pelo crescimento do comércio online e da logística de last mile.