FAUP vai estudar conservação da Piscina de Maré de Siza
O primeiro estudo promovido pela norte-americana Fundação Getty em Portugal, e financiado com 100 mil euros, vai permitir não só o estabelecimento de um plano de gestão e conservação do espaço como, também, a criação de uma metodologia potencialmente aplicável a outras obras de Álvaro Siza
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A Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto vai desenvolver um estudo dedicado à gestão e conservação de uma das mais emblemáticas obras assinadas por Siza Vieira: a Piscina de Marés de Matosinhos. A iniciativa, apoiada pela autarquia matosinhense, é promovida pela Fundação Getty que, além de distinguir pela primeira vez uma obra em território nacional, atribuiu um financiamento de 100 mil euros para o desenvolvimento de um plano de gestão e, também, a criação de uma metodologia potencialmente aplicável a outras obras de Álvaro Siza incluídas na lista indicativa do Património Mundial, assim como a obras de arquitectura do século XX em Portugal.
O projecto da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), coordenado por Teresa Cunha Ferreira, para o estudo da gestão e conservação da piscina de Leça da Palmeira, projectada entre 1960 e 1973 enquadra-se no programa ‘Keeping It Modern’ da Fundação com sede em Los Angeles, EUA, dedicado à salvaguarda e preservação da arquitectura moderna a nível global e que este ano tem a sua última edição. O programa ‘Keeping It Modern’ da Fundação Getty recebeu 90 candidaturas em 2020, a mais concorrida e geograficamente mais diversificada edição do programa desde o seu lançamento. Com a dotação global de 1,9 milhões, distinguiu apenas treze projectos, distribuídos por Portugal (Piscinas de Marés), Alemanha, Bulgária, EUA, Países Baixos, Reino Unido, Rússia, Chile, Índia, Kuwait, Nigéria e Senegal.
Plano de gestão “alargado”
O projecto tem a duração de 3 anos e tem como principal objectivo o desenvolvimento de um plano de gestão e conservação, assente na documentação da história, da construção e dos valores patrimoniais do edifício, na implementação de ferramentas digitais de levantamento, inspecção e monitorização, na investigação sobre o diagnóstico e reparação do betão armado, assim como na elaboração de manuais de manutenção e de utilização com vista à sua gestão e preservação futura.
Propõe-se, também, a criação de uma metodologia que possa ser potencialmente adaptada a outras obras de Álvaro Siza incluídas na lista indicativa do Património Mundial, proposta em 2016 pelo Governo Português à UNESCO, assim como a outras obras de arquitectura do século XX em Portugal.
“Trata-se de uma oportunidade única de desenvolvimento de um plano para a gestão e conservação futura desta obra paradigmática no contexto nacional e internacional, e do percurso profissional de Álvaro Siza. Além disso, estando actualmente em curso uma obra de reabilitação da Piscina coordenada por Siza, será possível documentar uma intervenção contemporânea de qualidade e, com a sua pedagogia, desenvolver um plano que respeite os princípios arquitectónicos, a integridade e a autenticidade do edifício”, aponta a coordenadora do projecto. Para Teresa Cunha Ferreira, “este projecto enquadra-se também na temática da salvaguarda, reabilitação e conservação do património do século XX que, apesar do seu reconhecimento internacional, é em Portugal um ‘património em risco’ por se tratar de um legado recente, ainda não suficientemente reconhecido pelo público em geral, mais desprotegido do ponto de vista legal e, muitas vezes, alvo de abandono, de falta de manutenção ou até de intrusiva transformação”.
O projecto alinha-se com a missão da FAUP, e do seu Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo, de promoção da excelência científica e cooperação internacional, e constitui uma das linhas de actuação da Cátedra UNESCO “Património, Cidades e Paisagens. Gestão Sustentável, Conservação, Planeamento e Projecto”, atribuída recentemente à Universidade do Porto através da FAUP.
Prova de reconhecimento
“Para a FAUP, a aprovação do projecto pela Fundação Getty reforça o reconhecimento internacional da qualidade e do carácter inovador da actividade desenvolvida pelos seus docentes e investigadores na área da conservação e reabilitação do património, onde se inclui, naturalmente, o património contemporâneo”, nota o Diretor da FAUP, João Pedro Xavier. Em simultâneo, é também um reconhecimento, não só da arquitetura ímpar de Álvaro Siza, o mais premiado arquitecto português (Prémio Pritzker em 1992), como também do seu legado enquanto professor, hoje jubilado, da FAUP. O estudo será desenvolvido por uma equipa multidisciplinar nas áreas da arquitectura e engenharia, coordenada por Teresa Cunha Ferreira (FAUP) e composta por Rui Fernandes Póvoas (FAUP), Paulo B. Lourenço (Universidade do Minho) e Ana Tostões (IST-Universidade de Lisboa). O projecto contará também com a participação activa do arquitecto Álvaro Siza, do ICOMOS-Portugal, assim como com o apoio da Câmara Municipal de Matosinhos e o apoio institucional da Casa da Arquitectura. O projecto poderá beneficiar ainda da colaboração de outros docentes e investigadores da FAUP, e do envolvimento de especialistas nacionais e internacionais com experiência na temática da conservação da arquitectura moderna (ICOMOS, DOCOMOMO, Getty Conservation Institute, entre outros).
Piscina de Marés
Construída na década de 1960 e inaugurada em 1966, a Piscina de Marés permanece como uma das obras mais emblemáticas do arquitecto Álvaro Siza. Localizada em Leça da Palmeira, destaca-se pela integração harmoniosa na paisagem da costa marítima. Inclui duas piscinas de água salgada, vestiários, balneários, e um bar de apoio, funcionando durante a época balnear, entre Junho e Setembro. Durante todo o ano é possível a realização de visitas guiadas de interesse arquitectónico e/ou técnico, através da Casa da Arquitectura. Em 2011, a obra foi classificada como Monumento Nacional e, em 2017, incluída na lista indicativa do Património Mundial pela UNESCO. Com projecto do arquitecto Álvaro Siza, a Câmara Municipal de Matosinhos deu início em 2019 ao processo de requalificação do conjunto, estando a obra ainda em curso.