Ad quadratum desenha “primeiro hotel 100% acessível” do País
No futuro Hotel de Melgaço, “todo o cidadão que, provisória ou permanentemente, apresente uma qualquer condição à mobilidade ou acesso (entenda-se até acesso à informação) pode usufruir plenamente dos espaços, instalações e serviço”, garante José António Lopes, da ad quadratum, em entrevista ao CONSTRUIR
Ana Rita Sevilha
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O gabinete de arquitectura ad quadratum arquitectos apresentou uma “obra pioneira em Portugal”. Trata-se do futuro Hotel do Peso, o “primeiro hotel 100% acessível a pessoas com mobilidade reduzida no País”, anunciou o escritório de arquitectura.
A unidade hoteleira do Grupo Pinto da Costa & Carriço, vai nascer no local onde hoje estão as ruínas do “Grande Hotel do Pezo”, em Melgaço, construído na segunda metade do séc. XIX. A recuperação do Hotel, adjacente ao Parque e Complexo Termal das Termas de Melgaço, deverá estar concluída dentro de dois anos, e representa um investimento na ordem dos 2,5 milhões de euros.
O projecto de reabilitação é assinado por José António Lopes, da ad quadratum, que em entrevista ao CONSTRUIR, explica os meandros do projecto.
Na prática, o que é um “Hotel 100% Acessível”?
José António Lopes: É uma unidade hoteleira, como o futuro Hotel de Melgaço, em que hóspedes, colaboradores, visitas e todo o cidadão que, provisória ou permanentemente, apresentem uma qualquer condição à mobilidade ou acesso (entenda-se até acesso à informação) podem usufruir plenamente dos espaços, instalações e serviço.
Quais os grandes desafios que este projecto colocou?
Desde logo a relação arquitectónica e ambiental com o contexto onde se insere. A pré-existência de um antigo complexo hoteleiro – agora em ruínas-, considerando edifício principal e adjacentes, bem como a proximidade ao complexo hidrotermal do Peso – (Termas de Melgaço), adensam o muito diverso conjunto de condicionantes de uma qualquer intervenção neste local.
São também de referir os propósitos que o projecto visa, em linha com a ambição de fundar um equipamento hoteleiro, onde a operação, experiência e usufruto observem elevados padrões de qualidade e adequados princípios de sustentabilidade, nomeadamente ambiental.
Trata-se de uma reabilitação e uma ampliação. Em ambos os casos foram introduzidas soluções de acessibilidade?
Todo o complexo edificado observa os mesmos princípios de acessibilidade, vulgarmente designados por “desenho inclusivo”, “para todos” ou “universal”.
Referem que se trata de um “alojamento com características diferenciadoras”. Para além da acessibilidade, o que é que o diferencia dos demais? Que características são essas?
Para além do tema da acessibilidade (que é amplo e por si só muito diferenciador, pois qualifica a experiência a um público muito mais vasto do que os “portadores de deficiência”), a estadia neste complexo oferecerá condições privilegiadas de usufruto do Complexo Termal adjacente, propondo condições dos espaços comuns e unidades de alojamento (área, matérias de acabamento/revestimento, equipamento e qualidade das infra-estruturas, serviço…) orientadas para a conformação de uma experiência de serenidade, relaxamento e descanso em harmonia com a especificidade do ambiente circundante, com os produtos autóctones e com os elementos fundamentais, nomeadamente com o elemento Água, aqui tão diferenciador e significante.
A sustentabilidade é outra das preocupações apontadas. Que soluções foram pensadas?
É um tema que implica uma abordagem holística, transversal a um projecto como este. Desde os princípios gerais da intervenção, na sua relação com o solo (e o subsolo, onde existe o aquífero hidrotermal), ao seu contido impacto volumétrico e dimensionamento geral, na sua relação com o coberto vegetal e com o património edificado, nas opções tomadas sobre materiais construtivos e de acabamento às infra-estruturas mais adequadas para reduzir e reutilizar recursos e energia, ou adoptar as melhores práticas conhecidas para minimizar a “pegada ambiental”, todos integram uma estratégia muito abrangente e comprometida com as mais diversas dimensões da referida sustentabilidade.
Que análise faz à posição de técnicos, decisores e sociedade relativamente à acessibilidade?
A acessibilidade e a mobilidade para todos, está inequivocamente, mas só agora, a fazer parte das agendas políticas dos diferentes níveis de governação. A progressiva consciencialização da relevância destas questões para a observância de direitos constitucionais e de cidadania, mas também para o protagonismo que estas evidenciam no desenvolvimento das economias, motiva muita da atenção que esta problemática tem recentemente sido alvo.
A persistência de condições de má ou insuficiente acessibilidade são problema e responsabilidade de todos e como se sabe um importante factor inibidor do desenvolvimento económico no âmbito de um alargado mercado de usufrutuários dos espaços, bens e serviços – mesmo na perspectiva comercial ou turística-, cabendo por isso prioritariamente aos técnicos, promotores e decisores, convocar estas questões em íntimo envolvimento da sociedade em geral nestes processos, e pelo próprio exemplo, apelar à consciencialização e à mudança de práticas e sensibilidades.
No seu entender o que urge mudar?
Para além do “politicamente correcto”, o generalizado desinteresse das sociedades, técnicos e decisores no que respeita a estas questões é já histórico. Não se pode tratar apenas de melhorar leis, normas ou regulamentos. É preciso que se opere uma verdadeira mudança cultural na forma como são entendidas e reivindicadas as questões da acessibilidade, colocando-as como tema central da equidade e da democracia.
E se para muitos este é um paradigma novo ao nível dos conceitos fundamentais, impõe-se por isso que se encontre sempre a devida tradução prática, nos processos (e projectos) do dia-a-dia, na experiência e participação dos cidadãos, nas políticas e gestão, seja ao nível local, seja nacional.
Nunca é demais relembrar que as questões da acessibilidade e da mobilidade reduzida não são uma preocupação afecta apenas aos deficientes. Mesmo na óptica estritamente económica da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE); crianças ou idosos, acidentados ou portadores de doenças debilitantes, quem transporta bagagem ou um carrinho de bebé, todos, enquanto condicionados na sua mobilidade, devem entender-se como “pessoas portadoras de mobilidade reduzida”, para os quais o meio construído apresenta dificuldades à interacção, sejam ao nível da acessibilidade física, da orientação ou do acesso à informação. Existe por isso um número demasiado elevado, e diga-se, assustadoramente crescente de cidadãos, para quem espaços, edifícios, produtos e serviços prestados pela cidade, apresentam um elevado grau de inadequação às suas necessidades, sejam estas permanentes ou temporárias.
Sobre a unidade hoteleira
O projecto de reabilitação, assinado por José António Lopes, abrange uma área de propriedade aproximada de 11.900 m2 e uma área de construção estimada em 4.500 m2 de ampliação e 1.800 m2 de reabilitação de estruturas existentes.
O projecto, desenvolvido sob o conceito de Hotel-Boutique, será uma unidade hoteleira de 4 estrelas, com cerca de 44 quartos. “Um alojamento de características diferenciadoras, numa filosofia de sustentabilidade ambiental”, conta José António Lopes.