“50% do edificado está potencialmente vulnerável à acção sísmica”
Segundo Romain Sousa, 50% do edificado em Portugal foi construído antes da entrada em vigor da última geração de códigos anti-sísmicos, tornando-se potencialmente vulnerável em caso de ocorrência de um sismo. Neste sentido, este investigador do LNEC, com a sua equipa, apresentou um sistema de classificação de estruturas de edifícios que pretende tornar a avaliação mais expedita, sem deixar de garantir a segurança estrutural das construções em caso de sismo
Pedro Cristino
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Segundo Romain Sousa, 50% do edificado em Portugal foi construído antes da entrada em vigor da última geração de códigos anti-sísmicos, tornando-se potencialmente vulnerável em caso de ocorrência de um sismo. Neste sentido, este investigador do LNEC, com a sua equipa, apresentou um sistema de classificação de estruturas de edifícios que pretende tornar a avaliação mais expedita, sem deixar de garantir a segurança estrutural das construções em caso de sismo
“Estimamos que 50% do edificado é potencialmente vulnerável a uma acção sísmica”, afirmou Romain Sousa durante a sua participação na Semana da Reabilitação Urbana 2017. O investigador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) abordou o tema “Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica de Edifícios: Contributo para uma Estratégia de Certificação Sísmica”, apresentando um sistema de classificação de estruturas de edifícios que recorre a métodos mais simples para tornar a avaliação “mas expedita”, sem deixar de garantir “o aumento de resistência sísmica das estruturas”.
Situação actual
“Em 2014, a reabilitação representava cerca de 6,5% do sector da construção e, de acordo com os Censos de 2011, previa-se que tínhamos 30% do edificado, que corresponde a aproximadamente 1 milhão de edifícios, a necessitar de reparação”, sublinhou o investigador, referindo que estes números terão levado o Governo a desenvolver medidas de estímulo à reabilitação urbana. Todavia, “esse estímulo permitiu que houvesse uma redução das exigências técnicas, nomeadamente ao nível da acústica, térmica, de acessibilidades e a nível estrutural”. Neste sentido, o engenheiro referiu que, com base num estudo recente e nos dados dos Censos, “pelo menos 50% do edificado em Portugal foi construído antes da última geração de códigos anti-sísmicos e, portanto, estimamos que 50% do edificado é potencialmente vulnerável a uma acção sísmica”. Ao ReCONSTRUIR, Romain Sousa explicou que 50% os edifícios são anteriores a 1983, data da última geração de códigos anti-sísmicos e, como tal, não terão sido dimensionados “de acordo com o último regulamento para a acção sísmica”. Assim, “à partida, são edifícios mais vulneráveis que os mais recentes que, em princípio, já estarão dimensionados para a acção sísmica”, refere o engenheiro. Este factor agrava-se, segundo Romain Sousa, se for tido em conta que “os anos 60 e 70, que correspondem ao início da construção em betão armado, foram caracterizados por baixa qualidade de construção”. Neste contexto o investigador recordou a recomendação feita em 2010 pela Assembleia da República ao Governo, para desenvolver uma resolução “que assegurasse a segurança estrutural anti-sísmica nos programas de reabilitação urbana ou a criar”. “Quatro anos mais tarde, fez-se o contrário”, frisou, referindo que, segundo os regulamentos, “as intervenções em edifícios existentes apenas não podem diminuir a segurança estrutural e sísmica”.
Importância e localização
Do ponto de vista de Romain Sousa e da equipa de investigadores que integra, “é importante avaliar os edifícios existentes e, se possível, aumentar a sua resistência sísmica”. Neste âmbito, a opinião geral é que a entrada do Eurocódigo 8 “vai permitir regulamentar e normalizar as avaliações dos edifícios existentes”, contudo, segundo Sousa, “para determinados tipos de estruturas menos importantes, ou localizadas em zonas de menor perigosidade sísmica, poderemos utilizar métodos mais simples, que ajudem a comunidade técnica a proceder a avaliações de uma forma mais expedita e, no entanto, garantindo o aumento da resistência sísmica das mesmas estruturas”. Para tal, os investigadores do LNEC propõem que se considere a tipologia das construções, a perigosidade sísmica do local onde as construções se encontram, a classe de importância da estrutura. No fim da avaliação, a equipa pretende que se classifique o edifício face à sua performance perante a acção sísmica. “Esta classificação prende-se essencialmente a um mecanismo de defesa dos consumidores e de sensibilização social”, refere Romain Sousa, explicando que, ao atribuir uma classificação a uma determinada estrutura, “as pessoas são mais sensíveis” à questão da segurança estrutural dos edifícios. Para delinear esta classificação, os investigadores basearam-se “no que tem sido feito, nos últimos anos, em outras partes do mundo”. Como tal, sabem que “existem métodos mais simples e outros mais complexos” de avaliar as estruturas dos edifícios num contexto de vulnerabilidade sísmica. “Se pesarmos a perigosidade e a complexidade estrutural de uma estrutura numa determinada localização, podemos permitir que uma estrutura pouco relevante em Trás-os-Montes, onde há pouca perigosidade sísmica, possa ser avaliada de uma forma mais simplificada”, salienta Romain Sousa, referindo a não obrigatoriedade de seguir “os procedimentos de avaliação que estão definidos no Eurocódigo – Parte 3 que não são propriamente muito simples”. Por outro lado, “se estivermos em Lisboa, num edifício como um hospital, certamente quereremos utilizar métodos de avaliação mais sofisticados, que permitam aferir com maior fiabilidade o desempenho dessas estruturas”. Assim, os investigadores do LNEC pretedem criar uma estrutura de avaliação “muito simples, que seja muito fácil de utilizar e que permita procedimentos que agilizem a avaliação”. O modelo proposto divide-se em quatro grandes grupos, do mais simples para o mais complexo. “No início processa-se uma recolha de informação sobre o edifício, sobre o seu contexto, e é feita então uma análise preliminar que vai definir o tipo de avaliação estrutural que o engenheiro pode, ou está habilitado, a fazer”, explica Romain Sousa, indicando que, no final desta avaliação, classifica-se o edifício. Na recolha de informação, é definida a classe de importância da estrutura, a acção sísmica a que está sujeita, é feito um levantamento da geometria das condições construtivas e de algumas propriedades dos materiais. Em termos de análise preliminar, o engenheiro considera importante definir a relevância da intervenção. “Se uma pessoa for pintar o edifício, ou fazer uma recuperação da fachada, não fará sentido proceder a uma avaliação estrutural”, ressalva, explicando que “também não faz sentido que se destrua o núcleo de um edifício para manter a fachada e que se pretenda que isso se considere como reabilitação quando, na prática, é construção nova”. “Portanto, queremos definir os critérios para que a intervenção se possa considerar reabilitação ou construção nova”, remata.
Níveis e critérios
Simultaneamente, este grupo de trabalho do LNEC considera que é importante definir, nos critérios de avaliação, se o edifício é regular ou irregular – “um dos pontos-chave no comportamento sísmico da estrutura”. Por outro lado, para estes engenheiros, a tabela que define os níveis de conhecimento sobre as estruturas é “demasiado exigente”. “No nosso ponto de vista, para ter uma avaliação exaustiva não faz sentido proceder a um levantamento de 80% das propriedades dos materiais e de 80% dos elementos – parece-nos insustentável e excessivo”, reforça Romain Sousa. Segundo este engenheiro, no que concerne à acção sísmica, há que considerar “singularidades” como inspecções às fundações, a presença ou não de armaduras lisas ou a acção de edifícios adjacentes. Com base na informação recolhida na análise preliminar, foram estabelecidos quatro níveis de avaliação progressivos, com etapas que “tentam delimitar o caminho e as metodologias a adoptar”. O nível um constitui-se como o mais simples “e vai progressivamente aumentando a exigência e complexidade de avaliação à medida que avançamos para o nível quatro, um nível de avaliação que exige muito detalhe”. Segundo Romain Sousa, os três primeiros níveis são, à partida, utilizados para estruturas mais convencionais. “Edifícios com uma classe de importância inferior, localizados numa zona pouco sísmica, podem ser avaliados através de métodos de nível um – mais simples”, continua o investigador, referindo que, se, por outro lado, “estivermos numa zona laranja [isto é, de maior perigosidade sísmica], podemos utilizar o nível dois ou o três, que têm um critério adicional para a definição do nível de avaliação”. O nível quatro está reservado para estruturas de elevada importância, como um hospital, em zonas de elevada perigosidade sísmica.