Lisboa em altura?
No âmbito da apresentação do Prédio Compave, a vereadora do Urbanismo da câmara de Lisboa, Gabriela Seara, relançou uma discussão sobre a construção em altura na cidade. Limites impostos pelo Plano Director Municipal, a morfologia de uma cidade colinar, bem como vantagens e desvantagens deste tipo de construção foram algumas das questões discutidas durante este… Continue reading Lisboa em altura?
Ana Rita Sevilha
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No âmbito da apresentação do Prédio Compave, a vereadora do Urbanismo da câmara de Lisboa, Gabriela Seara, relançou uma discussão sobre a construção em altura na cidade. Limites impostos pelo Plano Director Municipal, a morfologia de uma cidade colinar, bem como vantagens e desvantagens deste tipo de construção foram algumas das questões discutidas durante este encontro que juntou arquitectos, urbanistas,vereadores, engenheiros e demais profissionais
A construção em altura na cidade de Lisboa voltou a ser tema de discussão entre vereadores, arquitectos, urbanistas e demais profissionais a actuar nesta área. Tendo como mote a apresentação do Prédio Compave, um edifÃÂcio com 105 metros de altura projectado pelo arquitecto catalão Ricardo Bofill, a vereadora do Urbanismo da câmara de Lisboa, Gabriela Seara, promoveu uma discussão sobre a construção em altura em Lisboa de forma a planificar esse tipo de crescimento. Contudo, se vier a ser construÃÂdo, tanto o Prédio Compave como qualquer outro com altura superior a 25 metros, o Plano Director Municipal (PDM) terá de sofrer alterações, uma vez que só permite, por norma, prédios com essa altura máxima, admitindo situações de excepção. Ainda que se encontre em revisão, as excepções àaltura permitida pelo PDM já são algumas, entre elas a aprovação do Plano de Alinhamento de Cérceas para a Avenida da República, que estabelece uma altura média das fachadas de 31 metros, cerca de 10 pisos. Dos 130 edifÃÂcios analisados neste plano, conclui-se que 44 por cento poderia crescer, originando um aumento da edificabilidade na ordem dos 77 mil metros quadrados. Contactados pelo Construir, engenheiros, arquitectos e urbanistas de uma forma geral não se opõem a este tipo de construção na cidade de Lisboa, desde que a mesma seja planeada, nomeadamente na sua adaptação àcidade, isto é, uma vez que a construção em altura aumenta a percentagem de concentração de habitantes numa determinada zona, questões como tráfego automóvel têm de ser consideradas.
As regras da construção em altura
Actualmente em revisão, o Plano Director Municipal (PDM) permite por norma prédios até 25 metros de altura no máximo, aceitando contudo excepções, quando se tratam de edifÃÂcios de autor. Contactado pelo Construir, o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, um dos presentes na apresentação do Prédio Compave, salientou que o facto de Lisboa poder ou não beneficiar com este tipo de construção «depende do Plano Director Municipal», salientando que a revisão do mesmo «não sai porque é necessário não existir, para se poder fazer tudo e de qualquer maneira, como por exemplo o que vai suceder com o projecto da avenida da República». Questionado sobre a apresentação do Prédio Compave, o arquitecto sublinhou que Gabriela Seara «está fora dos problemas actuais de urbanismo, portanto é uma porta aberta a todos os investimentos que possam surgir». A forma como se faz o ordenamento do território em Portugal e especialmente o planeamento das nossas cidades foram outros dos temas focados por Gonçalo Ribeiro Telles, que explicou ao Construir que o PDM «tem de dizer como se constrói , ou como se resolve o problema de uma cidade colinar», salientando que este «deve ter como base a morfologia da cidade». Já Alexandre Burmester afirma não ser «nem contra nem a favor da construção em altura», interessando-se sobretudo se «a lei estará a ser correctamente aplicada». Este é um Plano Director Municipal «desactualizado», acrescenta Gonçalo Ribeiro Telles.
Skyline de baixa estatura
A construção em altura na cidade de Lisboa, prende-se com diversos factores, tais como uma «skyline (linha de céu) baixa e sem grandes variações», uma «morfologia caracterÃÂstica, e um ambiente urbano suportado na rua como elemento estruturante», explicou ao Construir, Diogo Mateus, da Associação Profissional dos Urbanistas Portugueses (APROURB). Segundo o mesmo, a existência de escassos casos em que o edifÃÂcio se eleva acima dos 25 metros, como determina o Plano Director Municipal (PDM), revela «o desenvolvimento urbano tardio que Portugal teve», no entanto, a própria forma urbana da cidade de Lisboa baseia-se na baixa densidade, facto que o mesmo responsável justifica pelas seguintes razões: «Falta de necessidade, o crescimento demográfico do paÃÂs nunca obrigou; existência de áreas suficientes para acolher a população; falta de poder económico, «é mais fácil e barata a construção em dispersão»; e falta de hábito na vivência em altura.» Contudo, a construção em altura é uma questão que pode levantar uma discussão alargada sobre as suas vantagens e desvantagens, e, segundo Diogo Mateus, a capital apresenta alguns problemas quanto a esse tipo de arquitectura, sendo logo àpartida a morfologia do terreno um dos principais entraves, uma vez que a densa ocupação deste tipo de construção deixaria pouco espaço para a criação de avenidas largas que comportem o tráfego esperado. A frente ribeirinha é outro dos factores «desmotivadores para a construção em altura», para além de que crescer em altura origina um aumento de residentes para um mesmo espaço, aumentando consequentemente o número de veÃÂculos, factor que «a cidade já não comporta», na opinião do urbanista. Já o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo, outro dos participantes na apresentação do Prédio Compave, concorda com a construção em altura na cidade de Lisboa, salientando que «um edifÃÂcio alto até poderá representar um motivo de valorização», esclarecendo também que o urbanismo deverá resultar do estudo mais adequado a cada local, pois «se existem zonas da cidade que claramente acentuam a visão da colina, também existem outras em que tal não é percebido». Relativamente às vantagens e desvantagens deste tipo de construção, Fernando Santo refere a «menor ocupação de terreno» como vantagem, especialmente se essa «libertação servir para espaços verdes», e a «desumanização da cidade face àescala humana», o aumento de «riscos em caso de incêndio e os custos de manutenção», como principais desvantagens. Para além destas questões, Fernando Santo salienta que, «pelo seu destaque visual, os edifÃÂcios em altura deverão merecer um maior cuidado no estudo da imagem e do seu impacto». Esta opinião é partilhada por António Fonseca Ferreira, presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT), que também participou na discussão no âmbito do Prédio Compave e que referiu ao Construir nada ter a opor face àconstrução em altura «se for devidamente integrada nas perspectivas, vistas e paisagens e desde que seja para libertar espaço àsuperfÃÂcie».
O projecto em discussão
Com 105 metros de altura, o Prédio Compave foi o motivo que relançou a discussão sobre a construção em altura na cidade de Lisboa. Projectado pelo arquitecto catalão Ricardo Bofill, autor do Atrium Saldanha, se alguma vez for construÃÂdo será erguido ao lado do hotel Sheraton, quase em frente da Maternidade Alfredo da Costa, no centro de Lisboa. Promovido pelo grupo Fibeira, o projecto tem uma área de implantação de cerca de 32 mil metros quadrados e compreende 15 andares de apartamentos, 12 andares correspondentes a um hotel e seis pisos subterrâneos para estacionamento. A sua vizinhança face ao edifÃÂcio do hotel Sheraton, poderá configurar na cidade uma situação urbanÃÂstica semelhante àdas torres gémeas.