«Um arquitecto não faz nada para si próprio»
Paulo Mendes da Rocha acaba de ser galardoado com o Pritzker 2006. Homem simples, protagonista de uma arquitectura simples, diz que não quer ser considerado um arquitecto modernista, apesar de o considerarem como tal. Com 78 anos de idade, entende que este prémio não é seu, mas de todos os arquitectos brasileiros Em entrevista ao… Continue reading «Um arquitecto não faz nada para si próprio»
Ana Baptista
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Paulo Mendes da Rocha acaba de ser galardoado com o Pritzker 2006. Homem simples, protagonista de uma arquitectura simples, diz que não quer ser considerado um arquitecto modernista, apesar de o considerarem como tal. Com 78 anos de idade, entende que este prémio não é seu, mas de todos os arquitectos brasileiros
Em entrevista ao Construir, o mais recente laureado com o Prémio Pritzker fala da arquitectura brasileira, das cidades, da importância do galardão que acabou de receber e da sua forma de projectar. No entanto, reserva-se a falar de si.
O que significa para si este prémio? Eu espero que seja um prémio que venha confirmar um interesse pelo que os arquitectos brasileiros estão a fazer. Quer isto dizer que este prémio é para todos nós. É uma espécie de atenção para com o modo como reflectimos os problemas contemporâneos da cidade.
Acha que no seu percurso tem marcado a arquitectura ou tem feito algo de diferente ou de irreverente que o levasse a receber este prémio? Não. É quase impossÃÂvel fazer um esforço para fazer algo de diferente. A grande dificuldade é desenvolver o mesmo tipo de situação de um modo novo. As escolas, as estações de metro, as gares dos comboios, os mercados, as praças já se constróem há muito tempo. A graça do nosso mundo é que novo só mesmo nos. No fundo são tudo fenómenos da mesma natureza. Aquelas pedrinhas empilhadas do neolÃÂtico já eram construções com o que homem podia sonhar.
Já eram formas de fazer arquitectura, àmaneira deles? Não é a forma como eles faziam arquitectura, mas como nós as fazÃÂamos naquela época.
O que é para si fazer arquitectura? Acima de tudo é assumir responsabilidades de um intelectual que acaba por ser um privilegiado na sociedade. As escolas são sustentadas pela República e estão a dar-nos um aval para que nós fiquemos parados a estudar, a pensar e a ser intelectuais. Logo temos responsabilidade de fazer algo que represente o desenho de todos nós. Um arquitecto não faz nada para si próprio.
Quando projecta, quais são as suas maiores preocupações? Fazer tudo de um modo a que qualquer homem do povo, qualquer criança possa ler com nitidez, que seja comovente mas nada de espantoso.
Considerem-no um modernista. Concorda com essa definição do seu trabalho? Eu preferia não concordar porque é uma palavra que sugere estilo. Um homem é sempre moderno na sua época e nesse sentido uma visão moderna surge logo com Galileu, com Colombo e não neste ou naquela década do século XX. Não gostaria de ser modernista. Aliás, prefiro não abraçar qualquer tipo de definições ou moda da época.
Considera então que não faz arquitectura de um determinado tipo mas simplesmente arquitectura? Apesar de ser arquitecto, primeiro tenho de me considerar como um homem livre. Portanto nem mesmo um profissão pode prender-me. Hoje mato com veneno e depois com flecha e depois não mato mais. (risos)
Há algo a que dê mais importância? À forma, aos materiais… Nunca se sabe o que se vai fazer e todos esses ingredientes devem ser oportunos em cada caso.
Disse numa entrevista que se sentia influenciado pelos ÃÂndios brasileiros, pelos africanos e pelos portugueses. Porquê? Nós, brasileiros, estamos envolvidos nessa situação através de factos históricos que já se deram. Somos fruto desta terra onde as culturas se misturam. Estamos todos num pequeno planeta.
Como vê as cidades brasileiras? Precisam de profundas transformações. Estão muito mal construÃÂdas. E por isso é que é importante este apoio àarquitectura, como o Pritzker, para ajudar a passar a ideia de que a arquitectura é importante na transformação de toda essa polÃÂtica.