Ateliê àlupa – Arq. Inês Lobo – «A arquitectura não pode ser individual»
Tem ateliê próprio desde 2002, mas os primeiros passos foram dados com o arquitecto Carrilho da Graça, com quem desenvolveu, entre outros projectos, a Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa. Gosta de trabalhar com outros arquitectos e acredita que o individualismo na arquitectura é «um mito» Inês Lobo falou de arquitectura, de projectos, da… Continue reading Ateliê àlupa – Arq. Inês Lobo – «A arquitectura não pode ser individual»
Ana Baptista
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Tem ateliê próprio desde 2002, mas os primeiros passos foram dados com o arquitecto Carrilho da Graça, com quem desenvolveu, entre outros projectos, a Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa. Gosta de trabalhar com outros arquitectos e acredita que o individualismo na arquitectura é «um mito»
Inês Lobo falou de arquitectura, de projectos, da dificuldade de se ter um ateliê em nome prórprio, de sustentabilidade, e ainda do estado das nossas cidades.
Construir: Como foi o seu percurso pessoal até chegar a este ateliê? Inês Lobo: Entrei na faculdade de arquitectura do Porto, onde fiz o primeiro ano e depois fiz vim para a faculdade de arquitectura de Lisboa, onde no último ano, fui aluna do arquitecto Carrilho da Graça Acabei por ficar a trabalhar com ele durante oito anos. Depois disso abri um ateliê com o arquitecto Pedro Domingos, que durou até 2002, ano em que abri este em nome próprio.
Como foi o trabalho com o arquitecto Carrilho da Graça? Foi óptimo e extremamente importante. Quando acabamos o curso não temos condições para ser arquitectos e exercer a actividade profissional, e por isso é essencial haver uma experiência longa antes. Ainda hoje trabalho com ele e é um ateliê onde é possÃÂvel fazer uma grande aprendizagem. Ele dá-nos a possibilidade de participar em todas as fases do projecto e perceber quais são os factores determinantes na actividade profissional. Consegue definir alguma marca arquitectónica na sua forma de projectar? Não, e nem sequer estou preocupada com isso. Isso é algo que alguém exterior a nós define, se tiver de definir, apesar de estarmos sempre a falar das mesmas coisas e a referir os mesmos temas.
Em que se inspira para fazer arquitectura? A arquitectura é uma resposta a problemas. O nosso objectivo é tentar entender da melhor forma qual é o problema que nos é colocado e a partir daàreunir uma equipa interdisciplinar que consiga dar a resposta mais completa possÃÂvel a esse problema. Essa é a questão fundamental actualmente. É óbvio que a arquitectura é também uma actividade artÃÂstica, mas uma pessoa nunca intervém sozinha.
Fazem parcerias regularmente? Não. Trabalhamos muitas vezes com o arquitecto Carrilho da Graça, com quem neste momento estamos a fazer um edifÃÂcio de habitação em Madrid. O nosso objectivo é ter um ateliê pequeno e quando faço parcerias não é para aumentar a estrutura do ateliê mas sim para trabalhar com outras pessoas e ter contacto directo com outras experiências e formas de encarar a arquitectura.
Não considera então a arquitectura um trabalho individual? Não, e não acho que isso seja possÃÂvel actualmente. Uma das caracterÃÂsticas do ateliê é que trabalhamos sempre com os mesmos especialistas: o arquitecto paisagista João Gomes da Silva e a AFA Associados. A resposta a um projecto de arquitectura tem de ser global e interdispciplinar, nunca pode ser individual. Isso é um mito. O que os arquitectos têm de fazer é coordenar estes saberes todos porque não temos nenhum em especial. O grande problema actualmente é que, mesmo que eu gostasse de ter um ateliê com mais algumas pessoas, as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) dificilmente sobrevivem em Portugal. A nossa economia não está montada para elas, apesar de achar que as PMEs são fundamentais para o crescimento da nossa economia, mas como não temos ajudas nenhumas é uma luta diária para aguentar isto. A única hipótese que temos de sobrevivência, é trabalhar com menos pessoas e elas trabalharem imenso, o que não é justo nem o ideal.
Que projectos é que tem feito? Quando comecei a trabalhar com o arquitecto Pedro Domingos a maior parte dos trabalhos que tÃÂnhamos derivavam de concursos, mas a partir de uma certa altura começaram a aparecer trabalhos privados, o que é óptimo, porque não temos de estar sempre a investir sem saber se vamos ou não ganhar. Actualmente, ganhámos há pouco tempo um concurso para o departamento de ciências do desporto da faculdade de Coimbra e estamos com os trabalhos privados, como por exemplo a sede para uma produtora de filmes de publicidade, que consiste na remodelação de dois armazéns em Lisboa; ou um projecto de recuperação de um edifÃÂcio para residência dos padres da Ordem de São João de Deus, no Telhal. Estamos ainda a trabalhar para o Bom Sucesso, em Óbidos, a fazer remodelações em alguns espaços do Palácio da Ajuda e a recuperação da Rua Dona Maria II, no Cacém, no âmbito do Polis.
Prefere os concursos ou trabalhar com privados? São situações muito diferentes. Gosto muito de fazer concursos, porque temos de fazer algo num tempo curto, de forma muito intensa e para o qual é preciso parar um pouco. Quando são concursos para entidades públicas, o cliente é mais organizado e dá mais espaço para trabalhar, mas é sempre mais abstracto, não há uma relação tão directa. Com um privado cria-se uma relação que é muito gratificante. Em Portugal, as pessoas que decidem fazer um projecto com um arquitecto fazem-no com grande empenho porque não é habitual.
Como é trabalhar no estrangeiro? Depende de para onde se vai. Por exemplo, trabalhar em Madrid é muito semelhante a Portugal, o processo não é brilhante e não se constrói com muita qualidade, há certa tendência para construir barato. Em Berlim, onde participei no projecto da embaixada de Portugal, é tudo bastante mais organizado. Na Alemanha o projecto é acompanhado pelas autoridades competentes, há uma série de reuniões, actas dessas reuniões e quando o projecto se entrega já está aprovado.
Tem-se falado muito em sustentabilidade. Têm essa preocupação nos vosso projectos? Trabalhamos em todos os nossos projectos com um engenheiro fÃÂsico, que conjuga a acústica, a térmica e a luz natural. Um dos grandes objectivos da sua inclusão nos projectos tem a ver com a optimização dos edifÃÂcios. Mas a arquitectura sustentável não apareceu só agora, aliás, não há arquitectura mais sustentável que a arquitectura tradicional e a boa arquitectura sempre teve uma consciência em relação a isso.
E acha que as construtoras estão bem preparadas para responder àsustentabilidade? Acho que isso tem mais a ver com os promotores do que os construtores. Eles é que têm de estar mais ou menos sensibilizados para isso.
Qual o maior papel do arquitecto em relação às cidades? Diagnosticar e perceber aquilo que tem em mãos e a forma mais interessante de o transformar. Um arquitecto deve ser cada vez mais crÃÂtico e interveniente. Um arquitecto não pode dar resposta a programas errados e a nossa obrigação é tentar inverter esse processo.
Ficha Técnica Nome – Inês Lobo Morada – Calçada Marquês de Abrantes, nº40, r/c esq 1220-719 Lisboa Telefone – 213 958 155/6 Fax – 213 960 465 E-mail – www.ilobo.pt URL – ilobo@ilobo.pt
Nota do Director: A arquitecta Inês Lobo agendou por três vezes uma sessão de fotografia que ilustraria este artigo. Das três vezes não compareceu, num completo desrespeito pelos profissionais desta redacção e pelos nossos leitores. Em 47 edições ininterruptas desta rubrica «Ateliê àLupa» nunca tal acontecera. Lamentável!