Casa cheia para no Centro Cultural de Belém a propósito do 1º congresso da APPC
“A resposta terá de ser mais industrializada e digital”
Uma profícua jornada de reflexão. O primeiro Congresso promovido pela Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores teve inúmeros méritos, o maior dos quais colocar boa parte dos principais players do mercado a pensar num cenário comum, do qual são não apenas parte interessada mas também grandes impulsionadores: processos mais digitais, materiais mais industriais e sustentáveis para que o produto final seja uma verdadeira mais-valia
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As conclusões de Pedro Siza Vieira, o presidente do 1º Congresso da Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores, sobre os trabalhos realizados na jornada de reflexão, que decorreu no Centro Cultural de Belém, espelham bem a tónica do dia de trabalhos e reflectem um conjunto de preocupações para as quais importa obter respostas: os desafios que empresas de Engenharia e Arquitectura têm pela frente, obrigam a mudanças significativas. “Portugal deve muito à engenharia, à construção, à arquitectura. É todo um sector que sempre deu muito ao país e onde podemos desenvolver competências e capacidades, num momento em que nos preparamos para um nível de investimento muito significativo, num conjunto de infraestruturas que vão ser muito importantes para o nosso futuro, que vão acabar de nos dar coesão interna, que vão conseguir ligar nos ao mundo por via aérea, por via marítima, por via de telecomunicações, de dados e de informação que agora temos novos desafios para responder, onde precisamos de construir dezenas, centenas de milhares de fogos para responder a um problema de habitação muito crítico”, explicou Pedro Siza Vieira.
Homenagem aos projectistas
Para o antigo ministro da Economia, que aceitou o convite endereçado pela APPC como forma de homenagear os projectistas que tanto têm prestigiado o País, mesmo em contextos complexos que obrigaram a aliar conhecimento e saber fazer, “não basta cumprir o programa, é necessário ir mais além, apresentar novas soluções”. “O sector vai ter de mudar, desde logo para responder aos critérios de sustentabilidade. Os quadros comunitários de financiamento vão apertas as regras e não haverá verbas disponíveis para projectos que não respondam aos requisitos da União Europeia”, acrescenta o jurista, apontando a critérios que passam pela sustentabilidade ambiental, pela certificação. “Não estamos apenas a falar de um selo, estamos a falar de transformação de processos que percorram toda a cadeia de valor até ao produto final”. Para Siza Vieira, o projecto tem necessariamente de fazer parte desta equação e, para tal, há todo um quadro que importa desmistificar e que valoriza, de sobremaneira, o critério preço. “O custo inicial não pode ser determinante. É essa a ideia que, cada vez mais, importa desmistificar, com a valorização a recair sobre todo o ciclo de vida da própria edificação”, refere. “O produto terá de ser mais eficiente enquanto produto acabado”, admite Siza Vieira, assegurando que “vamos ter de responder a uma forma mais digital, mais industrializada, a formas de contratação mais globais”. Mas, alerta o antigo ministro, “o atraso que as empresas levam nesta nova realidade pode retirar-lhes margem de manobra”. Para o presidente do Congresso da APPC, “é hoje evidente que as empresas vão necessitar de outro tipo de conhecimentos e de recursos humanos mais qualificados para responder às necessidades cada vez mais emergentes do lado da procura”.
Para o presidente do Congresso da APPC, “é hoje evidente que as empresas vão necessitar de outro tipo de conhecimentos e de recursos humanos mais qualificados para responder às necessidades cada vez mais emergentes do lado da procura”
Reforçar competências
Para Inés Ferguson, presidente da Federação Europeia de Associações de Consultoria de Engenharia, “o sector de consultoria em engenharia em Portugal está bem ciente da profunda transição pela qual estamos a passar e da necessidade de reforçar as nossas competências e a nossa proposta de valor para fornecer serviços mais digitais e mais ecológicos”. Ferguson, que participou também na jornada de trabalhos promovida pela APPC, defende que “o primeiro passo é reconhecer isso, abraçar novas tecnologias e modelos digitais para proporcionar valor. Se conseguirmos fazer isso, penso que há um futuro muito promissor para a nossa indústria ao impulsionar a mudança económica e ser muito relevante no aumento da competitividade da nossa economia”. No entender de Ferguson, “temos o desafio da falta de competências, conhecimento e capacidade. Precisamos de trabalhar nisso. Mas penso que os engenheiros estão muito bem posicionados para abraçar estas novas áreas de conhecimento, integrá-las na sua formação técnica e ser capazes de fornecer uma visão muito boa do caminho a seguir para a nossa economia. Por isso, estou confiante de que a nossa indústria se tornará cada vez mais relevante nos próximos anos”.
Construção da própria sociedade
Ao CONSTRUIR, a ministra da Habitação acredita que a necessidade de mudança vai muito além da transformação do sector e implica “mudanças na forma como construímos a própria sociedade”. “Quando falamos em sustentabilidade, digitalização, inovação, esses são factores importantes para o sector em si. Mas é também importante que estejam presentes no que construímos enquanto país, na capacidade de contribuir para a descarbonização, de contribuir para a digitalização e garantir uma maior eficácia no que fazemos. Ao mesmo tempo, sermos parte activa na garantia de novos projectos, de novas modalidades, de construção, de novas realidades”, acrescenta Marina Gonçalves. Questionada sobre o papel dos parceiros públicos nesta transformação, a ministra da Habitação explica que “há várias dimensões de trabalho que nos é devida. Discutimos ao longo dos últimos meses a questão da simplificação do licenciamento, a importância do BIM, de incluirmos alguma digitalização e modernização do trabalho das entidades públicas com a construção de uma plataforma comum que, na verdade nos vai permitir ter procedimentos comuns e ter alguma uniformização do que é exigido, além de clareza do que é pedido ao sector”. E acrescenta: “Temos, depois, uma segunda dimensão que é a contratação publica. Temos de ser capazes de garantir que esta mudança, estas novas formas de construção, devem também ter uma resposta nos contratos públicos”. Para Marina Gonçalves, “a capacitação, nesse caso, parte das próprias entidades publicas, não apenas do ponto de vista legal mas da sua capacitação”. Há depois uma outra dimensão, que é o da capacitação do sector no sentido de continuar a investir, a atrair para o nosso País novos profissionais. Só assim o sector será capaz de aceitar os desafios que só existirão se houver investimento”.
Discurso não tem reflexo na prática
Para Miguel Saraiva, “a sustentabilidade deixou de ser um factor único porque juntámos à parte da sustentabilidade ambiental a parte económica e social. Isso tornou o tema da sustentabilidade num assunto muito transversal, o que não acontecia há mais de 10 anos”. O CEO da Saraiva e Associados garante ao CONSTRUIR, à margem do primeiro painel do Congresso, que “a necessidade de haver uma actualização da parte de todos é evidente. Contudo, entre as instituições esse passo é mais demorado. As organizações levam mais tempo a actualizar-se e a melhorar os seus procedimentos do que as próprias empresas”. No entender do arquitecto, “isso provoca que haja uma diferenciação entre o que é o discurso e a prática profissional dentro do sector”. No entender de Miguel Saraiva, “nós somos desafiados pela encomenda, seja privada ou publica, a seguir determinados caminhos, e quando chegamos a meio do percurso esbarramos ora no custo, ora no tempo, ora mesmo no financiamento”. Isso, explica ainda, “condiciona imenso o desenvolvimento a nível da sustentabilidade. Voltamos atrás e regressamos às praticas consolidadas e tradicionais. Há aqui uma vontade que não se consubstancia com a realidade”. Para o arquitecto, “o mercado nacional está já num patamar bastante evoluído. Contudo, precisamos de legislar mais e criar mais benefícios àqueles que abraçam este tema seja por via fiscal ou por via da aprovação mais rápida. Têm de se criar veículos que sejam catalisadores do compromisso que abraçámos”. Autor, entre outros, do projecto da sede da Polícia Judiciária ou da construção de uma unidade hoteleira na Estação de Santa Apolónia, Miguel Saraiva alerta, também, para a importância de se olhar para o potencial da aglutinação ou fusão entre empresas da área de projecto. “Este é um tema pouco querido, sobretudo entre os arquitectos, mas a escala pode ser qualidade”, avança o arquitecto. “Se não tivermos esta iniciativa de criar parcerias muito vinculativas, dentro de 20 ou 30 anos queremos fazer um projecto de arquitectura em Portugal e temos de o ir buscar fora do País. O nível de responsabilidade que temos ao nível do projecto é enorme, é desproporcional à nossa remuneração e à nossa exposição”, refere, sublinhando que “temos de criar estruturas muito sólidas para responder aos novos desafios do mercado, nos seus diferentes níveis e não apenas ao nível da sustentabilidade Sem responder muito bem a estes desafios, nas suas mais variadas faces, vamos ser esmagados”.
No entender de Ferguson, “temos o desafio da falta de competências, conhecimento e capacidade. Precisamos de trabalhar nisso. Mas penso que os engenheiros estão muito bem posicionados para abraçar estas novas áreas de conhecimento, integrá-las na sua formação técnica e ser capazes de fornecer uma visão muito boa do caminho a seguir para a nossa economia”
Congresso assinala “dia histórico”
“É um dia histórico para a APPC com a realização deste Primeiro Congresso, que contou com uma adesão que superou as nossas expectativas iniciais, mostrando assim que o sector está cada vez mais unido não só nas preocupações que partilha, mas também nas soluções que procura para o presente e futuro”, explica o presidente da Associação. No entender de Jorge Nandin de Carvalho, “estamos em tempos muito desafiantes, com bastante trabalho pela frente, mas com carência de recursos humanos e sem capacidade para reter talentos e consolidar as equipas. Olhamos para um sector em que as revoluções foram múltiplas e, muitas vezes, fomos apanhados de surpresa. No entanto, estamos preparados para o futuro, com um plano estratégico que pretende abraçar todas as empresas do sector de consultoria ligadas à construção para que tenhamos um peso cada vez maior junto das entidades públicas e com efeitos cada vez mais positivos para a sociedade”, refere Nandin de Carvalho.