Lisboa inspira «Intervenções na Cidade»
A Trienal de Arquitectura de Lisboa lançou um desafio à população para apresentar propostas de intervenções que transformassem vazios urbanos em espaços de uso público. Das 140 propostas recebidas […]
Ana Rita Sevilha
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A Trienal de Arquitectura de Lisboa lançou um desafio à população para apresentar propostas de intervenções que transformassem vazios urbanos em espaços de uso público. Das 140 propostas recebidas o júri escolheu 15 que serão expostas em painéis espalhados pela cidade durante o evento. O Construir dá-lhe a conhecer algumas delas, num trabalho que continua na próxima edição
"Incentivar um debate alargado sobre espaços urbanos de Lisboa com potencialidade de serem requalificados em benefício de um uso público ou de carácter colectivo", foi o objectivo da Trienal de Arquitectura de Lisboa e da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos, quando lançaram, no início do ano, uma proposta a todos os cidadãos, desde que com a coordenação obrigatória de um arquitecto, desafiando-os a apresentarem propostas de requalificação para espaços da capital portuguesa. "Intervenções na Cidade" foi o nome dado ao concurso de ideias que reuniu cerca de 140 propostas, das quais o júri do concurso, que contou com a presença dos arquitectos Ricardo Aboim Inglez, Ricardo Bak Gordon, Manuel Graça Dias e Pedro Bandeira, seleccionou quinze. Entre as propostas seleccionadas encontram-se as mais variadas ideias, desde uma porta giratória para a Praça de Espanha, até uma piscina a céu aberto para a Lapa, ou mesmo novos quarteirões para as Avenidas Novas.
Intervenções pontuais
A proposta apresentada pelos Moov foi uma das seleccionadas. De acordo com os arquitectos que compõem este gabinete, a ideia de participarem no concurso surgiu de um conjunto de factores, tais como o tema dos "Vazios Urbanos", a possibilidade de participarem na Trienal de Arquitectura, e o "carácter inovador do concurso – que configura literalmente a cidade como lugar de exposição e debate". A escolha recaiu sobre a Praça da Alegria, e a proposta sobre a criação de um ECO-Kit, "um dispositivo adaptável e móvel que se pode implementar e deslocar conforme as necessidades", com o objectivo de transformar vazios urbanos em territórios produtivos. Este dispositivo é composto por elementos estruturais sobre os quais se podem montar diversos módulos que permitem captar energia solar, eólica, de água ou mesmo como suporte de espécies vegetais, reclamando desta forma a atenção para as questões de sustentabilidade. A criação de uma "sala de chuto" em frente à Assembleia da República foi a proposta de Paulo Moreira e Diogo Matos, que a caracterizam como "uma construção simples e serena para um programa controverso". Desenvolvendo-se ao longo de cinco pisos, a "sala de chuto" pretende integrar os toxicodependentes na sociedade através de um edifício espelhado que permite aos seus utilizadores contemplar a cidade sem que sejam vistos do exterior. Ivo Martins apresentou uma proposta de carácter escultórico, uma porta giratória para a Praça de Espanha, no lugar do "Arco Triunfal" existente. Numa Europa sem fronteiras, e num contexto de desenvolvimento urbano sem limites, a porta giratória de Ivo Martins faz uma alusão ao movimento e ao espaço de transição que a Praça de Espanha representa, através de uma porta que está sempre aberta, conseguindo simultaneamente estar sempre fechada. O interesse pelos vazios urbanos como potenciais espaços públicos levou a que dois amigos de longa data participassem no concurso. Pedro Castro e Pedro Ribeiro juntaram-se e por "um feliz acaso" descobriram a zona da Lapa. Por questões de incompatibilidade desenvolveram o projecto da forma inversa, primeiro chegaram à ideia e depois foram à procura de um sítio onde a mesma "encaixasse bem". Foi assim que descobriram um lote vazio na Rua da Belavista à Lapa, e a partir daí desenvolveram o projecto de acordo com as potencialidades do lugar. A proposta foi a de um equipamento público, uma piscina olímpica a céu aberto, enquadrada pelas empenas dos edifícios laterais e que se articula com a rua através de um plano relvado inclinado.
Liberdade criativa
Apesar de todas partirem do mesmo tema e de uma forma ou de outra tentarem colmatar e solucionar o mesmo problema, as várias propostas foram também de dimensões espaciais diferentes. Desde intervenções mais pontuais, houve também quem alargasse mais o perímetro da sua intervenção e apresentasse propostas que pensam na integração e requalificação da cidade, mas a uma escala um pouco maior. "O interesse de intervir sem grandes limitações (…) aliado ao facto de termos liberdade no que respeita à informação a apresentar sobre o projecto" foram duas das razões que levaram João Albuquerque a participar no concurso de ideias "Intervenções na Cidade". O concurso permitia "por em prática temas e interesses que desenvolvemos anteriormente na prática académica", sublinha o arquitecto. João Albuquerque propôs uma reinterpretação da praça de Santa Apolónia. Em declarações ao Construir o arquitecto explicou o porquê da escolha daquele lugar. "Escolhemos o largo em frente a Santa Apolónia por ser um espaço que obrigatoriamente, por toda a relevância histórica que detém, apela por alguma dignidade que de momento se encontra menosprezada". De acordo com João Albuquerque, esta vontade de reinterpretar a praça de Santa Apolónia foi o resultado de "uma clareza geométrica do lugar (o facto de ser quase um quadrado) e a sua desorganização funcional (circulação pedonal e rodoviária, táxis, estacionamento)". João Albuquerque sublinha ainda que, "no actual paradigma da cidade europeia, temas como o abandono dos centros históricos bem como a questão da mobilidade versus sustentabilidade têm embargado a capacidade de atingir respostas satisfatórias, deixando a cidade refém da complexidade do problema". É neste contexto que, para o arquitecto, se insere a estação de Santa Apolónia, onde as exigências ferroviárias foram absorvendo o espaço disponível. No entanto, o mesmo também concorda que, "é cada vez mais consensual a necessidade de uma oferta forte e integrada de transportes em metrópoles como Lisboa que atingiram o ponto de saturação das soluções rodoviárias". Santa Apolónia configura para o autor da proposta um potencial nó de uma grande rede, "um nó que sirva também para reanimar o tecido urbano adjacente". Nesse sentido, a proposta passa por criar um espaço "espaço lúdico, assimétrico, topográfico e ao mesmo tempo funcional para resolver as solicitações do lugar.
Avenidas renovadas
O crescimento ilimitado da cidade, a densificação das periferias e a desertificação dos centros foi o problema equacionado na proposta de Tiago Freire e Tiago Rodrigues, que como resposta apresentaram uma ocupação de quarteirões interiores das Avenidas Novas. A dupla de arquitectos propôs a ocupação de logradouros, a construção de percursos alternativos e a apropriação de espaços quase invisíveis ao quotidiano da cidade para conter o crescimento da mesma. "Para quê crescer por fora quando se precisa e pode crescer por dentro?". Foi esta a questão que motivou o desenvolvimento da proposta que visa inverter este processo. Quanto ao local, as Avenidas Novas, a dupla de arquitectos revelou que a sua escolha se prendeu com a "escala, desenho e estado actual (…) que apresenta todas as potencialidades para renascer como exemplo desta densidade nova". Sofia Henriques, Bruna Parro, Madalena Caiado e Maria Madalena Sêrro optaram pela apropriação da antiga Fábrica de Gás da Matinha, entre a Expo'98 e o futuro bairro do Braço de Prata, requalificando-a e potenciando as suas formas industriais. Para esta equipa de arquitectas, este lugar gera uma "descontinuidade da cidade – um grande vazio urbano no território". A proposta pretende resolver "um conjunto de questões, principalmente de carácter público e colectivo, que não têm sido atendidas nesta parte da cidade". Nesse sentido a equipa projectista propôs a criação de um parque sustentável que incentiva a actividades de carácter público e colectivo e de apoio quotidiano à população. Salvaguardar os gasómetros, património arquitectónico industrial, propondo um uso em aberto para actividades efémeras foi outra das características desta intervenção. Formalmente e propositadamente semelhante à Casa da Música de Rem Koolhaas foi a proposta de Pedro Dias e Pedro Pereira. Desta forma, os arquitectos tentam reclamar a atenção sobre um espaço central, o Largo Duque de Cadaval no Rossio, que segundo o autor da proposta, se encontra degradado, fragmentado e com carências ao nível da qualidade arquitectónica. "A solução, contemplada nesta proposta, passa pela colocação neste praça (…) de um equipamento que se afirme tanto no contexto local da Baixa como no da cidade em geral, que seja motivo de paragem, de deslocação propositada, que atraia pessoas a este espaço e que utilize o potencial das vistas únicas sobre a cidade como isco". Segundo os arquitectos, "o que este largo necessita é de um edifício marcante e afirmativo, um edifício referência que preencha de certa forma este vazio urbano, vazio de alma e identidade, vazio de referência". Rodolfo Reis, David Abondano e Kenzo Yamashita escolheram a rua Costa do Castelo e apelidaram a sua intervenção de "Arquitectura de Ausência". "A eleição desta rua não foi "difícil de tomar, situa-se num dos bairros mais interessantes da cidade, numa rua com uma importante dinâmica em todos os períodos do dia", explicaram os arquitectos ao Construir. A proposta é a de um novo acesso ao castelo, e a criação de um anfiteatro e de uma galeria de arte, tendo como preocupação a criação de um diálogo "natural com a riqueza espacial que proporciona". Estas são algumas das propostas que contemplam as quinze escolhidas pelo júri do concurso de ideias, e que durante a Trienal de Arquitectura de Lisboa, que inicia a 31 deste mês, vão estar espalhadas pela cidade de Lisboa em painéis expositivos no lugar para o qual foram imaginadas.
* O Construir apresenta-lhe, na próxima edição, as restantes propostas seleccionadas no âmbito do concurso de ideias "Intervenções na Cidade", integrado na Trienal.